O (des) governo de Sérgio Cabral, com a prestimosa ajuda da reitoria da UENF, quer destruir de todo jeito o modelo institucional criado por Darcy Ribeiro. Em função disso há várias semanas a universidade se encontra imersa num debate que opõe aqueles que querem preservar os elementos fundamentais do modelo de excelência que vai completar 20 anos neste próximo agosto aos que querem ajudar Cabral a destruir a UENF que conhecemos até hoje.
Uma cabeça dessa hidra que ameaça a UENF é a chantagem explícita de que o Cabral só pagará um adicional pelo regime de Dedicação Exclusiva vigente para todos os docentes trabalhando na instituição se os professores aceitarem a quebra da regra de só se contratar docentes portadores de títulos de doutorado e trabalhando em tempo integral e de forma exclusiva, contratando professores que não obedecem esses critérios. Mas pior ainda é a tentativa de contratar professores em tempo parcial (a proposta da reitoria da UENF é professores horistas com 20 horas de carga de trabalho) sem que se exija o título de doutor, abrindo o caminho para mestres e graduados ingressarem apenas para darem aulas. Essa medida se aprovada representaria um gravíssimo retrocesso na UENF, pois impediria a realização de um ensino que esteja ancorado no tripé ensino, pesquisa e extensão.
A outra cabeça aparente dessa hidra é a tentativa de criar cursos de graduação que universalizem o modelo não-presencial em que apenas cursos de licenciatura são oferecidas no chamado modelo de "Ensino a Distância" (EAD) dentro do CEDERJ. Assim é que neste momento está em discussão o oferecimento de dois cursos de bacharelado de perfil não presencial. Essa proposta para cursos de bacharelado é especialmente devastadora, pois a tendência é que os formados por esses cursos não tenham o devido treinamento em pesquisa, o tenderá a empobrecer a sua capacidade de atuação profissional.
Um aspecto especialmente problemático deste desmanche do modelo idealizado por Darcy Ribeiro que se preocupava com a formação de profissionais com "consciência cidadã" é que a UENF seria colocada no mesmo nível de universidades particulares, onde a pesquisa científica é praticamente nula e com uma formação precarizada por causa disso.
Nesse sentido, o debate que continua ainda restrito ao interior do campus Leonel Brizola precisa ser de conhecimento de todos os que se preocupam em manter a UENF como um centro de produção de conhecimento e de democratização do conhecimento na região Norte Fluminense. É urgente que se amplie essa discussão sob pena de vermos a genialidade do modelo idealizado por Darcy Ribeiro ser varrido do mapa por um governo altamente impopular e sem nenhum compromisso com o desenvolvimento científico e tecnológico do Rio de Janeiro.
Finalmente, é preciso ter claro que o mesmo governo que desperdiça mais de R$ 1,0 bilhão com a reforma do Maracanã para depois entregá-lo praticamente de graça a um consórcio privado liderado por Eike Batista quer precarizar a UENF. Isso fica especialmente claro não apenas no achatamento salaria de professores e técnicos, mas na tentativa de desconstruir a essência do modelo acadêmico que foi construído por Darcy Ribeiro E isso não pode ser aceito ou tolerado.