Desde que eu comecei a acompanhar o processo de construção do Complexo do Açu eu já ouvi muita narrativa estranha sobre fatos que ocorrem por lá. Mas o material abaixo que vem do blog do Prof. Roberto Moraes é, sem dúvida alguma, o mais estranho de todos. Afinal, o que se vê é a declaração de trabalhadores que ganharam salário para simplesmente não fazerem nada. Como multinacional que se preza esfola o trabalhador e arranca dele tudo o que pode e o que não pode, saber de uma que pagou sem extrair toda a mais-valia é algo inédito. Aliás, bota inédito nisso
Algumas pistas são dadas pelo Prof. Roberto Moraes em sua postagem, e todas parecem válidas. Vá lá, me chamem de cético, mas nesse caroço tem mais angu. Afinal, fica difícil entender o pagamento de 4 messes de salários onde os trabalhadores ficaram parados.
Finalmente, será que o Eike Batista que isso estava ocorrendo, enquanto bilhões de reais de seu conglomerado (melhor dizendo dos contribuintes brasileiros que chegaram nas contas do Grupo EB(X) através do BNDES) iam para a fogueira do mercado de ações?
A estranha participação da Acciona no projeto do Açu
Já falamos aqui no blog, desde a greve de abril (veja aqui e aqui) que muitos trabalhadores vinham reclamando que foram contratados e ficavam sem trabalhar. A reclamação deles é que sem trabalhar ganhavam menos do que esperavam porque podiam com as horas extras.
Outros trabalhadores disseram ao blog que tinham informações que a Acciona ganhava globalmente e não por medição de serviços realizados. Era estranho ouvir e aceitar estas informações. Também se ouvia reclamações sobre os apontamentos e controle das horas extras por parte do RH da empresa. Agora a matéria do Ururau (veja abaixo) desta tarde que monitorou a saída de trabalhadores do Maranhão que estavam contratado pela Acciona aqui no Açu, confirmam o que já havíamos comentado.
Convenhamos que esta conta não fecha e nem “adiciona” nada. Ou não?
Outra estranheza que o blog ainda não assimilou foi a reunião feita no campo do Goytacaz na última quarta-feira em que os 1.600 trabalhadres da Acciona que moram em Campos e região foram convocados para receberem as garantias da empresa e do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil do Norte e Noroeste Fluminense, sobre a garantia dos seus contratos e salários, mesmo ficando em casa por um período ainda não definido, que poderá ser de 30 dias.
Estranho uma reunião convocada para um estádio de futebol. Mais estranho ainda é que a reunião visava repassar aos mesmos a garantia de que poderiam ficar em casa recebendo normalmente os seus salários.
O blog apurou ontem e soube que a reunião foi convocada pelo sindicato, mas, com a anuência e concordância da empresa Acciona.
O blog tem sido contactado por alguns jornalistas e assessores de imprensa de empresas que querem entender os desdobramentos e as últimas decisões no Açu, especialmente no estaleiro da OSX.
Fica evidente o papel chave da espanhola Acciona em todo este processo. Não é muito claro a relação da Acciona com o grupo EBX.
A Acciona começou a prestar serviço para a OSX e LLX a partir da contratação do equipamento Kugira para fazer blocos de concreto para o terminal TX-2. Assim, se instalou no Porto do Forno em Arraial do Cabo. Logo depois, no segundo semestre do ano passado, a Acciona veio e se instalou no Açu, onde ultimamente tinha cerca mais de 2,5 trabalhadores contratada para diversas atividades de construção.
Depois o blog ouviu de mais de uma fonte que o grupo EBX teria oferecido participação da empresa no estaleiro e/ou porto do Açu. A suspensão das atividades da Acciona é um desdobramento da tentativa de renegociação do contrato com a OSX/LLX. Mas, há algo estranho no ar com estes procedimentos.
Outra empresa espanhola a FCC também está chegando com um contrato de R$ 1 bilhão para construir 2,5 quilômetros de diques no Terminal TX-1 do Porto do Açu, devendo trazer os primeiros dos noves blocos de concreto da Espanha para o Açu até o final deste semestre.
Haveria relação entre estas questões? Só o tempo dirá, mas, há uma grande inquietação entre investidores que colocaram dinheiro no empreendimento, gerentes das empresas do grupo EBX, trabalhadores e a comunidade. Vamos continuar acompanhando o que está em curso que possa explicar estranhezas pouco comuns quando se trata de dinheiro e lucro. Ou não?
Desde já o blog abre espaço para que as Assessorias de Imprensa da OSX, LLX, Acciona e FCC possam se manifestar.
Abaixo o blog reproduz matéria do site de Notícias Ururau. Os grifos são nossos:
“Funcionários da Acciona voltam para casa: 'Nem sei onde fica o Açu'”
Dezenas de funcionários da empresa Acciona, contratada pela OSX, empresa do grupo EBX para atuarem em um dos canteiros de obras do Superporto do Açu e estavam alojados em pelo menos duas pousadas no Farol de São Tomé, desembarcaram na tarde desta sexta-feira (10/05), em uma agência bancária no bairro da Lapa, em Campos.
Os trabalhadores, em sua grande maioria do estado do Maranhão, contaram que saíram de Farol no final da manhã desta sexta, em um ônibus fretado pela empresa e foram ao escritório da mesma darem baixa nos documentos. De lá vieram para Campos, onde chegaram por volta das 16h, onde segundo alguns funcionários, irão receber os últimos encargos.
Os tramites estariam dentro da normalidade, não fosse o fato estranho de a maioria dos trabalhadores nunca terem exercido a função para qual foram contratados e muitos deles nunca terem sequer pisado no canteiro de obras, ou mesmo saber onde fica o Açu.
O carpinteiro Flávio Benise, contou que chegou em janeiro deste ano, vindo do Maranhão, mas nunca chegou a exercer a profissão. “Não sei por que nunca trabalhei. Eles me contrataram, me alojaram em uma pousada no Farol, me pagaram, mas eu nunca trabalhei”, relatou o maranhense.
Assim como Flávio, Antônio Castro Gomes também revelou nunca ter pisado em solo sanjoanense. “Nunca fui ao Açu, nem sei onde fica. Recebi meu pagamento, às vezes com atraso, as vezes em dia, mas recebi. Só ficou faltando o mês de abril que eles disseram que vai entrar na conta na segunda feira. Toda semana eles perguntavam quem se alguém queria ir embora, quem iria ficar. Eu até queria ficar, mas acabou que estou indo”, contou o servente que nem chegou a trabalhar e foi dispensado.
Dentre os entrevistados, somente o pedreiro Francisco da Silva conheceu e atuou nas obras do porto. “Vim do Maranhão em janeiro e trabalhei no mês de março e abril. Estou indo embora mas não tenho do que reclamar.”
Os trabalhadores estão sendo supervisionados por funcionários da Acciona, que não estavam autorizados a passar informações à imprensa. Eles disseram ainda que devem retornar de ônibus para o Maranhão, no final da tarde.”