domingo, 20 de janeiro de 2013

Aula de campo em prol de agricultores



Após panfletagem na BR-356 pela manhã, grupo se dirigiu a uma propriedade rural em Cajueiro para a aula de campo

Alunos dos cursos de Educação do Campo do Isepam/Faetec e Serviço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF) participaram ontem, em São João da Barra, de uma aula de campo com pequenos produtores do 5º Distrito. Todos tiveram a oportunidade de conhecer de perto o processo de desapropriação de toda a área e a salinização nas águas da região em função das obras do Complexo Portuário do Açu, do empresário Eike Batista.

Segundo a professora da UFF Ana Costa, o encontro foi para dar uma visibilidade aos alunos com relação ao processo de salinização. “Estudos realizados pelo Laboratório de Ciências Ambientais da Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), e que foram reconhecidos pelo Governo do Estado, mostram que a construção do Porto está causando a salinização nas águas subterrâneas das propriedades rurais, um fenômeno que poderá transformar o 5º Distrito e, provavelmente toda a Baixada Campista, num verdadeiro deserto”, alerta.

O vice-presidente da Associação dos Produtores Rurais e Imóveis (Asprim), Rodrigo Santos, foi mais além ao falar da pesquisa. “O sal vem da areia retirada do mar e depositada na restinga, bem como da água do canal aberto para o estaleiro da OSX. A água dos canais, das lagoas e do subsolo está se tornando imprópria para economia pesqueira, a agropecuária e também para uso humano”, disse.

Autoridades ambientais admitem origem do problema

Na última quarta-feira (16/1), o secretário de Estado do Meio Ambiente, Carlos Minc, e a presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Marilene Ramos, admitiram a origem da salinização dos mananciais hídricos de água doce e do solo na Baixada Campista, que tem provocado perdas para agricultores e pecuaristas da região, por causa do excesso de sal na água dos bebedouros do gado bovino.

Na ocasião, Minc informou que na próxima semana serão divulgadas as ações que a empresa responsável pelas obras, a LLX, deverá realizar, na tentativa de corrigir o dano. Além de multa, valor ainda não aritrado, o Inea determinou que a empresa dobre, para 16, a quantidade de poços de monitoramento do local a fim de identificar a extensão da possível contaminação das águas subterrâneas.

Em entrevista ao Portal de Notícias do jornal Folha de São Paulo, a presidente do Inea disse que o problema ocorreu após o transbordamento da água salgada do sistema de drenagem da dragagem do porto. Marilene disse ainda que a LLX teria já corrigido a falha na realização da drenagem, que resultou no transbordamento, com a adoção de um novo sistema de drenagem.

Principal fonte de abastecimento de água para os agricultores e pecuaristas de parte de Campos, São João da Barra e Quissamã, o Canal Quintigute é caracterizado como de água doce pelo estudo de impacto ambiental, mas atualmente tem 2,1 de salinidade, quando o tolerável para irrigação é de, no máximo, 0,14.

ASPRIM define ações em 2013

O vice-presidente da Associação dos Produtores Rurais e Imóveis (Asprim) Rodrigo Santos, esclareceu que as associações de classe e movimentos afins estão se posicionando perante as universidades e a sociedade civil organizada e, por meio de ações no Ministério Público do Rio de Janeiro (MP/RJ), solicitando que a Justiça suspenda as obras do Porto do Açu. Os associados montaram um calendário de lutas e manifestações para 2013.

A assessoria de imprensa da LLX informou na semana passada que a empresa monitora os níveis de salinidade em mais de 40 pontos situados na área de influência do Superporto do Açu, de acordo com as exigências do licenciamento. A empresa disse ainda possuir convênio, desde 2010, com universidades locais, como a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) para monitoramento dos canais utilizados para irrigação, sem qualquer indicação de alteração da atividade agrícola.