domingo, 20 de janeiro de 2013

No Complexo do Açu, a primeira ilusão que se vende é a criação de empregos


Talvez numa forma de contrabalançar as evidências de que a construção do Porto do Açu está causando um desastre ambiental de proporções inéditas na história do Brasil, a mídia empresarial e vários blogueiros chapas-brancas estão levantando novamente a bandeira dos supostos 50.000 empregos que serão criados pelo empreendimento.

Mas antes de me deter no destrinchamento desta ilusão, é preciso ressaltar que mesmo a informação de que há um processo de salinização está sendo mal apresentada. Afinal, haveria que se explicar quais são os efeitos que a salinização de terras e águas implica. Mas não, apenas fica se repetindo o fato inegável, sem que se explique as consequências dele. Então aqui vai: salinização é equivalente a esterilização e desertificação.  É isto sem tirar nem por. Em outras palavras, a salinização que ocorre é, na prática, uma poderosa arma química que deve varrer a vida dos locais em que se manifestar de forma mais profunda. Por isto, chega a ser aterrorizante que o (des) secretário estadual de Meio Ambiente, o ex-ambientalista, ainda venha a dizer que não sabe se aplicará multa e que não há porque suspender o empreendimento.  

Agora vamos à ilusão da criação de empregos. O que não está sendo dito é que estes 50.000 empregos na fase de operação do Complexo do Açu seriam criados caso as duas siderúrgicas prometidas e depois abandonadas fossem concretizadas.  Como já foi mostrado no blog do Prof. Roberto Moraes (Aqui!), como as siderúrgicas foram excluídas, o máximo de empregos que poderão ser criados seria de 31.790. Mas como a imensa maioria destes empregos era dependente de empreendimentos que também caíram no esquecimento por causa da falta de parceiros, é provável que o número total de empregos na fase operacional não chegue a 20.000. E mais, a maioria desses empregos será ocupada por pessoas de fora da região, o que aumentará a pressão sobre serviços públicos para os quais os empreendedores não estão contribuindo para que existam. Assim, nem com a melhor hipótese, o cenário será tão róseo como a mídia corporativa e os blogueiros chapas-brancas querem nos levar a crer.

E o custo social e ambiental destes empregos será obviamente jogado nas costas dos pobres e do Estado.