quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A Reitoria da UENF calada é uma poeta



Eu acabo de ler a nota da reitoria da UENF ( Aqui! ) sobre a decisão soberana de uma assembléia, onde estiveram mais de 100 professores, que decidiram manter a greve por tempo indeterminado que foi iniciada na última segunda-feira para forçar a abertura de negociações com o (des) de Sérgio Cabral. A primeira coisa que me veio à mente foi uma frase do Romário sobre o Pelé, quando o agora deputado federal disse que Pelé calado era um poeta.

Mas vários detalhes da nota da reitoria saltam aos olhos:

1. ela chega atrasada em pelo menos 10 horas.
2. ela toma a posição do governo de que há um diálogo fluindo com 
tranquilidade
3. ela acusa o movimento docente de estar causando um recrudescimento de um processo que estaria "tranquilo".
4. ela tenta jogar nas costas do movimento docente a responsabilidade por eventuais perdas acadêmicas que as greves possam estar causando.

Todas essas afirmativas ignoram a própria experiência histórica da UENF, onde um reitor conduziu a instituição por mares bem mais bravios sempre reunindo o Conselho Universitário e acatando decisões do CONSUNI que somavam, e não subtraiam, dos esforços sendo feitos pela ADUENF. É claro que falo aqui da gestão do Professor Salassier Bernardo a quem eu fiz oposição, mas com quem sempre mantive uma relação respeitosa, pois entendi o papel democrático que ele soube exercer num momento extremamente difícil da nossa história institucional.

Agora eu pergunto: se a reitoria já tem tudo tão azeitado em termos de até ter submetido para apreciação do governo " minuta de um PL consentâneo com o que foi aprovado para a UERJ", por que nós não fomos informados? Se a reitoria fez uma minuta, ela também fez cálculos. E cadê esses cálculos? Quanto vamos ter acesso a esta minuta? Na segunda-feira na reunião com o governo?

Ai me desculpem os ocupantes dos cargos de chefia da UENF, mas eles chegaram atrasados. Como o magnífico reitor é professor da Agronomia, outra imagem que me vem à mente é de um trator com o freio de mão puxado.

Mas de uma coisa a reitoria da UENF pode ficar tranquila. Se na reunião da 2a. feira houver a apresentação de uma proposta já conformada enquanto projeto de lei, tenho certeza de que a assembléia da 3a. feira saberá tomar a decisão correta de suspender a greve para permitir a votação ainda na próxima semana.

Por outro lado, com quase 15 anos de UENF, eu acredito que a formação que eu dei aos meus alunos os ensina que a ação firme frente aos tripudiam sobre nossos direitos não é um direito, mas uma obrigação.

Finalmente, eu gostei especialmente desta frase da nota "Por outro lado, o recrudescimento de um clima de confronto poderá abortar esse processo de entendimento." O que se espera é que o reitor da UENF faça valer sua posição de reitor e trabalhe para evitar o recrudescimento do único responsável pelo "recrudescimento": o governo do estado do Rio de Janeiro na pessoa de seus secretários.