segunda-feira, 16 de abril de 2012

Princípio de conflito no norte de Minas revela urgência da Reforma Agrária
Da Página do MST


Os movimentos da Via Campesina (MST, MAB e CPT) vêm por meio deste expressar a necessidade de uma audiência pública que será realizada no próximo dia 12 de abril de 2012 na cidade de Jequitaí (MG). A audiência será realizada em caráter de urgência devido ao conflito que está estabelecido no município de Jequitaí entre as famílias do acampamento Novo Paraíso do MST e o latifúndio da região.

Este está atuando através da presença de jagunços na Fazenda Correntes há mais de 15 dias, ameaçando as famílias que lutam pelo seu direito à terra, procurando impedir qualquer processo de desapropriação das muitas terras improdutivas no município.

A fazenda Correntes, pertence a família Azeredo, já foi palco de denúncias de trabalho escravo, de milícias armadas, sendo que a própria polícia federal já realizou busca e apreensão na fazenda, encontrando armamento pesado de uso do exército que estava sendo utilizado pelas milícias. A fazenda está abandonada e não possui qualquer tipo de produção.

Há quatro anos ela tinha sido ocupada por trabalhadores e trabalhadoras do MST - e desocupada logo na sequência. A fazenda já foi vistoriada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e há um processo de desapropriação em andamento.

Hoje em dia, há jagunços fortemente armados na sede da fazenda. Ficam entre a sede da fazenda, no galpão, na antiga usina, na mata ao redor da sede e perto do acampamento Novo Paraíso, que existe há seis anos e ocupa a área da fazenda Ferroligas. Neste acampamento moram aproximadamente 80 famílias que transformaram a antiga fazenda abandonada em uma comunidade onde se produz alimentos e onde existe uma escola de primeiro a quinto ano onde estudam turmas de Educação para Jovens e Adultos.

Na madrugada desta terça-feira (10), por volta de uma hora da manhã, Policiais Militares de Pirapora estiveram no acampamento, ao chegarem com sirenes desligadas, fortemente armados, de forma muito truculenta e ameaçando as famílias, caso elas viessem a ocupar a fazenda Correntes ou fizessem qualquer outra ação no município.

O tenente que não quis revelar seu nome, afirmou que a PM está disposta a defender a fazenda Correntes para que esta não seja ocupada por famílias do MST. Mesmo sem mandato judicial, o tenente ameaçou prender as lideranças do MST que questionaram fortemente a sua presença no local. Viaturas continuaram durante a madrugada na fazenda Correntes durante o dia.

Na mesma noite um morador da cidade de Jequitaí que passava pela fazenda Correntes e sofreu ameaças ao ser abordado por quatro carros Blazers por ser acusado de ser Sem Terra. Este morador conseguiu convencer que não faz parte do MST e foi liberado em seguida. 

Por estes motivos o MST juntamente com a Via Campesina está organizando uma audiência pública no dia 12 de abril, para denunciarmos a violação de direitos dos Atingidos pela Barragem do projeto Jequitaí da CODEVASF, os massacres ocorridos há dezesseis anos em Eldorado dos Carajás e a o latifúndio improdutivo chamado Fazenda Correntes.

Rememoramos em mais uma Jornada Nacional pela Reforma Agrária do mês de Abril os 21 Sem Terra que foram assassinados e os 69 que ficaram gravemente feridos em Eldorado dos Carajás, assim como os massacres de Felisburgo, onde 5 trabalhadores Sem Terra foram mortos dentro do próprio acampamento.

Também denunciamos a execução de três trabalhadores Sem Terra no Triângulo Mineiro este ano e outros dois em Pernambuco. E assim poderíamos lembrar do massacre de Corumbiara e de outros tantos que aconteceram que se escondem atrás da injustiça e do manto da impunidade. Temos grande receio que aqui, em Jequitaí, possa se repetir mais um triste massacre.

Também exigimos que haja uma busca imediata na fazenda Correntes para investigar os fortes indícios de jagunços armados ameaçadores das vidas dos Sem Terra da região do Norte de Minas.