China vira maior vendedor de feijão-preto para o Brasil
TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO
Maior compradora dos produtos agrícolas brasileiros, a China também tem enviado mais bens "naturais" ao país.
Em 2012, o Brasil comprou US$ 2,3 bilhões do agronegócio chinês, alta de 4,5% ante 2011, quando essas importações já haviam subido 47%, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
O feijão-preto é o grande destaque da pauta. No ano passado, a China ultrapassou a Argentina e se tornou o principal fornecedor de feijão para o Brasil em toneladas. Em dólares, as vendas aumentaram 200% ante 2011.
A seca em regiões produtoras, como o Sul e o Nordeste, estimulou as importações em 2012. Com a produção argentina também afetada pelo clima, a indústria nacional procurou uma alternativa.
"O país foi buscar feijão na China em razão da boa oferta e da qualidade do produto", diz Vlamir Brandalizze, sócio da Brandalizze consultoria, especializada no setor.
O preço também fez a diferença. "O feijão argentino estava pelo menos R$ 20 mais caro, por saca, do que o chinês, já considerando o frete."
Segundo Brandalizze, o Brasil novamente precisará importar cerca de 200 mil toneladas de feijão, devido à menor área plantada no Sul e à seca de dezembro na região central do país, o que reduzirá a produção.
A posição dos principais exportadores, porém, deve se inverter. "O clima está muito desfavorável para o feijão na China e muitos produtores migraram para o milho", diz o consultor. "Vamos depender mais da Argentina."
Editoria de Arte/Folhapress
BACALHAU CHINÊS
Os pescados também ganharam relevância nas exportações chinesas para o Brasil.
A China se tornou a principal vendedora de merluza para o Brasil em 2012, novamente superando a Argentina.
O Brasil comprou US$ 111 milhões em merluza da China no ano passado -mais do em que motocicletas (US$ 93 milhões) e automóveis (US$ 50 milhões). Em 2011, esse produto nem constava na pauta dos dois países.
As importações de bacalhau chinês já ocorrem há mais tempo -em 2011, ultrapassaram US$ 200 milhões.
Mas o CEBC percebeu uma mudança no perfil das vendas. Os chineses começaram a substituir o bacalhau em carcaça pelo filé de bacalhau, processado na origem.
"A China busca agregar valor em todos os seus produtos", afirma o presidente do CEBC, Sergio Amaral.
"Esse é o maior potencial da pauta agrícola, que é muito importante na relação entre os dois países. Também devemos exportar produtos com valor agregado", afirma.
Para o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, a importação de produtos agrícolas chineses não pode ser vista como uma tendência.
"A China detectou oportunidades comerciais e, com a oferta de preços baixos, soube se aproveitar delas", diz.