Há pouco mais de um ano, ele era "Eike Xiaoping", a cara de um Brasil que "trabalha muito, compete honestamente, orgulha-se de gerar empregos e não se envergonha da riqueza"; nas palavras do diretor Eurípedes Alcântara, em janeiro de 2012, era o "símbolo de um tempo mais generoso para todos os brasileiros"; agora ele é "Eike 'tchau' ping"; segundo o mesmo Eurípedes, passou a ser "o espertalhão que ficou rico vendendo gato por lebre"; com essa virada, Veja se previne contra a constatação de que também vendeu gato por lebre e contribuiu muito para inflar uma bolha que lesou milhares de investidores
247 - Estima-se
que cerca de 50 mil brasileiros tenham ações das empresas do mundo X, de Eike
Batista. Afora especuladores, que lucram com o sobe-e-desce dos papéis,
praticamente todos perderam boa parte de suas economias. Só no fundo de pensão
Postalis, dos Correios, o prejuízo com esses investimentos se aproxima de R$ 1
bilhão e os funcionários estão sendo chamados a ampliar suas contribuições para
garantir aposentadorias futuras.
Eike
Batista enganou milhares de brasileiros. Até recentemente, dizia no Twitter,
onde tem mais de 1 milhão de seguidores, que as perfurações nos seus poços eram
cada vez mais promissoras. Mentiu descaradamente, contrariando regras da
Comissão de Valores Mobiliários – e nada foi feito até agora (leia mais aqui). Na última
segunda-feira, anunciou que os poços da OGX serão fechados, alegando que não há
tecnologia disponível para extrair petróleo de suas reservas. Foi esse
comunicado que precipitou a queda do seu império.
Eike,
no entanto, não chegaria tão longe se não contasse com o apoio da imprensa –
especialmente da revista Veja e de seu colunista Lauro Jardim, que, nos últimos
quatro anos, publicou mais de 300 notas sobre o personagem, quase sempre
antecipando grandes "descobertas" e parcerias empresariais do
empresário (leia mais aqui).
Na
construção dessa farsa, o entusiasmo atingiu níveis mais altos da hierarquia da
publicação, contagiando até o diretor de redação Eurípedes Alcântara, que, em
janeiro de 2012, dedicou ao empresário a capa "Eike Xiaoping". Ele
seria a cara de um Brasil que "trabalha muito, compete honestamente,
orgulha-se de gerar empregos e não se envergonha da riqueza". Na carta ao
leitor, editorial da lavra de Eurípedes, Eike era o "símbolo de um Brasil
mais generoso para todos os brasileiros".
O
fato concreto, portanto, é que Veja ajudou a vender Eike. Pena
de quem comprou.
Nesta
semana, a revista da Abril faz um mea culpa envergonhado, com direito a uma
nova carta ao leitor de Eurípedes, chamada "Ascensão e queda".
"Eike tornou-se o paradigma do espertalhão que ficou rico vendendo gato
por lebre", diz o texto do diretor de redação da revista, que, embora não
admita, também vendeu gato por lebre.
Numa
reportagem interna, "Eike Xiaoping" não existe mais. Ele agora é
"Eike 'tchau' ping".
Na
prática, Veja fez aquilo que, no mercado, se chama de "hedge". Uma
espécie de seguro diante da evidência de que pode ter ajudado a enganar
milhares de investidores.
Assim
como Eike, a revista é também caso de Procon.