domingo, 22 de setembro de 2013

Ultra-esquerda, esquerda, centro, direita, ultra-direita: tudo depende do ponto de referência de onde se olha o mundo


O prezado blogueiro Douglas da Mata, do Planície Lamacenta, a quem admiro pela verve e pela qualidade do texto, vem me dedicando o adjetivo de "ultra-esquerda" (veja exemplo Aqui!). Ainda que eu ache até bonitinho o uso desse tipo de adjetivo para definir o que eu escrevo aqui neste blog, eu diria que tal classificação nem de longe caracteriza a forma com que eu encaro a transformação da realidade social. Respondendo a alguém que se deu ao trabalho de me perguntar o que eu penso em termos de minha ideologia, eu respondi que me considero como sendo uma pessoa de esquerda, com uma origem teórica nos escritos do revolucionário russo Leon Trotsky. 

Entretanto, antes que alguém venha me chamar de "trotskista", eu preciso indicar a leitura da obra "Revolução Permanente" onde Trotsky afirma com todas as letras a não-existência de uma coisa chamada "trotskismo" como algo autônomo ao processo de reflexão teórica estabelecida por Karl Marx. Na verdade, dizia Trotsky, todos os que buscavam usar a palavra "trotskismo" para negar seu papel enquanto um dos principais líderes da revolução russa, na prática buscavam esconder seus desvios do programa revolucionário que levou os bolcheviques ao poder em 1917.

Mas e a coisa do ultra-esquerdismo? Para os que quiserem buscar a gênese teórica deste debate, a obra a se ler foi escrito por Lenin e se intitulava "Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo" e foi publicada em 1920. Nesse livro, Lenin criticava os membros da III Internacinal que se negavam a participar da direção de sindicatos e do parlamento burguês enquanto uma forma de desvio do programa revolucionário.

Diante dessa breve explanação, enquanto ex-presidente de um pequeno e valoroso sindicato e de quem vai às urnas votar em candidatos da esquerda socialista, dificilmente poderia ser incluído no rótulo da ultra-esquerda. Mas há um viés explicativo que permite não apenas ao Douglas da Mata, mas a próceres do neoPT a tentar colar o rótulo de ultra-esquerda em pessoas como eu que não professam a linha da completa adaptação ao Estado burguês, retrógrado e oligárquico, que Lula e Zé Dirceu impuseram ao partido que até hoje controlam com mão de ferro.  É que para se colocar na esquerda, há que se colocar a esquerda na ultra-esquerda. 

Esse tipo de carrossel ideológico não é nenhuma inovação dos neoPetistas, pois já foi utilizado pelos social-democratas europeus  no início do Século XX quando em nome da mudança possível passaram a perseguir e/ou entregar lideranças dos partidos ditos comunistas para serem assassinados pela direita, como no caso da revolucionária polonesa Rosa de Luxemburgo.  O caso é que no caso do PT, o que temos vendo é um retrocesso tão amplo que deixaria até os social-democratas alemães parecendo esquerdistas. E é essa a realidade que se tenta esconder ao imputar o rótulo de ultra-esquerda a qualquer um, seja pessoa ou organização, que não se adapte à sustentação do Estado burguês como faz hoje o PT.

Mas como já disse, e repito aqui, o destino do PT é problema dos petistas. De minha parte, até como alguém que analisa a realidade para além dos pragmatismos de quem precisa defender aqueles que estão no poder, vou continuar a tentar entender o que se passa. Se isso desagrada, lamento, mas como ateu não acredito em dogmas, principalmente os de natureza neoliberal.

Finalmente, e para deixar claro de uma vez, a minha posição é de que o Capitalismo é um sistema irrecuperável e fadado a um processo contínuo de crises sistêmicas. Contudo, como apontava a já citada Rosa de Luxemburgo, não haverá transição natural para outras formas de organização social. Assim, ao invés de ficarmos simplesmente gerenciado o Estado para a burguesia, acredito que precisamos construir novas formas de fazer política que nos preparem para a construção de uma nova sociedade, que poderá ter o nome quer for, mas cuja tarefa essencial será restabelecer os laços de solidariedade entre todos os seres humanos e deles com a Terra. Afinal, será isto ou mais da mesma barbárie que camponeses, indígenas, caboclos, quilombolas e moradores de comunidades pobres urbanas já enfrentam neste momento no Brasil.