sábado, 29 de dezembro de 2012

Cada vez mais competitivos e menos humanistas


Ainda embriagados com os últimos resultados obtidos por seus estudantes no ENADE e no Índice Geral de Cursos (IGC) do Ministério da Educação (MEC), os dirigentes da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) mandaram fazer um outdoor celebratório e o postaram na entrada do campus Leonel Brizola.  Isto até é compreensível já que resultado melhor é sempre preferível do que resultado pior. Mas o que me espanta é que ninguém pare para refletir o que esse sistema de classificação significa em termos mais amplos sobre o papel da universidade brasileira.

Pois bem, uma pista do que acontece por aqui vem da Espanha, onde o jornal EL PAIS fez uma interessante análise sobre o impacto das mudanças curriculares no caráter crítico e reflexivo dos profissionais formados pelas universidades espanholas (Aqui!). E a análise é caústica e direta ao afirmar que em nome da viabilidade no mercado de trabalho, os currículos espanhóis estão abrindo mão da responsabilidade de formar profissionais que tenham uma capacidade de refletir sobre o mundo ao seu redor, isto sem falar na ausência da habilidade de contextualizar o contexto histórico em que se vive. Tudo isto em nome da tal viabilidade de emprego num mercado de trabalho.

O interessante é que essa mentalidade pró-mercado está aparecendo de forma sólida dentro do mesmo MEC que produz o ranking celebrado na UENF. É que seguindo essa mentalidade pró-mercado, os dirigentes máximos da educação brasileira estão tentando excluir os cursos de Ciências Humanas do acesso ao Programa Ciência Sem Fronteiras que deverá distribuir 75 mil bolsas de estudos a estudantes de graduação e pós-graduação até 2015 (Aqui!). A preferência do MEC é dar bolsas exclusivamente a alunos das áreas tecnológicas e biomédicas, como se avanço de conhecimento só tenha ocorrido nessas áreas.

Mas ainda que pareça inexistente, a comparação entre os casos da Espanha e do Brasil faz totalmente sentido se analisado sob o prisma da tentativa de se subordinar a formação universitária a um modelo mercado-dependente no qual as ciências humanas são vistas como indesejáveis por produzirem o tipo de crítica que os amantes do mercado não toleram. Para eles quanto menos humanistas e menos reflexivos melhor. 

Por essas e outras é que apesar dos dirigentes da UENF quererem vender a idéia de que estão no caminho certo por causa dos resultados do ENADE e do IGC, a instituição nunca esteve tão longe de ser capaz de produzir boas reflexões sobre o contexto em que está inserida e, portanto, acaba navegando por caminhos que de certo nada têm.