Por Carlos Eduardo Martins
O povo está perdido...sabe o que não quer...mas não tem clareza do que quer...12 anos de governo petista não elevaram em nada a consciência de classe da população. Diferente da Venezuela, diferente da Argentina, diferente do Equador, diferente da Bolívia...onde as confrontações são muito mais claras. O PT no governo aliou-se ao grande capital, às oligarquias financeiras. Quis dirigir o neoliberalismo com a mão esquerda, fazendo politicas sociais dentro de certos limites.
Como fechar os olhos a isso? Como não ver estes graves erros? Ou o que? Acham que temos uma população de direita? Milhões de brasileiro de repente revelaram-se de direita? Como exigir das massas que elas coloquem com clareza questões que a esquerda brasileira, leia-se PT no governo, não colocou? Subestimou-se gravemente a aliança com os movimentos sociais. Cade a reforma agraria? Sufocada pela aliança com o agronegócio. Cade a auditoria da divida publica, se este governo é campeão de pagamentos de juros e se aliou com os lucros exorbitantes?
Cade a defesa dos trabalhadores se este governo destruiu a previdência pública em nome do superavit primàrio e considera servidores públicos privilegiados do Brasil? A unica forma de sairmos disso é o PT descer do salto e em nome da população brasileira romper com sua associação privilegiada ao grande capital e fazer prioritariamente política publicas para as massas. Querem que a população ache uma maravilha 20 bilhões de bolsa família contra 240 bilhões de juros, sem incluir as amortizações que levariam os gastos a 800 bilhões de reais? Querem que a população ache isso politica de inclusão e popular?
Não se trata de negar o que foi feito de positivo por este governo, mas é insuficiente e não é o IBOPE que vai dizer que não. Quem mede popularidade pelo IBOPE tem que rasgar seu diploma de cientista social.
A esquerda alternativa (PSOL, PSTU, etc) não tem condição de dar uma resposta às demandas atuais das massas. Se não houver uma resposta inclusiva do governo federal, a violência vai prevalecer e os riscos de golpe são crescentes. A direita esta explorando e vai explorar ao limite esta possibilidade. É o papel dela. O momento não é de orgulho, nem de acirrarmos divisões internas. O momento é de salvação do Brasil e sua democracia. Só há uma saìda: à esquerda.
Carlos Eduardo Martins é chefe do Departamento de Ciência Política da UFRJ e autor, entre outras obras, do livro "Globalização, Dependência e Neoliberalismo na América Latina"