Noto após leitura de mais uma postagem do meu caro colega blogosfera Douglas da Mata (Aqui!) que ela cisma em me adjetivar de "ultra esquerdista" em vez de começar o trabalho de disputa que pessoas tem que fazer no seu próprio partido que, convenhamos, não é mais de esquerda. Ele poderia começar trabalhando para requisitar a saída do governo do "bom petista" Paulo Bernardo, ministro das Comunicações, que nas páginas amarelas da Revista Veja acaba de desancar os condenados do Mensalão e a própria militância do PT que, segundo ele, é formada por pessoas que "extrapolam".
Quanto ao discurso de Dilma Rousseff, essa é outra coisa. O discurso dela poderia ter sido proferido pelo Fernando Henrique Cardoso ou até pelo Fernando Collor. Que presidente iria para a televisão dizer que os milhões que foram às ruas são todos vândalos. É óbvio que é mais fácil dizer, como anda dizendo a Rede Globo, que essa é uma minoria e que ela conversa com as lideranças. Mas que lideranças perguntaria alguém minimamente atento! Falar que conversas com lideranças de movimentos marcados com a horizontalidade é quase dizer que vai realizar uma entrevista ao vivo com Jesus Cristo. Pode ser a coisa mais desejável do mundo, mas de chances concretas bastante escassas. A não ser que tenhamos chegado à beira do "Juízo Final" e a Rede Globo tenha perdido esse furo de reportagem.
Aliás, ela vai chamar os governadores para que mesmo? Essa questão da mobilidade se resolve por lei ou decreto? Ou teríamos que ter uma modificação estrutural na forma com que se pensa o transporte urbano no Brasil? E para isso há dinheiro? Ora, hoje mais de 40% do orçamento da União está indo para pagamentos de juros, enquanto o índices dos gastos (isso segundo o discurso da Dilma) de saúde, educação e habitação não chegam a míseros 10%. Aliás, como observou alguém que ouvi recentemente, você sabe para quem se governa quando se olha o orçamento do governo. No caso do governo Dilma, está claro que é para os banqueiros, latifundiários e escolhidos para serem as caras bonitas do capitalismo tupiniquim como é o Sr. Eike Batista.
Além disso, eu fico esperando a hora que um petista do Rio de Janeiro vai ter a coragem de fazer uma crítica mínima que seja aos desmandos do (des) governador Sérgio Cabral. As cenas protagonizadas na 5a. feira pelo BOPE e pelo Pelotão de Choque, com ataques inclusive a hospitais deveriam merecer o mais profundo repúdio dos petistas. Mas não, o que se vê é na aceitação de quem pauta o que o governo federal faz é a Rede Globo.
Assim, se ter este tipo de posicionamento frente à realidade é ser de ultra-esquerda, estamos caminhando rapidamente para o ultra-esquerdismo generalizado. É que se olharmos o que aconteceu majoritariamente nas múltiplas manifestações que ocorreram e continuam ocorrendo no Brasil é uma crítica profunda à manutenção desse status quo vergonhoso que gasta bilhões em estruturas inúteis que só favorecem os ricos, enquanto para os pobres sobram as balas de borracha, as bombas, e as remoções forçadas para a construção de condomínios fechados e outros tipos de megaempreendimentos, como é caso do Complexo do Açu.
Finalmente, aos neopetistas que se indignam com as minhas leituras de realidade, só posso dizer uma coisa: como ateu eu não discuto religião, discuto política. É que muitas análises sobre a realidade que eu vejo parecem nascer do interior do neopetismo parecer advir de ligações diretas com elementos sobrenaturais. Ai, me desculpem, eu passo!