Restaurantes universitários (os populares bandejões) não são populares nas reitorias das universidades que normalmente temem a aglomeração contínua dos membros das comunidades universitárias num mesmo espaço. Essa relação esquizofrênica entre governantes eleitos e seus eleitores não fica restrito para o lado de fora das universidades, mas estranhamente tendem a se potencializar nestes espaços onde a liberdade de crítica deveria ser um requisito para a formação de profissionais que também sejam dotados de um compromisso com o exercício plena da cidadania. É que muitos dirigentes universitários são eleitos para defender os interesses das universidades, mas corriqueiramente passam a se comportar como membros dos governos contra os quais deveriam se esforçar para obter as melhorias ansiadas pelos que estão dentro das instituições assim que sentam nas cadeiras do poder universitário.
O bandejão que está sendo construído na UENF desde o longínquo ano de 2008 é um bom exemplo de como apenas sob forte pressão do estudantado dentro da universidade e na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro se chegou à decisão de construí-lo. Mas esse projeto nunca foi bem digerido pelas diferentes administrações que assumiram a UENF após a separação da FENORTE.
A questão é que cada vez mais ajustados a se comportar como representantes do governo estadual dentro da UENF (quando o comportamento correto seria justamente o oposto), os diferentes ocupantes da reitoria não querem aglomerações onde em meio a uma garfada e outra, membros dos diferentes segmentos possam se sentar, conversar e refletir sobre a situação em que a instituição se encontra.
Esse comportamento explica ao menos em parte porque essa obra sofreu tantas idas e vindas, e termina custando um valor desconhecido, mas que gira em torno de uma cifra milionária que vai de 2 a 4 milhões de reais. E nem todo esse dinheiro está garantindo que a estrutura que será disponibilizada num futuro ainda desconhecida seja de qualidade. Basta olhar o telhado e ver as telhas feitas de amianto e o revestimento com o mesmo material. Num obra desse porte e custo, a obrigação seria termos coisa muito melhor em termos de qualidade. Em termos de comparação a sede social da ADUENF acaba de ser inaugurada, com recursos próprios, com um custo pouco além dos R$ 200 mil, levando um oitavo do tempo da obra do bandejão!
Agora que as licitações para a compra das câmaras frias, móveis e utensílios já estão na praça, o que deveria preocupar os futuros usuários (mas principalmente os estudantes) é sobre o modelo de gestão privada que a atual reitoria da UENF está querendo impor no futuro funcionamento do bandejão. Essa opção pela gestão privada traz sérios problemas para os usuários mais pobres, pois envolverá a persistência muito provável de um custo muito alto na alimentação. De quebra, ficará muito difícil se exercer o controle de qualidade. A experiência mostra que quando pressionados a melhorar a qualidade da refeição que servem, a maioria dos concessionários privados prefere abandonar o contrato e partir para outros locais onde a exigência de transparência seja menor. um exemplo disso são as cozinhas industriais que fornecerem milhares de quentinhas cuja qualidade é impossível de ser controlada pelos consumidores.
Mas o problema aqui é mais sério, pois da forma que este processo de privatização do bandejão está se dando tem pouca ou nenhuma transparência. Isso é agravado pela maneira com que o processo de decisões relacionadas à opção pela gestão privada do bandejão da UENF está se dando, pois a maioria absoluta da comunidade nem acha mais que a estrutura vá vir a funcionar.
Deste modo, a necessidade dos estudantes e suas organizações comecem a discutir um modelo público de gestão e controle do funcionamento do bandejão é mais do que urgente. Do contrário, os estudantes que lutaram tanto por esse serviço vão ter que resignar a continuar a comer salgados para não passar fome dentro do campus. E isso seria uma completa injustiça. Afinal, a história nos mostra que até a violência da polícia e de militantes profissionais os estudantes tiveram que enfrentar dentro do campus, inclusive sob o olhar complacente do reitor da época em que isto ocorreu quando vivíamos sob o governo estadual de Rosinha Garotinho.
Assim, a hora de cobrar transparência e exigir um modelo público de gestão do bandejão é agora. Depois vai ser tarde!