quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Maria Ritas Alves dá a devida resposta a Luiz Felipe Pondé




Luiz Felipe Pondé, escreveu na Folha de São Paulo (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/1187356-guarani-kaiowa-de-boutique.shtml) coisas do tipo: 

"Sou contra parques temáticos culturais (reservas)..."
"Pintar-se como índios e postar no Face devia ser incluído no DSM-IV, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais."

"O que faz alguém colocar nomes indígenas no seu "sobrenome" no Facebook? Carência afetiva? Carência cognitiva? Ausência de qualquer senso do ridículo? Falta de sexo? Falta de dinheiro? Tédio com causas mais comuns como ursinhos pandas e baleias da África? Saiu da moda o aquecimento global, esta pseudo-óbvia ciência?"

"Essas pessoas que andam colocando nomes de tribos indígenas no seu "sobrenome" no Face acham que índios são lindos e vítimas sociais. Eles querem se sentir do lado do bem. Melhor se fossem a uma liquidação de algum shopping center brega qualquer comprar alguma máquina para emagrecer, e assim, ocupar o tempo livre que têm." 

"Minha proposta é a de que todos que estão "assinando" nomes assim no Face doem seus iPhones para os povos da floresta."

EM RESPOSTA, esta carta sensacional de Rita Alves - Membro Fundadora do Instituto Orlando Villas Boas. 

"Caríssimo,
seu artigo é uma catástrofe. Muito me espanta um homem com sua relevância midiática fazer uso de um precioso espaço para tantos absurdos num único artigo.

Por acaso você conhece - conhece mesmo, de fato, com profundidade e consistência - a história dos irmãos Villas Boas e o que dessa história temos como resultados humanitários, além, muito além dos resultados antropológicos?

Saberá o caro jornalista e filósofo que algumas etnias foram salvas de extinção e que junto com extinção de índios paralelamente há todo um contexto social, temas ligados diretamente a produção de soja em larga escala, gado, extração de minérios preciosos de modo ilícito, organizações internacionais que adquirem terras ameaçando nossa soberania...?

O jornalista extingue, com seu artigo infeliz o legado de Darcy Ribeiro, Claude Levi-Strauss, Marechal Rondon, além de uma cultura milenar, muito anterior a apropriação europeia do continente, de três mil anos. 

Saberá o amigo do que trata toda uma vida de pesquisa da antropóloga Betty Mindlin? Conhecerá o acervo fotográfico de Maureen Basilliat? Tudo jogado no lixo jornalístico escrito por você.

Terá também o jornalista e filósofo Pondé assistido à entrevista feita pelo psicanalista Jorge Forbes com o filósofo e pensador francês Luc Ferry, em que eles nos alertam para o fim das grandes revoluções e nos chamam a atenção para as pequenas revoluções feitas através das redes sociais, alterando comportamentos e rumos históricos?

Pois bem, depois de ler o seu artigo, concluo que você é a pessoa desinformada ou mal formada. E com o agravante de levantar a público algo seríssimo: você é um formador de opinião. 

Não assinei meu sobrenome como Guarani-Kayowa, no entanto, os que o fizeram conseguiram com este feito alertar as autoridades para a questão.

Cinismo absurdo pedir que os índios trabalhem. Você está novamente desinformado: eles trabalham. É a ÚNICA organização social que sempre funcionou, com respeito às diferenças, organização sim, em que cada um tem uma função no sentido de utilidade para o grupo; Afora as investidas civilizatórias de corrupção e vícios como álcool e fumo, além de prostituição, que acontecem com os índios justamente FORA das preciosas reservas. Não são reservas temáticas, meu caro. É reserva de terra. Para que pessoas com sua mentalidade não queiram empresariar o espaço. Para que dentro dessas reservas os verdadeiros donos de onde você e eu moramos possam exercitar o seu sagrado direito de liberdade e propriedade: cultura. Pagar impostos? Eles já pagaram com a vida, afinal, nós matamos centenas de milhares de índios em pouco mais de quinhentos anos. Pagaram também com muita terra, sendo excluídos de sua casa violentamente. 

O amigo também não saberá que nosso estado de São Paulo inaugurou o Parque Orlando Villas Boas, com projeto de museu/centro de formação criado por um dos mais relevantes e respeitados nomes de nossa arquitetura, Ruy Ohtake. Não saberá que a família Villas Boas tem mais de duas mil peças indígenas - algumas que já não existem por ações como a sua - e acervo fotográfico, filmes, etnologia e registros de troncos linguísticos, fonte para nossos cientistas e de todo o mundo? Também está desinformado de que museus de todo o planeta solicitam informações sobre o modo de vida dos índios, como exemplo de sociabilidade e comunhão. 

Bem, meu caro, vou fazer uso justamente da rede social para publicar este e-mail, solicitando a você uma RETRATAÇÃO PÚBLICA diante da nação envergonhada com seu texto.

Rita Alves - Membro Fundadora do Instituto Orlando Villas Boas"