quinta-feira, 16 de maio de 2013

Brasil 247: Cabral submerge como perdedor da maratona


Ao incentivar radicalização do líder do PMDB Eduardo Cunha, que lhe deve obediência, governador do Rio de Janeiro bate outra vez de frente com presidente Dilma Rousseff; não se sabe se Sergio Cabral discorda dos termos da MP ou se apenas buscou atrapalhar o governo por uma questão paroquial: a candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão, em 2014, que não decola frente aos favoritos Anthony Garotinho, do PR, e Lindbergh Farias, do PT; Rio virou canteiro de obras graças a convênios liberados por Dilma.

247 – Um político poderia, com um telefonema e poucas palavras, ter evitado a maratona de quase 24 horas em que se transformou a sessão de aprovação da MP do Portos, na Câmara Federal. O nome dele é Sergio Cabral, o governador do Rio de Janeiro que bancou a eleição para líder do PMDB do deputado Eduardo Cunha e avaliza -- ou veta --, todo e qualquer movimento de seu pupilo. No caso, apesar dos apelos públicos da presidente Dilma Rousseff pela aprovação da MP, Cabral incentivou Cunha para agir na direção contrária da base aliada e foi monitorado pelo líder sobre cada movimento executado.

A divergência explicitada por Cabral contra Dilma, por meio da agressiva atuação de Cunha, tem um fundo de conteúdo nebuloso. Não se sabe se o governador, efetivamente, diverge dos termos da MP, o que justificaria eticamente a sua oposição, ou apenas procurou atrapalhar politicamente a presidente por interesse paroquial.

Sem direito a reeleição, o governador do Rio faz uma arriscada aposta na candidatura de seu vice, Luiz Fernando Pezão, à sua sucessão em 2014. Este, porém, não decola nas pesquisas de opinião, lideradas pelo ex-governador Anthony Garotinho (PR) e pelo senador Lindbergh Farias (PT). Desde que o PT, como era esperado, resolveu apoiar a candidatura de Lindbergh, Cabral começou a jogar duro com a presidente. O primeiro movimento foi uma carta da seção fluminense do PMDB com um veto a Lindbergh, o que provocou irritação e desdém no PT.

O segundo gesto se consumou agora. Ao dar suporte para a atuação de Cunha contra a MP, Cabral mostrou que contrapartida é um verbete que não parece constar de seu dicionário político. Apesar de ser um dos maiores beneficiários de convênios milionários patrocinados pelo governo federal, cujas verbas transformaram o Estado num verdadeiro canteiro de obras (http://rj.transparencia.gov.br/receitas/convenios), ele trombou com Dilma num momento estratégico para ela. À medida em que, apesar de todo o desgaste provocado na base aliada, a MP dos Portos passou como o governo queria, Dilma saiu-se vitoriosa, e Cabral pode ser visto como grande derrotado nos bastidores da maratona.