A QUEDA DE UM FLAMBOYANT E SUAS LIÇÕES SOBRE OS DESAFIOS PARA CONSTRUÍRMOS UMA SOCIEDADE AMBIENTALMENTE SUSTENTÁVEL
Durante alguns anos vivi num edifício localizado na Rua Colatino Gusmão, famosa por hospedar o charmoso Bar Papo Quente. A vista cada vez mais cheio de concreto no horizonte da Pelinca era amenizado por uma frondosa árvore de Flamboyant que havia sido poupada durante o processo de construção do prédio. Ainda que muitos digam que o Flamboyant é uma árvore exótica e que seu plantio não é apropriado para a paisagem urbana, a beleza de seus flores vermelhas era um espetáculo quase inegualável dentro da selva de pedra.
Não foram poucas as vezes que tive de negociar com os funcionarios das empresas terceirizadas que estão encarregadas de fazer as podas de árvores na área urbana de Campos, de modo a evitar a poda drástica. Felizmente, após alguns encontros animados, os próprios trabalhadores sabiam que aquela árvore estava sendo cuidada e voluntariamente a poda drástica que desfigura e mutila centenas de árvores todos os meses na cidade de Campos.
Ao me mudar, fiquei com a sensação que o majestoso Flamboyant estava com os dias contados. Afinal de contas, a maioria dos moradores do prédio claramente seguiam o ethos dominantes que vê nas árvores um obstáculo à perfeita desarmonia em que vivem com a Natureza. Mas passados quase dois anos a árvore continuava lá imponente e eu pensei lá comigo: me enganei! Aliás, em minha tola ilusão pensava que o bom senso havia prevalecido na maioria dos moradores que são pessoas normalmente com graus superiores de educação e normalmente ocupam posições bem remuneradas na nossa sociedade.
Qual nada! Eis que numa visita ao edifício eis que notei que no lugar da árvore havia apenas um buraco e uma gigantesca raiz para marcar mais um crime cometido contra o nosso meio ambiente coletivo.
O que é saga deste Flamboyant me mostra? Que a falta de conexão com o papel das árvores no fornecimento de valiosos serviços ambientais e estéticos não é algo que aflige somente as classes pobres, mas está firme e forte também nos setores mais abastados da sociedade. E isto, convenhamos, mostra o longo caminho que temos ainda que percorrer até alcançarmos uma sociedade que seja ambientalmente sustentável.
Bom, pior para todos nós. No caso do edifício em questão, a doce vingança da árvore abatida é que está sendo bem mais difícil arrancar as suas raízes do que pensavam seus algozes. E de quebra, o prédio está mais quente, barulhento e empoeirado. Destino mais do que merecido, pelo menos para os que participaram da decisão de cortar o velho Flamboyant.
Em tempo... nem todos os moradores do prédio concordaram com este ato. E isto ainda revela um problema adicional. Ao decidirem cortar algo que era um patrimônio público (afinal a rua não pertence aos condôminos), os algozes deveriam ter um feito uma consulta a todos os moradores, o que não ocorreu. Mais uma mostra de que um mundo democrático e ambientalmente sustentável encontra dificuldades já dentro de pequenas comunidades. Ainda bem que tem gente que não concorda com isto. Já é um bom começo.
Em tempo... nem todos os moradores do prédio concordaram com este ato. E isto ainda revela um problema adicional. Ao decidirem cortar algo que era um patrimônio público (afinal a rua não pertence aos condôminos), os algozes deveriam ter um feito uma consulta a todos os moradores, o que não ocorreu. Mais uma mostra de que um mundo democrático e ambientalmente sustentável encontra dificuldades já dentro de pequenas comunidades. Ainda bem que tem gente que não concorda com isto. Já é um bom começo.