À beira de colapso, continuamos a consumir como se não houvesse amanhã.
Marcos Pedlowski, Artigo publicado no número 238 da Revista Somos Assim
Apesar de governos e grandes corporações econômicas se negarem a admitir, já existem evidências científicas suficientemente testadas que apontam no sentido de que o atual modelo econômico, baseado no paradigma do crescimento infinito, está levando a Humanidade à beira de um colapso ambiental e social. Um dos elementos com o qual a maioria da comunidade científica concorda é que a dependência dos combustíveis fósseis para alavancar o paradigma do crescimento está simplesmente se tornando cara demais. Além disso, no caso das reservas de petróleo, aliado ao alto custo da exploração das reservas existentes em águas profundas, há o problema dos acidentes, como o ocorrido recentemente em poços da multinacional Chevron, que causam danos irreparáveis ao ambiente e às comunidades que dependem dos recursos naturais existentes nos oceanos para garantir o seu sustento.
Mas se não faltam evidências científicas e econômicas, por que então governos e corporações continuam insistindo em um modelo claramente insustentável, e que nos leva à beira do precipício? A primeira possível resposta é que, ao contrário do que querem nos fazer crer os economistas, o mercado não segue uma lógica racional. Se fosse assim, as mudanças que são claramente necessárias para evitar o colapso da civilização humana estariam sendo protagonizadas por aqueles que detêm a maior parte da riqueza gerada a partir da Revolução Industrial. Mas é justamente o oposto que se vê, pois são os pobres, normalmente aqueles segmentos que são desprovidos de seus territórios, que estão na linha de frente da defesa dos ecossistemas naturais e dos serviços que os mesmos nos prestam.
Este aparente paradoxo apenas serve para demonstrar que não há nada de lógico nas ações do mercado. Quando muito, o que existe é uma vontade irracional de acumular mais riqueza nas mãos de uns poucos, ainda que isto custe a própria continuidade da civilização humana tal como nós a conhecemos. Aliás, os efeitos da ação irracional das elites sobre a sustentação de grandes impérios existentes no passado já foram demonstrados de forma eloquente pelo biólogo Jared Diamond em seu livro intitulado "Colapso". O argumento apresentado por Diamond é que, se formos analisar os motivos que levaram as antigas civilizações a simplesmente entrarem em colapso e desaparecem, invariavelmente encontraremos como causa o uso desequilibrado de determinados recursos. Neste sentido, toda vez que se vislumbra uma suposta crise ecológica que estaria ocorrendo na Terra, o que deveríamos estar enxergando é a crise do atual modelo civilizatório.
Mas existe ainda a chance de que possamos nos desviar do precipício? Essa pergunta vem encontrando todo tipo de resposta entre os membros da comunidade científica mundial. Mesmo os cientistas mais otimistas vislumbram um cenário onde não nos resta muito tempo para evitarmos que o castelo de areia seja tragado por alguma onda trazida pelo aumento do nível dos oceanos que deverá acompanhar o derretimento das geleiras terrestres. Aliás, há que se frisar que os últimos cálculos feitos sobre a elevação do nível dos oceanos já apontam que várias regiões metropolitanas do mundo irão submergir, tal como já está acontecendo em Veneza.
Para piorar ainda mais a situação, o atual cenário da economia mundial, cujo ponto nevrálgico é atualmente a quase completa falência de várias economias dentro da União Europeia, está levando a que os seus causadores apliquem as mesmas receitas de cura através da busca por novas formas de alavancar o crescimento econômico. Em função disto, não há muita disposição por parte de governos e corporações em dar atenção (e recursos financeiros) para aqueles que estão se concentrando na busca de soluções inovadoras para os grandes problemas que deverão agravar a crise ambiental nas próximas décadas.
Aliás, se olharmos o cenário brasileiro, tais como as últimas decisões do Congresso Nacional em relação ao Código Florestal e à demarcação de terras indígenas, veremos que o caminho ora sendo seguido contribuirá inevitavelmente para o aumento dos problemas sociais e ambientais no território brasileiro. Se adicionarmos a isto as potenciais repercussões que serão trazidas pela implantação de diversos megaempreendimentos de infraestrutura e logística em diferentes regiões brasileiras, teremos um cenário onde todos os eventuais ganhos com as exportações de commodities agrícolas e minerais terão contribuído para gerar um ônus ambiental que passará em muito os ganhos econômicos. O mais trágico disto tudo é que este tipo de receita pró-colapso está sendo aplicada como se fossemos ter finalmente a superação das desigualdades e tensões que forem iniciadas no momento em que os conquistadores portugueses chegaram por aqui no Século XVI
Aos mais céticos em relação aos cenários de catástrofe que estão aqui sendo anunciados, a sugestão que fica é que se informem mais e de forma mais qualificada. O fato é que se não houver uma reação urgente que nos permita vislumbrar uma saída para a crise em que estamos imersos, a chance é que a realidade que as futuras gerações irão enfrentar será bem mais dura do que aquelas profetizadas nos filmes de ficção científica criados em Hollywood.
Mas se não faltam evidências científicas e econômicas, por que então governos e corporações continuam insistindo em um modelo claramente insustentável, e que nos leva à beira do precipício? A primeira possível resposta é que, ao contrário do que querem nos fazer crer os economistas, o mercado não segue uma lógica racional. Se fosse assim, as mudanças que são claramente necessárias para evitar o colapso da civilização humana estariam sendo protagonizadas por aqueles que detêm a maior parte da riqueza gerada a partir da Revolução Industrial. Mas é justamente o oposto que se vê, pois são os pobres, normalmente aqueles segmentos que são desprovidos de seus territórios, que estão na linha de frente da defesa dos ecossistemas naturais e dos serviços que os mesmos nos prestam.
Este aparente paradoxo apenas serve para demonstrar que não há nada de lógico nas ações do mercado. Quando muito, o que existe é uma vontade irracional de acumular mais riqueza nas mãos de uns poucos, ainda que isto custe a própria continuidade da civilização humana tal como nós a conhecemos. Aliás, os efeitos da ação irracional das elites sobre a sustentação de grandes impérios existentes no passado já foram demonstrados de forma eloquente pelo biólogo Jared Diamond em seu livro intitulado "Colapso". O argumento apresentado por Diamond é que, se formos analisar os motivos que levaram as antigas civilizações a simplesmente entrarem em colapso e desaparecem, invariavelmente encontraremos como causa o uso desequilibrado de determinados recursos. Neste sentido, toda vez que se vislumbra uma suposta crise ecológica que estaria ocorrendo na Terra, o que deveríamos estar enxergando é a crise do atual modelo civilizatório.
Mas existe ainda a chance de que possamos nos desviar do precipício? Essa pergunta vem encontrando todo tipo de resposta entre os membros da comunidade científica mundial. Mesmo os cientistas mais otimistas vislumbram um cenário onde não nos resta muito tempo para evitarmos que o castelo de areia seja tragado por alguma onda trazida pelo aumento do nível dos oceanos que deverá acompanhar o derretimento das geleiras terrestres. Aliás, há que se frisar que os últimos cálculos feitos sobre a elevação do nível dos oceanos já apontam que várias regiões metropolitanas do mundo irão submergir, tal como já está acontecendo em Veneza.
Para piorar ainda mais a situação, o atual cenário da economia mundial, cujo ponto nevrálgico é atualmente a quase completa falência de várias economias dentro da União Europeia, está levando a que os seus causadores apliquem as mesmas receitas de cura através da busca por novas formas de alavancar o crescimento econômico. Em função disto, não há muita disposição por parte de governos e corporações em dar atenção (e recursos financeiros) para aqueles que estão se concentrando na busca de soluções inovadoras para os grandes problemas que deverão agravar a crise ambiental nas próximas décadas.
Aliás, se olharmos o cenário brasileiro, tais como as últimas decisões do Congresso Nacional em relação ao Código Florestal e à demarcação de terras indígenas, veremos que o caminho ora sendo seguido contribuirá inevitavelmente para o aumento dos problemas sociais e ambientais no território brasileiro. Se adicionarmos a isto as potenciais repercussões que serão trazidas pela implantação de diversos megaempreendimentos de infraestrutura e logística em diferentes regiões brasileiras, teremos um cenário onde todos os eventuais ganhos com as exportações de commodities agrícolas e minerais terão contribuído para gerar um ônus ambiental que passará em muito os ganhos econômicos. O mais trágico disto tudo é que este tipo de receita pró-colapso está sendo aplicada como se fossemos ter finalmente a superação das desigualdades e tensões que forem iniciadas no momento em que os conquistadores portugueses chegaram por aqui no Século XVI
Aos mais céticos em relação aos cenários de catástrofe que estão aqui sendo anunciados, a sugestão que fica é que se informem mais e de forma mais qualificada. O fato é que se não houver uma reação urgente que nos permita vislumbrar uma saída para a crise em que estamos imersos, a chance é que a realidade que as futuras gerações irão enfrentar será bem mais dura do que aquelas profetizadas nos filmes de ficção científica criados em Hollywood.