terça-feira, 2 de abril de 2013

Anglo American admite falhas que atrasaram projeto Minas-Rio


Presidente da unidade de negócios de minério de ferro da empresa no Brasil diz que faltou ‘comunicação com a sociedade’

DANIELLE NOGUEIRA, ENVIADA ESPECIAL* 

BELO HORIZONTE – O presidente da unidade de negócios de minério de ferro no Brasil da Anglo American, Paulo Castellari Porchia, fez um mea culpa nesta segunda-feira, pelos atrasos e aumentos no orçamento do projeto Minas-Rio. Originalmente, o projeto – que compreende uma mina, um mineroduto e um terminal portuário – teve seu orçamento elevado de US$ 5 bilhões para US$ 8,8 bilhões e o início da operação adiado duas vezes, de 2009 para 2014.

Castellari admitiu falhas na comunicação da empresa com a sociedade, o que acabou contribuindo para uma série de ações públicas no ano passado, e a falta de integração interna da própria companhia, o que levou a uma dança das cadeiras e uma reorganização interna, com a criação de um escritório para tratar apenas das licenças ambientais em 2012.

— A gente aprendeu muito ano passado. A gente teve oportunidade de se reestruturar e ser bastante proativo, mostrar o que a Anglo American faz. A gente sempre soube que fazia a coisa certa, tanto é que a gente conseguiu virar as ações civis públicas. Desde o início do ano passado a gente vem num processo proativo de comunicação, seja com os órgãos públicos, seja com o Ministério Público, seja com as comunidades com que a gente trabalha. Medir o risco é muito difícil. Mas acho que a gente tá fazendo de tudo para administrar quais são a causas desses impactos – disse Castellari.

A Anglo foi alvo de três ações civis públicas, movidas pelo Ministério Público de Minas Gerais no ano passado. Uma delas questionava as obras de uma linha de transmissão de energia elétrica, que ligava as cidades mineiras de Itabira e Conceição do Mato Dentro. Outra visava a impedir a mudança no raio de atuação da Anglo em uma caverna onde haveria animais em risco de extinção. A terceira questionava a atuação da empresa nas proximidades de sítios arqueológicos. Todas as liminares concedidas contra a Anglo já foram derrubadas, segundo os executivos da mineradora.

— Subestimamos de certa forma alguns relacionamentos com as comunidades, com o Ministério Público. Temos trabalhado isso de uma forma bem ampla para tentarmos reverter essas situações — admitiu o diretor de recursos humanos, assuntos corporativos, segurança e desenvolvimento sustentável, Pedro Borrego.

Segundo ele, 90% das condicionantes impostas pelos órgãos de licenciamento ambiental foram cumpridas, no que diz respeito às licenças de instalação. Ele informou ainda que, entre outubro deste ano e maio de 2014, a empresa vai entrar com pedido de quatro licenças de operação.

Além dos atrasos por causa das ações judiciais, Castellari afirmou que contribuíram para o reajuste no orçamento do projeto a inflação em 2012, as chuvas no início do ano passado e dificuldades no acesso à terra para a construção do mineroduto que vai escoar o minério. Atualmente, 5% do total de terras necessárias para o projeto ainda têm pendências.

Segundo Castellari, dos US$ 8,8 bilhões do novo orçamento, US$ 800 milhões referem-se a uma reserva para contingências como essas, caso esses fatores venham a aparecer novamente em 2014. No ano passado, a Anglo teve que fazer uma baixa contábil de US$ 4 bilhões por causa dos problemas do projeto Minas-Rio.

A previsão é que a produção inicie no primeiro semestre de 2014 e o primeiro embarque, no segundo semestre daquele ano. A capacidade de produção na primeira fase é de 26,5 milhões de toneladas por ano. O projeto poderá ser elevado a 90 milhões de toneladas no futuro. Serão cinco mil empregos diretos na fase operacional.

O projeto Minas-Rio foi comprado pela Anglo do grupo EBX, de Eike Batista, em 2008 por US$ 5 bilhões. É o maior projeto em curso da Anglo no mundo. Ele compreende uma mina e uma usina de beneficiamento em Minas Gerais, um mineroduto de 525 quilômetros que cortará 32 municípios e um terminal portuário no Porto do Açu, em São João da Barra, Norte Fluminense. De lá o minério será exportado prioritariamente para China e Oriente Médio.

* A repórter viajou a convite da Anglo American