BASTOU UMA CHUVA PARA ESCANCARAR O DESCASO GOVERNAMENTAL COM AS CIDADES DA REGIÃO SERRANA
Bastou que apenas mais uma chuva intensa ocorresse para que cidades da região serrana voltassem a ser ameaçadas com a repetição das tragédias associadas a um indústria informal das chuvas (Ver Aqui). Essa repetição de deslizamentos e inundações seguidos de mais mortes de moradores das regiões mais pobres de cidades como Nova Friburgo e Teresópolis é mais do que anunciada. Desde que a região serrana foi assolada pelas centenas de mortes no início de 2011, pouco ou nada se fez para atacar os problemas estruturais que estão na base dessa situação.
Mas a chave desta situação está presa em vários aspectos difíceis de serem mudados se não houver uma mudança radical na forma em que a sociedade brasileira funciona. Um primeiro problema é que as melhores terras das cidades se encontram sob o controle de construtoras e especuladores imobiliários, o que obriga a que os pobres sejam empurrados para áreas em que o capital imobiliário não tem interesse de ocupar. Segundo, vem o problema endêmico da corrupção que assola o Estado brasileiro. No caso das cidades da região serrana, a sucessão de escândalos e prisões que se sucederam à tragédia de 2011 é uma prova inequívoca de que os ladrões não se comovem nem quando milhares de famílias são deixadas ao relento ou, pior ainda, sem sequer saber onde soterrados os seus mortos.
Um terceiro e grave problema é que as transformações que estão ocorrendo no sistema climático da Terra impõem uma mudança drástica na forma que o solo urbano é ocupado. O fato é que estamos já sentindo efeito da mudança do padrão das chuvas, que passam a ser mais concentradas e intensas. Em função disto, a ocupação de áreas ecologicmente frágeis e que deverim ser destinadas à proteção e conservação deveria ser impedida. Mas para aonde enviar a maioria da população se as melhores terras estão estocadas para a especulação?
O fato é que sem atacar estas questões não haverá saída positiva para o drama que se repete a cada chuva intensa. Mas para mudar isto há que se organizar a sociedade, e especialmente os setores mais pobres que são aqueles que acabam recebendo a maior parte do ônus social e ambiental do status quo econômico reinante no Brasil.
E me perdoem, instalar sirenes de aviso é só uma medida paliativa e que, no máximo, diminui o número de vítimas. E este não é um padrão aceitável. Aliás, pode ser aceitável para Sérgio Cabral e Carlos Minc, que certamente ainda virão a público celebrar o baixo número de mortos. É só esperar e ver.