sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Poluição faz China 
restringir venda de carros 


As grandes cidades chinesas estão recorrendo cada vez mais a cotas de emplacamento de veículos para controlar a poluição e atenuar o congestionamento do tráfego. Depois de Pequim e Xangai, a última a adotar a medida é Cantão, ou Guangzhou, no sul do país. A cidade decidiu limitar o número de novos emplacamentos em cerca de 50% do total do ano passado.

No ano passado, Pequim começou a realizar sorteios para emitir placas de automóveis; os emplacamentos foram limitados em 240 mil para 2011. Em Xangai, os emplacamentos são leiloados desde 2002; atualmente, são autorizados cerca de 8,5 mil novos emplacamentos mensalmente.

O Mizuho Financial Group prevê que o maior rigor de Cantão desacelerará as vendas de automóveis, e que isso poderá ameaçar montadoras como a General Motors e a Volkswagen, que estão dependendo do crescimento da China, o maior mercado automotivo do mundo, para contrabalançar a queda da demanda na Europa.

"As novas restrições de Cantão corroboraram a tendência de adoção de mais controles", escreveram em relatório Ole Hui e Jeremy Yeo, analistas do setor automobilístico da Mizho. "Outras cidades vão fazer o mesmo, uma vez que muitas já alcançam níveis de poluição e de congestionamento excessivamente altos." Maior produtora mundial de emissões de carbono, a China abriga 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo, segundo o Banco Mundial.

Em Cantão, com uma população de 10,3 milhões de pessoas, a velocidade média dos veículos é de cerca de 20 quilômetros por hora, e deverá ficar ainda mais lenta em 2013, prevê o governo. No fim de maio havia um total de 2,41 milhões de veículos na cidade, número correspondente a mais que o triplo do total de vagas de estacionamento. Isso levou a cidade a decidir que apenas 120 mil novos emplacamentos seriam emitidos no período de 12 meses iniciado em 1º de julho.

A medida tomada por Cantão poderá levar as montadoras a centrar as atenções nas cidades de menor porte. "Mesmo que novas grandes cidades chinesas lancem controles de emplacamento, prevemos que isso não afetará o potencial de crescimento durante vários dos próximos anos", ponderou por e-mail Andreas Hoffbauer, porta-voz da Volkswagen em Pequim. "As cidades de segunda e terceira linhas constituirão a maior contribuição ao crescimento do mercado automobilístico chinês."

Apesar dos controles adotados por Cantão, o governo central não permitirá que muitas outras cidades imponham restrição semelhante à propriedade de veículos, prevê o analista Cao He, da China Minzu Securities de Pequim. "Se um número excessivo de cidades seguir esse exemplo, teremos certamente um desaquecimento das vendas de veículos e do crescimento da economia", disse ele.

A demanda chinesa por veículos já desacelerou neste ano, diante da perda de impulso do crescimento da economia e da alta dos preços dos combustíveis. As vendas de veículos de passageiros aumentaram 5,5% nos cinco primeiros meses do ano, segundo a Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis, comparativamente à alta de 6,1% registrada no mesmo período de 2011.