domingo, 7 de julho de 2013

Brasil 247: Veja faz mea culpa tardio na farsa de Eike Batista


Há pouco mais de um ano, ele era "Eike Xiaoping", a cara de um Brasil que "trabalha muito, compete honestamente, orgulha-se de gerar empregos e não se envergonha da riqueza"; nas palavras do diretor Eurípedes Alcântara, em janeiro de 2012, era o "símbolo de um tempo mais generoso para todos os brasileiros"; agora ele é "Eike 'tchau' ping"; segundo o mesmo Eurípedes, passou a ser "o espertalhão que ficou rico vendendo gato por lebre"; com essa virada, Veja se previne contra a constatação de que também vendeu gato por lebre e contribuiu muito para inflar uma bolha que lesou milhares de investidores

247 - Estima-se que cerca de 50 mil brasileiros tenham ações das empresas do mundo X, de Eike Batista. Afora especuladores, que lucram com o sobe-e-desce dos papéis, praticamente todos perderam boa parte de suas economias. Só no fundo de pensão Postalis, dos Correios, o prejuízo com esses investimentos se aproxima de R$ 1 bilhão e os funcionários estão sendo chamados a ampliar suas contribuições para garantir aposentadorias futuras.

Eike Batista enganou milhares de brasileiros. Até recentemente, dizia no Twitter, onde tem mais de 1 milhão de seguidores, que as perfurações nos seus poços eram cada vez mais promissoras. Mentiu descaradamente, contrariando regras da Comissão de Valores Mobiliários – e nada foi feito até agora (leia mais aqui). Na última segunda-feira, anunciou que os poços da OGX serão fechados, alegando que não há tecnologia disponível para extrair petróleo de suas reservas. Foi esse comunicado que precipitou a queda do seu império.

Eike, no entanto, não chegaria tão longe se não contasse com o apoio da imprensa – especialmente da revista Veja e de seu colunista Lauro Jardim, que, nos últimos quatro anos, publicou mais de 300 notas sobre o personagem, quase sempre antecipando grandes "descobertas" e parcerias empresariais do empresário (leia mais aqui).

Na construção dessa farsa, o entusiasmo atingiu níveis mais altos da hierarquia da publicação, contagiando até o diretor de redação Eurípedes Alcântara, que, em janeiro de 2012, dedicou ao empresário a capa "Eike Xiaoping". Ele seria a cara de um Brasil que "trabalha muito, compete honestamente, orgulha-se de gerar empregos e não se envergonha da riqueza". Na carta ao leitor, editorial da lavra de Eurípedes, Eike era o "símbolo de um Brasil mais generoso para todos os brasileiros".

O fato concreto, portanto, é que Veja ajudou a vender Eike. Pena de quem comprou.

Nesta semana, a revista da Abril faz um mea culpa envergonhado, com direito a uma nova carta ao leitor de Eurípedes, chamada "Ascensão e queda". "Eike tornou-se o paradigma do espertalhão que ficou rico vendendo gato por lebre", diz o texto do diretor de redação da revista, que, embora não admita, também vendeu gato por lebre.

Numa reportagem interna, "Eike Xiaoping" não existe mais. Ele agora é "Eike 'tchau' ping".

Na prática, Veja fez aquilo que, no mercado, se chama de "hedge". Uma espécie de seguro diante da evidência de que pode ter ajudado a enganar milhares de investidores.


Assim como Eike, a revista é também caso de Procon.