A matéria abaixo publicada pela Folha de São Paulo não trata apenas do calote que a OS(X) teria dado na espanhola Acciona na bagatela de R$ 500 milhões, mas de aspectos mais amplos da crise que consome o Grupo EB(X) e seu mentor/proprietário Eike Batista.
Essa matéria desvela de uma vez por todas a intrincada teia de relações entre o conglomerado de empresas "X", seus credores e o papel do Estado brasileiro como uma espécie de fiador das operações financeiras de Eike Batista.
De uma forma aparentemente desconexa, a saga de Eike Batista e suas empresas "X" é uma síntese de tudo que anda de errado nas opções de investimento do Estado brasileiro. E a conexão com a situação conflitiva em que o Brasil está neste momento não poderia ser mais direta: Eike participou diretamente da privatização do maior símbolo do patrimônio público carioca que é o Estádio do Maracanã.
No plano local eu só gostaria de ver a cara daqueles que insistem que tudo está dominado no Complexo do Açu e que, apesar de tudo, Eike Batista ainda é o cara.
Finalmente, por que continuam desapropriando terras de agricultores familiares para entrar para um empreendimento que claramente está em dificuldade até para pagar seus credores? Isso não faz o menor sentido. Ou faz?
RAQUEL LANDIM, DE SÃO PAULO
Eike Batista acena para fotógrafo após encontro no Palácio das Laranjeiras, no Rio
A OSX, estaleiro do empresário Eike Batista, está com sérias dificuldades. A empresa deu calote em ao menos um fornecedor e está sendo pressionada por bancos a pagar ou renegociar R$ 2 bilhões em dívidas de curto prazo.
Segundo a Folha apurou, a OSX não honrou um pagamento de cerca de R$ 500 milhões à construtora espanhola Acciona. As duas empresas seguem negociando, mas a Acciona não descarta pedir a falência da OSX.
Os espanhóis estavam construindo o píer de atracação de navios do estaleiro da OSX no porto do Açu, em São João da Barra, no litoral norte do Rio de Janeiro (RJ). O porto, que pertence a empresa de logística LLX, é outro megaprojeto de Eike.
Por meio de nota, a OSX informou que "os contratos com fornecedores têm cláusulas de confidencialidade que impedem a empresa de comentar". Os porta-vozes da Acciona na Espanha não foram localizados até o fechamento desta edição.
Advogados contratados por Eike e a equipe do banco BTG estão negociando intensamente nas últimas semanas com fornecedores e bancos credores para evitar a recuperação judicial ou até a falência da OSX.
O maior receio é um efeito dominó nas empresas do grupo EBX, que já sofrem com uma crise de confiança dos investidores. No último ano, o valor de mercado das companhias do "império X" (que reúne OGX, MPX, OSX, LLX, MMX e CCX) caiu R$ 36 bilhões, para R$ 9,74 bilhões.
A situação da OSX é tão grave que o estaleiro conta com a assessoria do escritório de advocacia Mattos Filho e contratou a empresa especializada em reestruturação de dívidas Alvarez & Marsal. Esta foi a responsável pela recuperação judicial da Varig.
A Acciona é uma das principais fornecedoras da OSX. Segundo o balanço do primeiro trimestre do ano, a OSX deve R$ 724 milhões a fornecedores -R$ 623 milhões a companhias de fora do país.
Os estrangeiros estariam sendo mais duros nas negociações com a OSX do que os bancos nacionais, que temem arcar com prejuízos importantes em seus balanços.
As dívidas bancárias da OSX com vencimento nos próximos 12 meses chegam a R$ 1,922 bilhão. Os principais credores são Itaú BBA, BNDES, Caixa Econômica Federal e o Arab Banking Corporation. Segundo a nota da OSX, suas dívidas de curto prazo estão "equacionadas".
DEMISSÕES EM MASSA
A OSX vem realizando demissões em massa. Na última quarta-feira, uma liminar da Justiça do Trabalho determinou que a empresa reintegre 331 funcionários que foram demitidos desde janeiro. A empresa disse que está tomando as medidas cabíveis.
Conforme a Folha apurou, as obras do estaleiro da OSX no porto do Açu estão quase abandonadas. A empresa diz que "as obras não estão nem serão paralisadas".
A OSX diz que "vem implementando o novo plano de negócios", que "foca nas atividades de leasing, que são geradoras de caixa, e na construção do estaleiro em fases".
O braço de leasing da OSX contratou a construção de três plataformas de produção de petróleo na Ásia, mas apenas uma ficou pronta e está alugada para a OGX (que também tem graves problemas).
As duas ainda em construção também seriam destinadas à OGX, mas a reportagem apurou que uma delas pode ser negociada com a Petrobras. A estatal não comenta.