A siderúrgica da ThyssenKrupp era considerada modelo. Mas devido a problemas ambientais e riscos à saúde dos moradores da região, a empresa tem sido alvo de críticas há anos. E os protestos chegaram também na Alemanha.
Era para ser um projeto de prestígio para ambos os envolvidos. Com o boom mundial do aço, a ThyssenKrupp queria produzir barato no Brasil para a exportação. O país, por outro lado, se animou com o maior investimento estrangeiro realizado nos últimos anos.
A siderúrgica geraria milhares de empregos e transformaria o país "na quarta economia mundial", como dissera o então presidente, Luís Inácio Lula da Silva, durante a inauguração da subsidiária da ThyssenKrupp, Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), em 2010.
No entanto, o resultado do investimento não saiu como esperado. A aventura transatlântica causou um desfalque de bilhões de euro nos cofres da empresa. E a siderúrgica na Baía de Sepetiba se transformou em alvo de críticas de ambientalistas e profissionais da saúde.
Katja Maurer, da organização Medico International contou à DW que "acidentes e contaminações aconteceram durante a construção e continuam acontecendo frequentemente durante a manutenção da indústria. Porém, a sucursal brasileira nega continuamente esses fatos."
O pescador Luis Carlos Oliveira perdeu a fonte de renda em Sepetiba
A organização de ajuda alemã acusa a CSA de seguir "uma política de minimização" dos supostos danos ambientais e prejuízos à saúde de moradores da região. Milhares de pescadores exigem indenizações.
Segundo eles, a construção e os trabalhos de escavação na baía contaminaram com o solo com metais pesados, e a vegetação do mangue foi destruída. "A ThyssenKrupp alega que esses danos ambientais já existiam antes do início da construção da siderúrgica", critica Maurer.
"Chuva de prata" na região
O último incidente aconteceu no início de novembro. Não foi a primeira vez que uma grande quantidade de pó de grafite escapou da siderúrgica. A chamada "chuva de prata" atingiu a região ao redor da CSA.
Em entrevista à DW, um porta-voz da ThyssenKrupp explicou a causa do problema. "Uma sindicância interna revelou que pó do terreno da indústria, provavelmente do monte de resíduos de minério, foi levado por uma forte rajada de vento". Segundo a empresa, medidas de limpeza e umedecimento permanente nesse local são suficientes para evitar a disseminação dessas partículas.
Entretanto, a forte rajada de vento e as altas temperaturas naquele dia contribuíram para que o pó de grafite e terra fosse espalhado com o vento, apesar das medidas de precaução. Segundo a empresa, "essa emissão não é nociva à saúde."
Mas a Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro tem uma opinião diferente. O secretário Carlos Minc ameaça a CSA de embargo comercial e impôs à empresa uma multa de cerca de quatro milhões de euros.
Mas a companhia usa a multa para limpar sua imagem, revolta-se Maurer. "A ThyssenKrupp pôde investir esse valor em projetos sociais nas comunidades atingidas. Nesses locais, eles fazem propaganda dizendo que as iniciativas são uma doação da CSA." Creches e postos de saúde foram financiados com o dinheiro da multa.
No entanto, o problema principal não foi resolvido. "Originalmente a siderúrgica foi construída sem filtros que são habituais na Alemanha. Partiu-se do pressuposto de que seria possível produzir causando maiores danos ambientais, e por isso, na hora da construção eles economizaram nesses filtros caros", explica Maurer.
Estudo para explicar a situação
Katja Maurer denuncia a política da ThyssenKrupp de negar os fatos
A Medico International e a organização não-governamental Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) pretendem fazer um estudo sobre a construção da CSA e seus efeitos no meio ambiente e na saúde dos moradores da região. "Nós queremos listar quais foram os incidentes e as queixas feitas até o momento", explica Maurer para a DW.
O papel dos postos de saúde locais também deverá ser pesquisado. Eles pretendem descobrir como os funcionários tratam das reclamações dos pacientes. "Há falta de transparência nesse setor. Médicos que atestam que problemas respiratórios e inflamações cutâneas dos pacientes são causados pela poluição da fábrica são transferidos subitamente", explica a especialista da Medico Internacional.
A ThyssenKrupp nega que a siderúrgica cause danos à saúde da população e para comprovar isso cita um relatório do instituto de pesquisa governamental Fundacentro, submetido ao Ministério do Trabalho. Segundo o estudo, não há "nenhum indício que relacione as emissões de pó de grafite aos sintomas descritos pelos moradores."
A CSA disse a DW que "se desculpou com os vizinhos pelos incômodos. Além disso, eles foram pessoalmente informados sobre todos os detalhes."
Procura-se um comprador
Maurer atesta uma mudança na política de informação da ThyssenKrupp nos últimos anos. "Pela primeira vez nossos parceiros brasileiros puderam visitar a siderúrgica e também conversar com pessoas no local." No entanto, ela acredita que não há interesse da empresa em discutir abertamente a questão sobre a procura de um comprador para o negócio não rentável e cheio de notícias negativas na imprensa.
A ThyssenKrupp deseja solucionar rapidamente os problemas causados pela aventura sul-americana. Segundo seu site, "todas as opções" para as unidades no Brasil e nos Estados Unidos estão sendo analisadas. Os bancos de investimento Goldman Sachs e Morgan Stanley estão a par do processo de venda. "O interesse nas duas fábricas continua alto e foi fortalecido por visitas aos locais."
Segundo informações da imprensa, o governo brasileiro quer impedir a venda da CSA para estrangeiros. A presidente Dilma Rousseff empenha-se fortemente para que empresas nacionais assumam o controle sobre áreas estratégicas e importantes como a mineração, agricultura, alimentação e telecomunicações.
Autora: Mirjam Gehrke (cn)
Revisão: Francis França