Parece que os últimos acontecimentos no Porto do Açu estão enevoando o raciocínio daqueles que apoiam acriticamente o empreendimento. A verdade é que o aparecimento de demonstrações de ira aos que até bem pouco tempo ousaram criticar as claras contradições entre as promessas e o que estava sendo entregue serve também como termômetro de que a realidade finalmente chegou até para os mais irredutíveis dos Eiketes (ou se preferirem Eike boys). Até ai tudo, pois o choro é livre.
Agora tentar imputar aos críticos a insensibilidade e o riso com a desgraça alheia é, no mínimo, falta de argumento. No meu caso essa coisa nem me abala, pois como meu pai foi metalúrgico por quase 30 anos e, por isso, esteve envolvido na construção de dezenas de fábricas no Brasil inteiro, eu sei bem o que se passa nas famílias dos trabalhadores desempregados. Aliás, como meu pai morreu precocemente em função de vários problemas associados à vida insalubre a que estão expostos os "peões" de obra, sei que as doenças ocupacionais e os dramas que se seguem não são motivo para riso de ninguém. No entanto, quando meu pai foi enterrado após participar da construção de mais de 20 indústrias em todo o território brasileiro, não vi nenhum empreiteiro ir lá prestar homenagem pelos anos duros de trabalho que ele lhes ofereceu. A única homenagem que eu conheço ao meu pai está no alto forno da COSIPA em Cubatão onde o nome dele está numa placa. E só isso!
Entretanto, onde estavam os que hoje se contorcem pela situação calamitosa em que o Porto do Açu se encontra quando centenas de famílias eram expulsas de suas terras, tinham suas casas e plantações destruídas? Onde estavam estes que hoje apontam o dedo raivoso para os críticos? Com certeza não estavam prestando assistência e solidariedade aos que foram desabrigados e humilhados. O mais provável é que estivessem nos coquetéis "boca livre" que eram promovidos pelo Grupo EB(X) para que a imprensa local só falasse coisas boas, e se omitisse completamente no que estava (e está) sendo feito contra agricultores e pescadores humildes que habitavam o V Distrito de São João da Barra (Aqui!).
E uma nota de cuidado aos que tentam pintar um cenário promissor para o segundo semestre. Acho que seria bom olhar para os indicadores do comércio internacional. A situação do valor das commodities e o descenso do interesse chinês pelos bens minerais brasileiros não apontam exatamente um cenário positivo para o Porto do Açu. A ver.