A nossas reflexões sobre os investimentos do Complexo Portuário do Açu sempre se basearam em sua natureza, ou seja, característica exógena e ancorada em recursos naturais. Neste caso, a proteção do território do seu entorno é essencial e obrigatória, tendo o Governo um papel de relevância no processo de articulação com os agentes envolvidos.
Alertamos que tal condição não ocorria, já que o poder público, tanto Estadual, como Municipal, optou pela proteção aos agentes produtivos em detrimento da sociedade. A prova concreta desta afirmação está no abandono das medidas compensatórias pactuadas nos estudos socioambientais e nas audiências públicas. Posso lembrar das prometidas ações para o fortalecimento do comércio local, agricultura familiar, além da criação de alternativas para inibir problemas na pesca artesanal.
Apesar da tentativa de ampliação dessas ideias, as respostas do empreendedor e do governo rotulavam os críticos de inimigos do "desenvolvimento", alimentando a expectativa da população com gastos pontuais e sem nenhuma relevância sustentável. Como exemplo, a construção de consultório dentário para pescadores, distribuição de brindes em eventos organizados pelo poder público, maquiagens em obras públicas, etc.
A crise deflagrada no grupo empresarial joga a tona questões importantes, já levantadas anteriormente, como a criação de expectativas sem o compromisso com a sua realização. O município já foi comparado à cidade de Xangai, viagens internacionais foram promovidas para observação dos modelos de distritos industriais na Europa e o comprometimento com a sustentabilidade foi estampado nas publicações sobre gestão de território.
Finalmente, com a notícia de extinção da diretoria de sustentabilidade, acompanhada de muitas demissões no grupo EBX, reacendem as nossas expectativas sobre o futuro do projeto e a sociedade precisa cobrar responsabilidade do poder público que contribuiu para esse quadro de incerteza e dificuldades para a população.