Militei no PT durante 10 anos antes de partir para uma temporada no exterior. Fui daqueles que subiu nos morros do Rio de Janeiro prometendo a chegada de um partido que seria definitivamente dos trabalhadores e para os trabalhadores. Lembro até do grito de guerra que mais gritávamos nas ruas da cidade maravilhosa naquele período de descenso da ditadura militar "Partido, partido.... é dos trabalhadores".
Quando cheguei a Campos e fui numa reunião do diretório local achei que tinha caído num ninho de atraso tão conservadoras eram as posições que ouvi. Mas descobri rapidamente que o diretório de Campos representava o que havia de mais avançado (quer dizer, atrasado) no PT que eu reencontrava.
Depois daquilo vieram as eleições de 1998, ultimava vez que votei nos candidatos majoritários do PT, e assisti com alguma estupefação a uma campanha que poderia ter sido feita por qualquer partido de direita. Depois da derrota inevitável à luz daquela política de capitulação frente aos primados neoliberais, veio a vitória de Lula em 2002, e o aprofundamento da adoção da agenda neoliberal que chega hoje aos píncaros da adoção da lógica capitalista pela direção do PT.
É verdade que alguns militantes sinceros ainda resistem dentro do PT, e eu lamento sinceramente que continuem gastando suas energias dentro de um partido que não mais se pretende ser um elemento catalisador das mudanças estruturais que o Brasil tanto precisa. Em vez disso, o PT hoje ataca os trabalhadores, camponeses e indígenas com todos os dispositivos legais e o aparato repressivo de que o Estado burguês brasileiro dispõe.
Lamentavelmente o que restou da esquerda brasileira, em sua imensa maioria, vive um processo de fragmentação que permite que, por exemplo, aqui no Rio de Janeiro assistamos ao saque comandado pelo PMDB e coadjuvado pelo PT. É o Maracanã aqui, é a Marina da Glória ali, é o funcionalismo destroçado por salários de fome acolá. Mas a incapacidade de estabelecer programas de unidade deve e precisa ser superada, visto que os ataques contra a classe trabalhadora não vão cessar. Que o digam os agricultores familiares do V Distrito de São João da Barra que sentem na carne a proximidade do PT com o PMDB e, sim, com o capitalista preferido dos dois partidos, Eike Batista.
Alguns petistas reclamam de que os critérios que lhe são impostos pela burguesia não cumpridos por ela. Mas estão reclamando do que? Quem se presta ao tipo de serviço que o PT cumpre, não pode reclamar do cinismo da direita. Após uma década de convívio uterino, os militantes do PT já deveriam estar mais do que acostumados com as más companhias que a direção partidária escolheu.