Pesquisa demonstra efeitos causados pelos agrotóxicos à biodiversidade
Por Ricardo Bonalume Neto
Da Folha de São Paulo
Pesticidas pelo jeito não matam apenas pestes. O declínio de populações de abelhas, essenciais para a polinização de plantas, é um fenômeno que se suspeitava ser causado por eles. E agora dois estudos independentes publicados recentemente na revista "Science" demonstraram causa e efeito.
Os inseticidas para uso agrícola conhecidos como neonicotinoides começaram a ser usados no começo da década de 1990 e hoje são extremamente populares.
Um dos estudos, pela equipe de Penelope Whitehorn, da Universidade de Stirling, Reino Unido, investigou o impacto de um desses pesticidas, o imidacloprid, em mamangabas da espécie Bombus terrestris.
Um dos coautores do estudo, Dave Goulson, lembra que várias espécies de mamangabas se tornaram extintas em anos recentes nos EUA e no Reino Unido.
Depois de receberem doses não letais do pesticida, os insetos foram colocados em um lugar onde poderiam agir em condições naturais por seis semanas.
No final do experimento, as colônias de mamangabas que foram expostas ao pesticida eram em média entre 8% a 12% menores do que outras estudadas ao mesmo tempo sem o inseticida.
E ainda mais grave: as colônias expostas ao pesticida produziram 85% menos rainhas, essenciais para a reprodução de novas colônias.
Já uma equipe na França liderada por Mickaël Henry, do Instituto Francês de Pesquisa Agrícola em Avignon, usou um enfoque mais tecnológico: abelhas receberam minúsculos equipamentos de identificação por rádio grudados no tórax e tiveram seus movimentos minuciosamente detalhados.
Algumas delas receberam uma pequena dose de outro pesticida, o thiamethoxam.
As abelhas que receberam o pesticida morreram bem mais; as chances de não voltarem à colônia depois de saírem em busca de pólen eram de duas a três vezes maiores, pois com quase certeza o thiamethoxam interferiu na sua capacidade de navegação.
Abelhas e mamangabas são importantes para a polinização de culturas agrícolas, como árvores frutíferas. Que um pesticida usado para proteger um setor da agricultura afete outro é uma curiosa ironia, além de um grave problema potencial.