Hoje se completam 125 anos desde que o Estado brasileiro formalizou o fim da escravidão humana no país. O final formal da escravidão não impediu, contudo, que milhares de seres humanos continuem sendo escravizados do Oiapoque ao Chui. E, pior, a imensa maioria dos negros que não mais sofrem sob os grilhões da escravidão legalizada continuam sendo brutalizados por um status quo que lhes nega direitos humanos básicos.
As recentes cenas de pessoas sendo assassinadas por forças policiais e carregadas como meros sacos de batata para impedir a apuração dos fatos é como uma repetição macabra interminável de um desrespeito que jamais foi devidamente corrigido, visto que a Lei de Terras de 1850 vedou a propriedade da terra para negros e índios. Na inexistência de um verdadeiro processo de reforma agrária, o que sobrou aos negros foi, na maior parte dos casos, viver em verdadeiros guetos instalados nas cidades brasileiras.
Para piorar, até nas áreas mais pobres que os negros brasileiros está lhe sendo permitido viver. É que em função dos mega-eventos esportivos, as remoções estão ocorrendo nas principais capitais brasileiros, num processo que se reveste de uma nova forma de espoliação da qual os negros brasileiros são as maiores vítimas.
Essa situação toda é agravada pela falta de uma resposta que ultrapasse os limites das políticas compensatórias que apenas estão criando a sensação de que a iniquidade e a humilhação imposta secularmente aos negros está sendo cessada. Ledo engano. A verdade é que, por detrás da oposição consentida, sobrevive uma forma de segregação racial e econômica que deixa os negros brasileiros como eternos párias de uma sociedade dominada por uma minoria branca que é completamente insensível à necessidade de se romper com o passado escravocrata. O recente exemplo da legislação que confere direitos às empregadas domésticas é lapidar de como a mentalidade do senhor de escravo permanece viva, mesmo no meio daqueles que se pretendem ser defensores de uma sociedade mais justa e democrática.
Mas uma coisa é certa: todo 13 de Maio serve como lembrança de algo que a imensa maioria dos brasileiros aprendeu a esquecer. Pelo menos que sirva para alguns de nós saiamos de nossa postura letárgica para dizermos a quem quiser ouvir (ou ler) que o Brasil é sim um país fortemente racista que tem o elevador de serviço como monumento da desigualdade. Pode não ser muito, mas já é alguma coisa. Assim não corremos o risco da ilusão providencial da igualdade racial ficar incólume.
E como já disse no passado, o Brasil precisa de pessoas como Rosa Parks e Malcom X para que possamos avançar e superar o nosso passado e presente escravocratas.