Demanda interna não tem sido capaz de compensar queda nas exportações; redução de ritmo de crescimento chinês impacta o mundo inteiro, especialmente países exportadores de commodities agrícolas e mineiras, como é o caso do Brasil
PEQUIM, 9 Jun (Reuters) - O crescimento da China pode desacelerar ainda mais após dados divulgados neste domingo mostrarem atividade moderada em toda a economia, em maio, diante da desaceleração global, aumentando a possibilidade de cortes nas taxa de juros.
Nas últimas semanas, cresceram as evidências de que a economia da China está perdendo rapidamente o ritmo de crescimento, já que a demanda interna fraca não está conseguindo compensar a enfraquecida exportação, enquanto os principais parceiros comerciais do país lutam contra a desaceleração de suas economias.
Uma série de dados divulgados no fim de semana corroboram essas evidências, com as exportações de maio alcançando o menor crescimento em quase um ano, a inflação, o crescimento dos empréstimos bancários, investimentos abaixo das expectativas, além de produção e vendas no varejo crescerem apenas sob o mesmo ritmo de meses anteriores.
"Os números de atividade indicam expansão contínua, mas o crescimento continua pouco convincente e o impulso parece ter perdido o ritmo em maio", disse o economista Louis Kuijs, do RBS, em uma nota.
"As perspectivas de crescimento a curto prazo continuam sujeitas a riscos, o que pode muito bem nos levar a revisar ainda mais para baixo a nossa previsão de crescimento para 2013".
A inflação ao consumidor da China caiu para 2,1 por cento, o mais baixo percentual em três meses, enquanto os custos de produção caíram 2,9 por cento, o nível menor desde setembro. Uma pesquisa da Reuters havia apontado a inflação em 2,5 por cento e os preços em porta de fábrica com queda de 2,5 por cento.
"Os dados sobre a inflação mostram que o crescimento econômico da China continua a desacelerar. O crescimento no segundo trimestre é provavelmente ainda mais lento do que no primeiro trimestre. Em particular, os dados ... mostraram demanda muito fraca", disse o economista-chefe da Mizuho Securities Asia em Hong Kong, Jianguang Shen.
Dados do Banco Central mostraram que os bancos chineses emprestaram 667,4 bilhões de iuans (109 bilhões de dólares) em novos empréstimos em maio, não alcançando as expectativas do mercado de 850 bilhões de iuans e inferior aos índices de abril de 792,9 bilhões de iuans.
O financiamento social total, uma ampla medida de liquidez, foi de 1,19 trilhões de iuans contra 1,75 trilhão de iuans em abril.
Entretanto, o crescimento das vendas no varejo, investimentos em ativos fixos e produção industrial atingiram as expectativas em 12,9 por cento, 20,4 por cento e 9,2 por cento, respectivamente, mas os números pouco mudaram em relação ao mês anterior.
No sábado, dados oficiais mostraram que as exportações da China registraram sua menor taxa de crescimento em quase um ano, no mês de maio, enquanto as importações caíram inesperadamente.
PREÇOS E OUTROS RECURSOS
Em 2012, a economia da China cresceu em seu ritmo mais lento em 13 anos, e até a desaceleração vem surpreendendo, trazendo alertas de alguns economistas de que o país pode não alcançar sua meta de crescimento de 7,5 por cento para este ano.
Os dados vão permitir à China manter uma política monetária simples e alguns vêem a possibilidade de o Banco do Povo da China fazer um corte as taxas de juros ainda este ano para reduzir os custos de financiamento de empresas chinesas em dificuldades, desde que a inflação no setor de habitação não saia do controle.
Economistas do governo das principais organizações de Pequim, disseram à Reuters esta semana que a nova liderança do presidente Xi Jinping e do premiê Li Keqiang vai tolerar a queda do crescimento trimestral até 7 por cento, antes de agir para levantar a economia.
Li adotou um tom mais otimista no sábado e foi citado pela televisão estatal, dizendo que a economia da China está estável em geral, o crescimento está dentro de um "relativamente alto e razoável" índice e a situação do emprego também se mantém estável.
Além disso, o Banco Central está em um dilema quando se trata de taxas de juros, uma vez que os preços dos imóveis continuam a subir, e um corte nas taxas poderia abastecer uma bolha que o BC vem se esforçando para conter nos últimos meses.
"Os preços dos imóveis vão saltar se houver corte nas taxas de juros, já que as recentes medidas de resfriamento do governo não têm alcançado os resultados desejados", disse economista sênior do Bank of Communications, Tang Jianwei, em Xangai.
"E cortar as taxas pode não ser eficaz em retardar entradas de dinheiro especulativo, que são movidas principalmente por expectativas de valorização do iuan".
(Reportagem adicional de Kevin Yao, Edição de Ron Popeski e Jeremy Laurence)