A Igreja Católica decidiu excomunhar, na segunda-feira 29, o padre de uma paróquia em Bauru (SP) que criticou, durante uma cerimônia, o tratamento oferecido pelo Clero aos homossexuais. O vídeo, hospedado no site Youtube, gerou uma forte repercussão nas redes sociais e causou impacto na Diocese da região.
O padre Beto, excomungado por defender gays, durante entrevista coletiva em Bauru
No vídeo, Roberto Francisco Daniel, mais conhecido como Padre Beto, defendeu que a “hoje em dia não dá mais para enquadrar o ser humano em homossexual, bissexual ou heterossexual” e “que o amor pode surgir em qualquer desses níveis”.
Segundo o padre Beto, a Igreja precisa “analisar criticamente aquilo que está acontecendo na sociedade”. Para ele, é necessário “ter humildade de ver que o Espírito Santo sopra onde Ele quiser”.
As declarações do padre, que é historiador e jornalista, culminaram na exigência de um pedido de retratação e na posterior excomungação do clérigo por heresia e cisma.
Em seu perfil no Facebook, o padre escreveu que não vai retirar nenhum material postado por ele nas redes sociais, em seu site ou em qualquer outro espaço na internet. E reiterou: “A Igreja precisa ser um espaço dialogal para que as pessoas possam transcender de fato e se tornarem verdadeiros filhos de Deus em nosso universo contemporâneo. Se refletir é um pecado, eu sempre fui e sempre serei um Pecador”.
Segundo ele, o único objetivo de suas falas é fazer com que as pessoas se aproximem mais da vivência do amor pregado por Cristo nos Evangelhos.
Na mesma nota, ele disse preferir se desligar da Igreja a cumprir com a retração exigida pelo Bispo Dom Frei Caetano Ferrari. De acordo com o comunicado da Diocese de Bauru, “em nome da ‘liberdade de expressão’, (o padre Beto) traiu o compromisso de fidelidade à Igreja à qual ele jurou servir no dia de sua ordenação sacerdotal”. A carta elenca como motivos do desligamento do padre a recusa do diálogo e da colaboração.
Apoio. Ao menos mil fiéis lotaram a paróquia de São Benedito no domingo 28 para participar da missa de despedida do padre Beto. Durante a celebração, ele afirmou: “O mandamento do amor não é um mandamento, é algo vivo. Não se força, acontece. Cristo amou o ser humano como ser humano em si. Sem olhar rosto, sem olhar raça, sem olhar religião, sem olhar sexualidade. Cristo amou o ser humano, mas não se prendeu a preconceitos. É justamente assim que devemos amar. Temos que romper os preconceitos da nossa cabeça”.
“Vou continuar minha vida procurando, através de minhas reflexões, contribuir para a construção de uma sociedade mais humana e dialogal”, escreveu em seu perfil no facebook.
Confira a íntegra do comunicado de excomungação de Padre Beto abaixo:
Comunicado ao povo de Deus da Diocese de Bauru
É de conhecimento público os pronunciamentos e atitudes do Reverendo Pe. Roberto Francisco Daniel que, em nome da “liberdade de expressão” traiu o compromisso de fidelidade à Igreja a qual ele jurou servir no dia de sua ordenação sacerdotal. Estes atos provocaram forte escândalo e feriram a comunhão eclesial. Sua atitude é incompatível com as obrigações do estado sacerdotal que ele deveria amar, pois foi ele quem solicitou da Igreja a Graça da Ordenação. O Bispo Diocesano com a paciência e caridade de pastor, vem tentando há muito tempo diálogo para superar e resolver de modo fraterno e cristão esta situação. Esgotadas todas as iniciativas e tendo em vista o bem do Povo de Deus, o Bispo Diocesano convocou um padre canonista perito em Direito Penal Canônico, nomeando-o como juiz instrutor para tratar essa questão e aplicar a “Lei da Igreja”, visto que o Pe. Roberto Francisco Daniel recusa qualquer diálogo e colaboração. Mesmo assim, o juiz tentou uma última vez um diálogo com o referido padre que reagiu agressivamente, na Cúria Diocesana, na qual ele recusou qualquer diálogo. Esta tentativa ocorreu na presença de 05 (cinco) membros do Conselho dos Presbíteros.
O referido padre feriu a Igreja com suas declarações consideradas graves contra os dogmas da Fé Católica, contra a moral e pela deliberada recusa de obediência ao seu pastor (obediência esta que prometera no dia de sua ordenação sacerdotal), incorrendo, portanto, no gravíssimo delito de heresia e cisma cuja pena prescrita no cânone 1364, parágrafo primeiro do Código de Direito Canônico é a excomunhão anexa a estes delitos. Nesta grave pena o referido sacerdote incorreu de livre vontade como consequência de seus atos.
A Igreja de Bauru se demonstrou Mãe Paciente quando, por diversas vezes, o chamou fraternalmente ao diálogo para a superação dessa situação por ele criada. Nenhum católico e muito menos um sacerdote pode-se valer do “direito de liberdade de expressão” para atacar a Fé, na qual foi batizado.
Uma das obrigações do Bispo Diocesano é defender a Fé, a Doutrina e a Disciplina da Igreja e, por isso, comunicamos que o padre Roberto Francisco Daniel não pode mais celebrar nenhum ato de culto divino (sacramentos e sacramentais, nem mais receber a Santíssima Eucaristia), pois está excomungado. A partir dessa decisão, o juiz instrutor iniciará os procedimentos para a demissão do estado clerical para enviar a Roma o procedimento penal para sua “demissão de estado clerical”.
Com esta declaração, a Diocese de Bauru entende colocar “um ponto final” nessa dolorosa história.
Rezemos para que o nosso Padroeiro Divino Espírito Santo, “que nos conduz”, ilumine o Pe. Roberto Francisco Daniel para que tenha a coragem da humildade em reconhecer que não é o dono da verdade e se reconcilie com a Igreja, que é “Mãe e Mestra”.
Bauru, 29 de abril de 2013.
Por especial mandado do Bispo Diocesano, assino os representantes do Conselho Presbiteral Diocesano.