terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Entrevista com o Prof. Carlos Rezende sobre novas coletas de água realizadas no Açu


Em função de toda a repercussão das pesquisas feitas pelo Laboratório de Ciências Ambientais, o blog entrou em contato com o Prof. Carlos Rezende para obter novas informações sobre a situação da pesquisa que continua ser feita para medir o nível de sais nas águas superficiais do V Distrito de São João da Barra.  Além disso, o blog procurou saber se as atuais chuvas causaram alguma alteração significativa no grau de salinização que foi detectado no período seco. Vejam abaixo as respostas do Prof. Carlos Rezende que trazem novas evidências preocupantes acerca do fenômeno que foi muito provavelmente causado pelas obras de construção do Porto do Açu do Grupo EBX do bilionário Eike Batista..


Blog do Pedlowski (BP): Prof. Carlos Rezende gostaria inicialmente de iniciar nossa conversa dizendo boa tarde e em seguida passar diretamente para o assunto da salinização da região costeira de São João da Barra.

Resposta: Boa tarde.

BP: Bom, soubemos que o Comitê de Bacia da região Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul convidou o senhor para uma reunião, onde será debatido pela câmara técnica a questão dos teores de sais nos alagados da região. Esta informação confere?

Resposta: Desde o final de 2012 o Diretor Secretário do Comitê desta região hidrográfica havia me convidado a participar de uma reunião sobre o tema, mas tivemos alguns conflitos de agenda e no início de 2013 estava na Washington and Lee University onde estava discutindo exatamente um assunto sobre estratégias para restauração do rio Paraíba do Sul. Então, somente agora foi possível realizar esta reunião e sinceramente espero que tenhamos um debate produtivo que será realizado no dia 30 de Janeiro a partir das 14:00 horas Casa Ecológica que fica localizada dentro do campus da UENF.


BP:  A equipe de pesquisadores que o senhor coordena ainda continua trabalhando sobre o assunto?

Resposta: Agora mais do que nunca estamos interessados, pois este debate tem suscitado muitos questionamentos e algumas pessoas tentam quase que diariamente desqualificar os resultados que temos apresentado à sociedade. No entanto, muitas destas pessoas não possuem balizamento técnico e ficam tratando o assunto de uma forma muito desrespeitosa e irresponsável. Nosso estudo fez comparações com várias áreas em regiões próximas e mostram de forma irrefutável que ocorreu uma transformação intensa nas proximidades do empreendimento. Inclusive, ontem recebi uma ligação de uma pessoa da região dizendo que um determinado técnico havia passado na região tentando mistificar esta questão da salinização afirmando que estes números tem que ser visto com muita cautela e que existem outros estudos que não mostram este processo na região. Contudo, eu reafirmei a esta pessoa que me telefonou que embora alguns técnicos digam isto, nunca vi nenhum outro valor em contraposição. Assim,torno a dizer que esta reunião de amanhã pode certamente retirar este caráter sombrio sobre as informações que não aparecem claramente na imprensa ou esclarecimentos técnicos. Nossos números, são divulgados claramente, gostaria de ver os valores dos demais pesquisadores e técnicos sobre esta mesma questão.


BP: E com estas chuvas o que está acontecendo com a concentração de sais nas águas que estão sendo coletadas no Açu?

Resposta: Uma resposta natural é a diluição destes sais que estão depositados nesta planície. Contudo, a água além de atuar com uma agente eficiente na diluição, também atua como um agente da dispersão destes sais. Assim, o que está acumulado em uma determinada região estará sendo transportado para outra região, e isto certamente já deveria ter sido cuidadosamente modelado. Desta forma, preocupado com este aspecto hoje parte da minha equipe foi ao campo e medimos novamente nos mesmos pontos a condutividade. Como todos percebem estamos presenciando um volume razoável de água proveniente das chuvas e muitos pontos estão alagados, assim, alguns pontos que apresentaram uma faixa de 28.000 a 41.000 µS/cm agora. Assim hoje, 29 de janeiro de 2012, apresentam 19.000 a 25.500 µS/cm; outros permaneceram muito próximos a saber em novembro e dezembro de 2012 estavam com uma condutividade variando de 3.530 a 5.770 µS/cm e hoje estão 2.870 a 5.010 µS/cm. Deste modo, eu diria que não houve diferença, mesmo com este volume de chuvas. 


BP: Ainda existe alguma coisa que o preocupa em relação a região?

Resposta: Eu, sinceramente, ainda fico muito preocupado com a água que está sendo distribuída no poço de Água Preta, pois a condutividade é de aproximadamente 700 µS/cm. Novamente, afirmo que água para irrigação deve estar abaixo de 300 µS/cm, a água de Campos não excede a 80 µS/cm, e águas minerais sem gás ficam próximas a 100 µS/cm. Enfim, este assunto também deveria ser tratado com importância equivalente pelas autoridades competentes, pois o risco à saúde das pessoas que estão consumindo essa água não pode ser desprezado.

BP: Bom o blog agradece a sua atenção e vamos aguardar o resultado da reunião que ocorrerá amanhã.

Resposta: Eu agradeço ao espaço.