Ao incentivar radicalização do líder do PMDB Eduardo Cunha, que lhe deve obediência, governador do Rio de Janeiro bate outra vez de frente com presidente Dilma Rousseff; não se sabe se Sergio Cabral discorda dos termos da MP ou se apenas buscou atrapalhar o governo por uma questão paroquial: a candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão, em 2014, que não decola frente aos favoritos Anthony Garotinho, do PR, e Lindbergh Farias, do PT; Rio virou canteiro de obras graças a convênios liberados por Dilma.
247 – Um político poderia, com um telefonema e poucas palavras, ter evitado a maratona de quase 24 horas em que se transformou a sessão de aprovação da MP do Portos, na Câmara Federal. O nome dele é Sergio Cabral, o governador do Rio de Janeiro que bancou a eleição para líder do PMDB do deputado Eduardo Cunha e avaliza -- ou veta --, todo e qualquer movimento de seu pupilo. No caso, apesar dos apelos públicos da presidente Dilma Rousseff pela aprovação da MP, Cabral incentivou Cunha para agir na direção contrária da base aliada e foi monitorado pelo líder sobre cada movimento executado.
A divergência explicitada por Cabral contra Dilma, por meio da agressiva atuação de Cunha, tem um fundo de conteúdo nebuloso. Não se sabe se o governador, efetivamente, diverge dos termos da MP, o que justificaria eticamente a sua oposição, ou apenas procurou atrapalhar politicamente a presidente por interesse paroquial.
Sem direito a reeleição, o governador do Rio faz uma arriscada aposta na candidatura de seu vice, Luiz Fernando Pezão, à sua sucessão em 2014. Este, porém, não decola nas pesquisas de opinião, lideradas pelo ex-governador Anthony Garotinho (PR) e pelo senador Lindbergh Farias (PT). Desde que o PT, como era esperado, resolveu apoiar a candidatura de Lindbergh, Cabral começou a jogar duro com a presidente. O primeiro movimento foi uma carta da seção fluminense do PMDB com um veto a Lindbergh, o que provocou irritação e desdém no PT.
O segundo gesto se consumou agora. Ao dar suporte para a atuação de Cunha contra a MP, Cabral mostrou que contrapartida é um verbete que não parece constar de seu dicionário político. Apesar de ser um dos maiores beneficiários de convênios milionários patrocinados pelo governo federal, cujas verbas transformaram o Estado num verdadeiro canteiro de obras (http://rj.transparencia.gov.br/receitas/convenios), ele trombou com Dilma num momento estratégico para ela. À medida em que, apesar de todo o desgaste provocado na base aliada, a MP dos Portos passou como o governo queria, Dilma saiu-se vitoriosa, e Cabral pode ser visto como grande derrotado nos bastidores da maratona.