Nos últimos anos, seus dois principais "promoters" foram os
jornalistas Lauro Jardim, do Radar Online, de Veja, e Ancelmo Gois, do Globo,
que o chamava de "Eike Sempre Ele Batista"; no entanto, até capa de
Veja, com direito a editorial de Eurípedes Alcântara, ele conseguiu; hoje,
Miriam Leitão diz o óbvio em sua coluna: o bilionário, que dizia ter um pacto
com a natureza, chancelado por vários veículos de comunicação, mentiu aos
investidores e poderá causar dano irreparável à imagem do País.
247 - Uma bolha
como a do "mundo X" não se constrói sem um mínimo de colaboração da
imprensa. Foi o que aconteceu com as empresas do bilionário Eike Batista, que,
de um ano para cá, fizeram evaporar mais de R$ 100 bilhões de seus
investidores.
Como bom vendedor, Eike dizia aos seus investidores que tinha um
"pacto com a natureza". Seu estilo, quase sempre fanfarrão, era
saudado pela imprensa imprensa como o símbolo de um novo capitalismo. Veja, por
exemplo, dedicou a ele a capa "Eike Xiaoping Batista", com o
subtítulo enriquecer é glorioso, com direito a editorial do diretor Eurípedes
Alcântara. "A reportagem desta edição de VEJA captura esse momento
especial de glorificação da riqueza produzida com trabalho, honestidade,
investimento pessoal e coragem para correr riscos. Ele é o símbolo de um tempo
mais generoso para todos os brasileiros", dizia o texto.
Sabe-se, agora, que Eike mentiu a
seus investidores, como afirma a colunista Miriam Leitão. Desde ontem, quando
ele divulgou fato relevante ao
mercado, os acionistas que compraram seus papéis sabem que o pacto com a
natureza jamais existiu e que Eike não tem tecnologia para extrair seu suposto
petróleo (leia mais aqui).
No entanto, ele não teria ido tão longe com suas mentiras sem a
colaboração da imprensa. Especialmente de dois jornalistas, que foram seus
principais "promoters" nos últimos anos: Lauro Jardim, de Veja, e
Ancelmo Gois, do Globo, que o chamava de "Eike Sempre Ele Batista".
Abaixo, nota de Lauro Jardim em janeiro
de 2012:Eike e Dilma
A OGX, de Eike Batista,
comunicou há pouco à CVM a descoberta de óleo na Bacia de Santos. São, e
isso não consta do comunicado, reservas equivalentes a 2
bilhões de barris de petróleo.
É um volume capaz de fazer muito
barulho no mundo do petróleo. Para que se possa comparar, as reservas estimadas
no pré-sal são de 5 bilhões de barris.
A diferença é que o óleo descoberto
nos poços de Eike Batista estão em águas rasas, tanto em área do pré quanto do
pós-sal. O custo de produção, portanto, será mais baixo do que se fosse em
águas profundas.
A descoberta deu-se a 102 quilômetros
da costa. Numa linha reta, situa-se a 80 quilômetros de Paraty.
Uma concidência destinada a entrar
para o folclore do homem mais rico do Brasil. De acordo com o relato que fez
ontem para Dilma Rousseff, quando lhe contou sobre a descoberta, Eike
afirmou que a descoberta foi feita na 63ª tentativa – 63 é o número da sorte do
supersticioso empresário.
Na conversa, Eike comparou a aventura
do Brasil no pré-sal à corrida espacial empreendida pelos EUA nos 60: John
Kennedy queria ir à lua. Parecia impossível, mas os EUA conseguiram. Com o
pré-sal é a mesma coisa.
Leia ainda nota de Ancelmo: PetroEike
Eike Sempre Ele Batista achou
petróleo a apenas130 km da costa de Parati em águas rasas. A primeira
estimativa é que só nesse campo da OGX possa haver 3 bilhões de barris de óleo
leve.
Dilma e Lobão já foram comunicados.
E o editorial de Eurípedes: Eike Xiaoping Batista
Os repórteres de VEJA que foram ouvir os novos milionários brasileiros,
categoria que aumenta à razão de dezenove pessoas por dia, relataram a Thaís
Oyama, redatora-chefe encarregada de editar a reportagem, que, entre muitos
traços comuns, um sobressaía: eles têm como ídolo o empresário Eike Batista, o
brasileiro mais bem colocado na lista de bilionários da revista Forbes, em que
ocupa o oitavo lugar. “Exatamente o que eles admiram em Eike?”, perguntou-lhes
Thaís. Com ligeiras variações, as respostas giraram em torno do mesmo ponto:
“Eike não tem vergonha de ser rico”.
Ao elaborarem as respostas, os entrevistados enfatizaram que admiram a
ambição de crescer junto com o próprio negócio e prezam o direito de acumular
riqueza e propriedade adquiridas com trabalho honesto e talento. Vem
inevitavelmente à lembrança a guinada ideológica que Deng Xiaoping promoveu na
China comunista a partir de 1976, quando lançou as palavras de ordem:
“Enriquecer é glorioso”. Deu no que deu. A China saiu da estagnação coletivista
e agora emparelha como potência industrial com os Estados Unidos.
Em seu livro O X da Questão, Eike escreveu: “Muita gente não enxerga o
que representa contar, no topo do ranking dos homens mais ricos do mundo, com
um empreendedor brasileiro que ama o Brasil (...), concentra seus investimentos
no mercado interno e gera emprego, riqueza e divisas para a nação”. Os
empreendedores que ilustram a reportagem de VEJA também se orgulham de ter
chegado à prosperidade milionária pagando seus impostos, competindo em
igualdade de condições e gerando empregos de qualidade. É de celebrar o triunfo
desse espírito empreendedor. O brasileiro já foi identificado com o derrotismo
do Jeca Tatu ou, na metáfora futebolística popular, com a visão de mundo que
chancela o fracasso mórbido de Garrincha, mas desconfia do saudável sucesso
universal de Pelé. A reportagem desta edição de VEJA captura esse momento
especial de glorificação da riqueza produzida com trabalho, honestidade,
investimento pessoal e coragem para correr riscos. Ele é o símbolo de um tempo
mais generoso para todos os brasileiros.