Tive o privilégio de conhecer e conviver com Cícero Guedes, ex-cortador de cana e ex-trabalhador escravo que a luta pela reforma agrária transformou numa das principais lideranças camponesas do Rio de Janeiro. Ainda que eu já devesse me acostumar com este tipo de perda violenta, pois o Cícero é apenas mais que é morto pelos que se opõe à reforma agrária e às transformações estruturais que precisamos no Brasil, a verdade que não consigo.
Aqui não se trata de sentimentalizar uma perda, mas de ressaltar que a perda não é apenas humana, mas profundamente política. Além de ser um exemplo de homem, marido e pai, Cícero incorporava as melhores qualidades que as verdadeiras lideranças devem ter. Além de ter transformado um ex-pedaço de latifúndio improdutivo em terra para o plantio de alimentos, Cícero vinha lutando para criar as estruturas que permitissem aos assentados do Norte Fluminense ganhar mais pelo trabalho duro que realizam.
Agora aos que ficam, a obrigação não é apenas exigir a apuração e a prisão dos assassinos, mas continuar o esforço organizativo que o Cícero vinha tentando fazer. Em minha modesta opinião esta será a única forma efetiva de seguir o caminho aberto pelo Cícero.
E seguir empunhando a bandeira que ele sempre tão energicamente segurou e defendeu.