quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Flexibilização das unidades de conservação são um risco ambiental
30 de agosto de 2012


Do IHU Online


A sinalização do governo federal de flexibilizar ou alterar o limite das unidades de conservação na região amazônica é dúbia e contribui para o aumento do desmatamento na região. De acordo com o agrônomo Adalberto Veríssimo, “toda vez que o governo sinaliza uma disposição para negociar” com os grileiros que ocuparam unidades de conservação de modo irregular, e oferece um percentual do território para ocupação, “há uma queda de braço, que acaba resultando em um aumento do desmatamento. É como se fosse uma corrida em que os ocupantes ilegais tentam desmatar ainda mais, para que o governo exclua a área como unidade de conservação, porque ela já está desmatada. É isso que está acontecendo agora”.

Segundo ele, esta é uma prática comum na região. “Tradicionalmente, na Amazônia, a forma como os atores socioeconômicos procuram assegurar o direito da propriedade é desmatando para, de um lado, gerar o fato consumado e, de outro, gerar a ideia de que eles estavam tentando desenvolver alguma atividade produtiva. É um conceito antigo, ultrapassado, mas ainda é uma forma que predomina nessas regiões do Brasil”, relata à IHU On-Line em entrevista concedida por telefone.

Na avaliação de Veríssimo, a possível flexibilização das unidades de conservação também está relacionada com a construção do complexo hidrelétrico do Tapajós, embora o processo de estudo na área ainda não tenha sido concluído. “A redução das áreas de conservação sinaliza que esse empreendimento poderá ser realizado. Se isso acontecer, uma área do Tapajós será desmatada. O governo alega que será uma área mínima, e que a construção do complexo hidrelétrico do Tapajós será diferente de Belo Monte, porque não terão grandes canteiros de obras. Mas sabemos que as hidrelétricas na Amazônia geram impactos sociais, como a migração excessiva, o caos urbano, aumento da violência, além de afetar as comunidades indígenas”, frisa.

Para ele, apesar de o discurso governamental ser otimista em relação aos cuidados sociais e ambientais, “a história recente tem mostrado que o governo está com muita dificuldade de operar esse tipo de empreendimento”. E dispara: “Temo que o Tapajós se torne uma área mais crítica do que Belo Monte, porque no Tapajós há três fatores perigosos: o asfaltamento da BR-163; a possibilidade de construção das hidrelétricas, que poderia, juntamente com o asfaltamento, criar uma onda muito forte de ocupação naquela região; e o crescimento do garimpo de ouro, porque o preço do ouro aumentou no mercado.

Adalberto Veríssimo (foto) é engenheiro agrônomo, pós-graduado em Ecologia, pela Universidade Estadual da Pensilvânia, EUA. Cofundador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – Imazon, atualmente é pesquisador sênior da instituição.


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