Com uma praça de guerra diante de seu apartamento, o Palácio Guanabara cercado por panelaços e mal explicando o R$ 1 bilhão da reforma do Maracanã, Sergio Cabral ainda usa o helicóptero que mandou comprar por R$ 15 milhões, com dinheiro do Estado, para transportar cabeleireiro, médico, pranchas de surfe, amigos dos filhos, o cachorrinho Juquinha e, sim, duas babás no eixo Rio-casa de praia, além de toda a família, todos os finais de semana; o custo anual da aeronave é de R$ 3,8 milhões; integrante da "Confraria do Guarnanapo", cujo adereço virou febre nas manifestações "Fora, Cabral", governador passou a simbolizar para as ruas o que a classe política tem de pior em seus costumes
247– O governador Sergio Cabral virou um símbolo. O elemento mais
emblemático de uma classe política corroída em seus costumes, divorciada da
realidade e zombeteira da população. Tantas ele fez que hoje tem as cercanias
de seu apartamento transformadas em praça de guerra. Em seu prédio, ele é alvo
de um abaixo-assinado para que se mude. No Palácio Guanabara, já despacha ao
som de panelaços que se multiplicam pela região, cobrando as mais diversas
promessas não cumpridas.
Na mídia,
Cabral ganhou destaque perpétuo em meio à Confraria do Guardanapo, adereço que
virou febre nas manifestações à sua porta. Elas transcorriam dentro dos marcos
democráticos até serem alvo de violenta repressão policial. Agora, ele
reaparece em mais um escândalo em torno da decadência dos costumes políticos. O
supra sumo do abuso sobre a máquina do Estado.
É o Voo das
Babás – ou "helicóptero da alegria", como classifica um dos seus
pilotos. Trata-se do uso dado ao imponente aparelho Agusta AW109 Grand New,
comprado por RS 15 milhões pelo Estado, por ordem de Cabral, em 2011.
E para o que
tem servido esse helicóptero, idêntico ao de Eike Batista, no qual o governador
passeou e teve a ideia de comprar um igual?
Tem servido
para levar a família Cabral – chefe do clã, mulher, dois filhos, duas babás, no
apoio, e o mascote Juquinha, o cachorrinho do governador – praticamente todos
os finais de semana para a casa de praia da família em Mangaratiba.
Entre as
sextas-feiras e os domingos, o Agusta chapa branca nunca faz menos de oito
viagens para atender às exigências de transporte do governador e os seus. É
normal, porém, fazer mais. Como quando a primeira-dama esqueceu na casa à
beira-mar uma muda de roupa e o helicóptero decolou apenas com uma babá para
pegar e trazer a peça. O certo é que, todas as sextas, o Augusta primeiro leva
as Babás e os filhos do governador a Mangaratiba – configurando o Voo das Babás
– depois volta, espera o chefe, e decola de novo com ele nas manhãs dos
sábados. Os detalhes do dessas viagens estão na revista Veja deste fim de
semana, sinalizando que Cabral já perdeu o apoio que tinha na chamada grande
imprensa.
"HELICÓPTERO
DA ALEGRIA" –
No curso dos
finais de semana, o aparelho já fez a mesma rota levando um cabeleireiro,
depois um médico, pranchas de surfe e amigos dos filhos. Com o que, para os
pilotos, virou o "helicóptero da alegria". Pela expressão, é fácil
perceber que eles se sentem humilhados por fazer esse tipo de transporte,
nitidamente de características particulares. No mercado de aluguel de aeronaves
do mesmo porte, a hora de voo custa em torno de R$ 9,5 mil.
O gabinete do
governador Cabral gasta cerca de R$ 3,8 milhões com a manutenção do Agusta, o
que inclui o combustível utilizado nos deslocamentos de finais de semana. Nos
dias úteis, Cabral voa todos os dias o percurso de seu apartamento, agora ponto
turístico ao contrário, apartado por um cordão de isolamento do resto da
cidade, para o Palácio Guanabara. A conta dá R$ 323 mil a cada mês – mas com
Cabral nunca se sabe. Ele tem se negado a divulgar todos os gastos de sua
administração, especialmente os ligados ao gabinete do governador,
classificando-os como secretos.
Por estas que já se sabem, tal como os gastos mal
explicados de mais de R$ 1 bilhão na reforma do Maracanã, privatizado para o
amigo Eike, e pelas que certamente ainda virão, o cargo, o nome e a pessoa de
Sergio Cabral galvanizam neste momento toda a decepção, a repulsa e a
consequente revolta expressa nas manifestações de massa que varrem o País. Esse
político conseguiu, mais que todos os outros, tatuar em si mesmo a marca
indelével do que há de mais atrasado e decadente em termos de costumes do
poder.