terça-feira, 21 de maio de 2013

Porto do Açu: enclave ou exclave?


Um dos aspectos que sempre me incomodou na visão de "desenvolvimento" oferecida pelo Grupo EB(X) e sus acólitos é que a visão que nos ofereciam do paraíso econômico era claramente a de que um enclave teria que ser construído para tanto, nem que fosse necessário arrancar de suas propriedades centenas de famílias que ali viviam há diversas gerações. Essa noção distorcida de desenvolvimento nunca me convenceu, pois sei que enclaves tem sempre uma vida difícil, especialmente nas relações com seus vizinhos.


Mas o que é um enclave? Em Geografia Política, um enclave é um território com distinções culturais e sociais cujas fronteiras geográficas ficam inteiramente dentro dos limites de um outro território estrangeiro. Pode ser simultaneamente um exclave caso seja um território legal ou politicamente ligado a outro território ao qual não está fisicamente contíguo. 

Aqui é preciso então dizer claramente que mega-empreendimentos como o do Porto do Açu são enclaves de tipo especial, pois aparecem como o produto de uma combinação de interesses entre corporações econômicas (Grupo EB(X)) e os eventuais ocupantes do aparelho de Estado (Sérgio Cabral, Júlio Bueno, Carlos Minc).  E o interessante é que os teóricos da Geografia Política ainda terão de vir com um termo específico para este tipo de enclave, pois este está ligado não a outro território, mas a agentes financeiros globalizados.

Por isso mesmo, todas as idas e vindas desse enclave precisam ser relacionadas ao que está acontecendo dentro da Economia globalizada. Aqui não se trata apenas dos desvios de personalidade deste ou daquele personagem, mas como toda a cadeia de interesses econômicos torna figuras centrais em marginais, e vice-versa.

Apesar de qualquer vaticínio final sobre o Porto do Açu ser difícil (exatamente por causa do que foi dito acima) é certo que os perdedores de hoje continuarão perdedores amanhã, e que o empreendimento dificilmente terá o tamanho que aparecem nas maquetes de hoje. 

E quando falo de "perdedores", estou falando dos agricultores e pescadores que tiveram suas vidas devastadas (aliás, a CODIN continua desapropriando terras no Açu!), os trabalhadores das empresas que estão agora no olho da rua da amargura, e os fornecedores que estão com papagaios na mão esperando pelo pagamento daquilo que forneceram. Para esses não haverá salvação através do BNDES ou de outras linhas de financiamento oficial. Este tipo de generosidade com o dinheiro público só é reservado para os "players" que se aproveitam de oportunidades desse momento especulativo da economia brasileira para vender sonhos que virarão pesadelos para quem estiver no caminho de suas fábricas de ilusões.