Por Carlos Eduardo Martins
1) Muitos explicavam a moderação excessiva do Governos Lula e Dilma, expressa numa profunda subordinação ao capital financeiro, que se apropria de 40 a 50% do orçamento público...pela ausência de movimentos sociais que o empurrasse á esquerda. Não dava para avançar mais porque não existiam movimentos sociais. Pois bem agora que eles estão na rua, o que vai se fazer com eles? Desqualificá-los? Por representarem um massa que não está sob o comando da esquerda tradicional e nem dos seus aparelhos burocráticos? Mas como desqualificá-los se foram um dos únicos movimentos sociais vitoriosos no país nos últimos anos, derrotando todos os governos estaduais, municipais de qualquer partido?
Não deve a esquerda tradicional repensar profundamente sua prática? Sua aproximação das oligarquias econômicas e dos monopólios de comunicação? O seu afastamento dos movimentos sociais? Sua tentativa de desmobiliza-los através dos recursos que o Estado oferece? Sua aproximação da Igrejas católicas e evangélicas respaldando as posições mais reacionárias sobre aborto e união homoafetiva?
2) Se O PT desde 2003 vem gerenciando com certo êxito uma ordem, a ponto de seus lideres afirmarem que os banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro, seria estranho que o grito contra a desigualdade e exclusão respingasse também em lideres do PT? Como emergir um movimento social contra a a desigualdade que não respingue nas lideranças políticas máximas do país? Esse movimento por isso é de direita,? Ou essas lideranças devem repensar suas práticas...voltar as suas origens? Não é estranho que os mesmos que gritam abaixo a Rede Globo, gritem contra os aliados locais do governo federal? Será porque não se fez nada para quebrar a força das emissoras de TV? Será porque 80% das verbas de publicidade o governo gasta na grande mídia? Será porque não há nada aqui parecido com a "Ley de Medios da Argentina?
3) Finalmente a tese da iminência de um Golpe da direita, que esta sendo usada para esvaziar as ruas que teriam sido sequestradas pela direita. Em primeiro lugar qual o fundamento de que a as manifestações foram sequestradas pela direita? Na Avenida Paulista a manifestação da direita teve 30 mil pessoas. Nada perto de outras manifestações. E qual o problema da direita ir pras ruas? Hugo Chavez desistiu das ruas porque a direita estava nelas? Não venceu a direita todas as vezes organizando um movimento de massas de esquerda nas ruas. Ou será que o governo federal não quer mobilizações de massa? Qual a chance de um golpe de direita? Quem o daria? Um parlamento desmoralizado? Na linha de tiro da população? Um parlamento onde o governo tem maioria parlamentar? Onde qualquer processo de impeachment teria que ter 2/3 de um parlamento sob controle? Os militares? com o desgaste histórico que acumularam? Passando por cima do parlamento? O que não ousaram fazer em 1964, pois o golpe partiu do congresso?
Não vejo a menor possibilidade.
Está mais que na hora do governo dar meia volta rumo à esquerda e ter de fato uma estratégia para aproveitar sua energia extraordinária para fazer as grandes transformações que o Brasil precisa.
Como parte da esquerda buscar sua unidade para lançar uma agenda de transformações profundas no campo econômico, politico, social e cultural ao nosso povo elevando o seu nível de consciência.
Carlos Eduardo Martins é chefe do Departamento de Ciência Política da UFRJ e autor da obra "Globalização, Dependência e Neoliberalismo na América Latina".