Por Ana Paula Ragazzi | Do Rio
O empresário Eike Batista, entre 2006 e 2010, listou seis empresas de sua holding EBX na BM&FBovespa, numa ousadia inédita para os padrões tímidos do mercado de ações brasileiro.
Somados, os valores de mercado de cada uma delas quando chegaram à bolsa - uma abstração, já que as ofertas se deram em momentos diferentes - era de R$ 54,7 bilhões. No auge da euforia, quando cada uma delas atingiu seu pico na bolsa - também em momentos diferentes -, o Império X chegou a valer R$ 119 bilhões. Na quinta-feira, esse portfólio não somava 10% disso, ou cerca de R$ 10 bilhões.
Os números mostram que num curto espaço de tempo as empresas de Eike criaram e destruíram um valor imenso. Como as empresas vieram ao mercado como projetos, e bastante interligados, a capacidade de execução de seu controlador é parte relevante na formação dos preços.
Por isso, além das projeções que sinalizam a falta de fôlego financeiro para o grupo, a corrosão das empresas na bolsa reflete o atual ceticismo dos investidores em relação a Eike - um ceticismo tão exacerbado quanto a euforia que colocou o empresário entre os mais ricos do mundo.
Nessa situação de extremos, quem antes incensava pode agora pedir a cabeça, apostando num efeito positivo nos preços das ações com o afastamento do empresário do comando. Mas o que essa oscilação vertiginosa também deixa visível são as dificuldades e os exageros do mercado na avaliação das companhias.
Eike Batista, em nota oficial há 15 dias, informou que está em busca de parcerias estratégicas para as empresas ou negócios que propiciem "criação de valor e liquidez aos seus acionistas".
Somadas, as participações do empresário em cada empresa listada valem hoje R$ 4,5 bilhões. Quatro das seis empresas captaram R$ 12 bilhões na bolsa; outras duas foram cindidas e listadas.
O valor dessas companhias na bolsa, R$ 10 bilhões, está muito abaixo do que os contadores cravam no balanço, R$ 18 bilhões (patrimônio líquido). Essa lacuna pode ser considerada o preço da descrença dos investidores. Mas um comprador estratégico, na mesa de negociações, tem um olhar diferente do investidor em ações, e pode desenterrar valores escondidos. Saber onde fica o "preço justo" agora é um trabalho árduo.
Alexandre Galvão, professor do Ibmec, lembra que a avaliação de analistas de mercado é diferente da feita internamente pelas próprias companhias. O mercado, diz, tende a focar o curto prazo e não tem acesso a todas as informações internas da empresa. Além disso, tende a ser mais otimista ou pessimista, dependendo do momento do negócio. Já a empresa, ao abrir a negociação com possíveis parceiros, poderá ter avaliações diferentes dos contratos e de seus projetos no longo prazo, que passam, inclusive, pela sua avaliação de como poderão ou não executá-los.
"Obviamente, o comprador vai olhar qual o valor da empresa antes e depois de seu ingresso na sociedade. A intenção dele vai ser não pagar essa diferença, se houver incremento, mas isso vai depender da negociação. Normalmente elas saem com um prêmio", diz Galvão.
Um executivo de banco de investimento comenta que o valor mercado pode ser uma avaliação muito superficial, que não reflete tudo que se pode aprender de bom ou de ruim que a empresa possui e que o mercado não está percebendo. "O processo de "due diligence" [auditoria dos números para aquisição] pode mostrar que uma empresa vale muito mais ou muito menos do que o valor de mercado expressa", diz.
No caso das empresas X outros fatores podem virar moeda de negociação, como por exemplo, prejuízos acumulados de R$ 6 bilhões pelas empresas listadas. Essas perdas poderão se transformar em um ativo cobiçado por um eventual comprador, uma vez que esses prejuízos podem ser revertidos em créditos tributários. Esse já foi um atrativo para o caso da MPX, que concentra R$ 1,6 bilhão em prejuízos acumulados, no aumento da participação da alemã E.ON. E poderá ser também um apelo para MMX e OGX, que acumulam, respectivamente, R$ 1,9 bilhão e R$ 2,1 bilhões.
É com esses números nas telas de todos que o grupo está à procura de parceiros. A diminuição da participação do empresários nos negócios já é dada como certa desde que fechou a parceria com o BTG. Aparentemente o próprio banco de investimentos tinha uma visão mais positiva para os negócio. Quando fechou a operação de aumento de participação para a E.ON deu garantia firme de colocação para uma oferta pública de ações de R$ 1,2 bilhão na MPX. O banco se comprometeu a pagar R$ 10 por ação, valor próximo ao da época do negócio, em março passado - no entanto, o papel vale hoje ao redor de R$ 7,80 no mercado. O mercado especula que a oferta poderá não se confirmar, ou a operação ter seu formato modificado, em função da diferença de preços. Procurada, a MPX diz estar em "em período de silêncio por conta da potencial oferta de ações".
Nos bastidores, o mercado comenta que, para alguns negócios, Eike tem pedido valores altos demais; para outros quer definir os formatos de negociações. Embora, de seu lado, o mercado de certa forma pressione esperando para ver até quando o grupo terá fôlego financeiro para manter negociações mais duras para o controle dos ativos.
Alexandre Póvoa, sócio da Canepa Asset, explica que se as conversas forem com investidores estratégicos, eles vão colocar na conta da negociação as prováveis sinergias e por eventuais formas de capturá-las. Quando o investidor é financeiro, que vai simplesmente aportar recursos, ele vai contribuir para diminuir o risco da operação, reduzindo seu custo de capital, o que ajuda a melhorar o valor.