terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Campos dos Goytacazes: há ou não há um conflito agrário em curso?


Nas idas e vindas dos últimos dias, a situação dos acampamentos e assentamentos iniciados pelo MST está no centro das atenções e matérias jornalísticas.  De um lado há os que apontam a existência de um conflito agrário, enquanto outros negam isso.

Mas primeiro vamos às primeiras coisas. A região Norte Fluminense, onde o município de Campos dos Goytacazes está incluso, possui condições efetivas para a existência de um conflito agrário? Se levarmos o nível de concentração da terra (um dos maiores do Brasil), a presença de uma forte herança autoritária, a presença do MST e outros movimentos sociais que preconizam a necessidade da reforma agrária em contraposição à presença de grandes proprietários de terra, e também pelo fato do município de Campos ser um local de forte reincidência de casos de trabalho escravo, a resposta é um sonoro sim.

Além disso, há que se lembrar que nos últimos 10 anos um número importante de mortes de  lideranças, e mesmo de assentados sem ligação políticas,  vem ocorrendo nos acampamentos e assentamentos. A coisa só não tomou a proporção que está tomando hoje porque ninguém da proporção política do Cícero Guedes havia sido assassinado antes. Mas se for feita a conta, veremos que outras mortes ocorreram e continuam até hoje sem nenhum tipo de apuração. Aliás, desconheço que sequer existam investigações em curso.

Agora, se o Ministério do Desenvolvimento Agrário fizesse um mínimo de esforço para que as apurações fossem transferidas para a Polícia Federal, ai talvez tivéssemos um desvelamento do processo de conflito que existe. E notem que eu disse talvez.

Finalmente, alguém poderia se perguntar se eu sei do que estou falando. Bom, depois de 15 anos de pesquisas dentro dos assentamentos existentes em Campos, dissertações e monografias orientadas, livros e artigos publicados, eu acho que tenho alguma noção da realidade. E a realidade que eu vejo é de, por um lado, uma heroica resistência de acampados e assentados para poderem produzir e viver dignamente e, de outro, um total abandono por parte do Estado, o que permite a violência contra quem só quer poder trabalhar e alimentar as suas famílias e a todos nós.