MATÉRIA DO JORNAL VALOR ECONÔMICO É REVELADORA DOS DESCAMINHOS EXISTENTES NO PROJETO DO COMPLEXO PORTUÁRIO-INDUSTRIAL DO AÇU
A matéria colocada na parte final desta postagem, e que foi publicada pelo Jornal Valor Econômico é um primor em muitos aspectos, ao revelar vários aspectos do processo de expulsão dos pequenos proprietários rurais do V Distrito de São João da Barra.
Primeiro, é que parte do estoque de terras obtidas pela desapropriação feita "em nome do interesse público" pelo (des)governo Sérgio Cabral foi entregue a uma empresa multinacional, o grupo ítalo-argentino Techint, que agora vem a público dizer de forma aberta que já recebeu o estoque de terras para a construção de uma siderúrgica que fabricará placas. O que o Grupo Techint não está dizendo é que centenas de famílias foram removidas de duas terras, e até agora poucas delas viram a cor do dinheiro.
Segundo, é que o Grupo Techint não está satisfeito em apenas receber uma terra que não era sua, e que foi tomada de famílias que ali viviam e produziam há várias gerações. O fato é que o Grupo Techint ainda se sente na condição de ditar à Petrobras que lhe entregue, como pré-condição da inauguração de sua planta, um total de 4 milhões de metros cúbicos de gás diários, sem que se sabe se isto atenderá os melhores interesses dos acionistas da empresa brasileira. Afinal, essa coisa de garantir entrega fixa de uma quantia tão alta a um único cliente pode impedir que melhores negócios sejam feitos com outros clientes. Mas a cara-de-pau do Grupo Techint é ainda maior quando seus porta-vozes indicam que além de terra de graça, ainda querem incentivos fiscais do tesouro do estado do Rio de Janeiro, os quais já foram acertados com o (des) governo Sérgio Cabral, faltando apenas a chancela da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro!
O terceiro e interessante ponto da matéria é que "o mercado ainda vê com desconfiança esse projeto por causa da aquisição de fatia da siderúrgica mineira, pela qual o grupo ítalo-aragentino pagou um prêmio considerado bastante elevado pelos analistas do setor de mineração e siderurgia." Em outras palavras, os jogadores do mercado financeiro especulativo ainda têm dúvidas se esse projeto é mesmo para valer, mesmo porque a USIMINAS que o Grupo Techint adquiriu anda mal das pernas. Assim, tanta demanda por benesses para se instalar no Açu, pode ser apenas um blefe para tentar melhorar o outro negócio que já existe, mas anda dando prejuízo.
Um quarto e final elemento é a notícia de que o Grupo Techint já possui as licenças de instalação para a supressão de vegetação, aterro hidráulico e obras de terraplenagem no terreno de 1.300 hectares, do qual já tomou posse. As terras da empresa ( que na verdade são de pequenos agricultores expulsos de terras aonde viviam há gerações )ficam a um quilômetro de distância do mar. O curioso é que o Grupo Techint anuncia isto como se fosse um diferencial, quando se sabe que no Rio de Janeiro, o emissor mór de licenças tipo "Fast Food", o ex-ambientalista Carlos Minc, é um pau para toda obra, quando se trata de facilitar a vida das corporações poluidoras, vide o caso tenebroso da Companhia Siderúrgica do Atlântico.
Disto tudo o que fica é que o (des) governo Sérgio Cabral anda tirando terras produtivas e entregando para uma empresa multinacional, e anda prometendo mais incentivos fiscais para quem já recebeu muito e não deu nada em troca. São por essas e outras que os salários dos funcionalismo do Rio de Janeiro são os piores do Brasil, e em vez de negociar com policiais e bombeiros, o (des) governador Sérgio Cabral utiliza de mecanismos hediondos de repressão e perseguição, como tem sido o caso das transferências de policiais do BOPE para batalhões da PM no interior, e da remoção forçada de policiais lotados no interior para a cidade do Rio de Janeiro.
Nisto tudo quem ri mesmo é Eike Batista que usando sua influência para obter as licenças "Fast Food" e para obter dinheiro dos cofres públicos, apenas para poder ganhar ainda mais quando vende seus "projetos" para as multinacionais. Como já disse aqui, assim até eu fico bilionário!
Com Usiminas, Ternium redefine projeto no Porto Açú
Por Vera Saavedra Durão | De São Paulo
Depois de comprar uma participação do bloco de controle da Usiminas por US$ 5 bilhões, o grupo ítalo-argentino Techint prepara nova investida na siderurgia brasileira via Ternium, seu braço de aço. O grupo mantém o plano de construir uma pelotizadora e uma usina de aço no Porto Açú, de Eike Batista, no litoral do estado do Rio de Janeiro. Sua meta é ser um grande player siderúrgico no país, apurou oValor. O investimento é bilionário e pode chegar a até US$ 3,5 bilhões.
A instalação completa do projeto - desenhado com a chamada tecnologia de redução direta, com uso de gás natural -, que já conta com licença prévia do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), depende porém da disposição da Petrobras em fornecer 4 milhões de metros cúbicos de gás por dia à usina. Desse volume, 2 milhões seriam destinados para a operação e outro tanto para gerar energia usada no processo de produção. Já houve conversas entre a Techint e a petroleira sobre o assunto, mas as partes ainda não chegaram a um bom termo. "O gás é o gargalo do projeto", disse fonte que acompanha as negociações.
Outro imbróglio praticamente destravado é o fornecimento de minério de ferro pela Anglo American. Esta semana, o presidente do braço de minério de ferro da Anglo no Brasil, Paulo Castellari, informou que ainda neste trimestre deve ser assinado um contrato de longo prazo entre as partes. O prazo e o volume já foram acertados. A expectativa de Castellari é que a Minas-Rio (subsidiária da Anglo) comece a operar para produzir 26,5 milhões de toneladas de minério de ferro [do tipo pellet-feed] a partir do segundo semestre de 2013. Desse total, um quarto será vendido à Ternium.
O desenho do projeto da empresa a ser erguido no Porto Açú prevê a construção de uma fábrica de pelotas de minério com produção entre 7 e 8 milhões de toneladas anuais a um custo orçado em US$ 1 bilhão. A usina de aço de redução direta [que vai consumir parte das pelotas] está programada para fabricar 2,5 milhões de toneladas anuais de aço. O valor do investimento é previsto entre US$ 2,5 bilhões a US$ 3 bilhões.
A ideia inicial da Ternium de construir uma usina de placas no porto da LLX para suprir o déficit de 3 milhões de toneladas do produto de suas siderúrgicas mexicanas foi descartada e agora, com a entrada no capital da brasileira Usiminas, o projeto encolheu praticamente à metade.
O mercado ainda vê com desconfiança esse projeto por causa da aquisição de fatia da siderúrgica mineira, pela qual o grupo ítalo-aragentino pagou um prêmio considerado bastante elevado pelos analistas do setor de mineração e siderurgia.
Mas os investidores continuam a trabalhar no projeto. Depois de obter licença prévia em dezembro de 2011, a Ternium aguarda a Licença de Instalação (LI) para supressão de vegetação, aterro hidráulico e obras de terraplenagem no terreno de 1.300 hectares, do qual já tomou posse. As terras da empresa ficam a um quilômetro de distância do mar. A instalação das usinas pode ocorrer dentro de dois a três anos após o recebimento de todas as LI. Inicialmente, a entrada em operação era prevista para 2013 a 2014.
Das quatro pré-condições necessárias para o grupo Techint fazer o anúncio oficial do novo negócio empreendimento só está faltando uma: o governo do estado do Rio encaminhar ao legislativo estadual o pacote de incentivos fiscais cujos termos já foram acordados com a Ternium. As três outras - concessão de licenças ambientais, desapropriação da área e posse do terreno e contrato de fornecimento de minério pela Anglo - já foram resolvidas ou estão em processo final de solução.