terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Pequenas dicas para avançarmos na construção de um mundo melhor em 2012

Marcos A. Pedlowski, artigo publicado no número 226 da Revista Somos Assim


Apesar de não compartilhar o êxtase em que a maioria das pessoas é mergulhada nesta época, especialmente no quesito corrida ao shopping, penso que o final do ano sempre aparece com um momento especial. Afinal, chegar vivo ao final de mais um ano nos dá a oportunidade única de olhar o que fizemos e contemplar nossas próprias falhas e correções e, por que não, mudarmos o curso de nossas vidas. Aliás, se todos tivessem um mínimo de desprendimento e realizassem um exercício de auto-avaliação, é possível que muitos psicólogos e psiquiatras tivessem uma diminuição na lista de pacientes. Também é provável que as corporações que fazem bilhões graças à venda de antidepressivos sofressem uma baixa significativa nos lucros fabulosos que alcançam com a miséria emocional em que bilhões de seres humanos vivem imersos neste momento.

Essas inferências sobre nossa incapacidade de alcançar um estado de reflexão crítica e, em função disto, corrermos o risco de afundarmos num estado depressivo, não são novas. Em 1846, Karl Marx escreveu um ensaio intitulado “Sobre o suicídio” onde procurava explicar o porquê do crescimento dos casos de pessoas que encerravam suas vidas de forma precoce. Marx apontou então seu dedo acusador para a sociedade moderna (capitalista) que para ele seria um deserto habitado por bestas selvagens, onde cada indivíduo estaria isolado dos demais, sendo um entre milhões, e experimentando uma espécie de solidão em massa. Marx dizia ainda que as pessoas agiam entre si como estranhas, numa relação de hostilidade mútua. E nessa sociedade de luta e competição impiedosas, de guerra de todos contra todos, somente restaria ao indivíduo ser vítima ou carrasco, e neste contexto, o suicídio então apareceria como uma opção racional.

Se tomarmos a posição corajosa de assumir que desde o ensaio de Marx, os acontecimentos históricos mais confirmaram do que negaram sua caracterização da sociedade capitalista, o que nos resta fazer para evitar o que ele chamava de solidão em massa? E se levarmos em conta o fato de que essa solidão em massa nos empurra para um estado de contínua infelicidade coletiva, precisaríamos então partir para a reconstrução de laços sociais orgânicos e coletivos. Mas como seria possível recuperar um sentido coletivo numa sociedade que preza, acima de tudo, o consumo e o desperdício feito de forma altamente individual? O passo mais difícil, e que a talvez a maioria de nós já não deu neste ano, é evitar transformar o final do ano numa ode ao consumo, onde os sentimentos são sublimados e as relações afetivas são transformadas em quinquilharias eletrônicas. Este passo aparentemente despretensioso, mas de difícil consecução nos dias atuais, traria um compromisso diferente em relação a quem nós pensamos amar e respeitar.


Se fizéssemos uma lista de ações que contribuam para o resgate da nossa melhor natureza enquanto seres essencialmente orgânicos, nela constaria que devemos parar de nos tratar como entidades privadas e desconectadas do que acontece em nosso entorno. Este passo, que também é aparentemente despretensioso, se torna a cada dia um desafio, pois, cada vez mais, como se fossemos autômatos passamos pelas ruas e ignoramos nossos semelhantes, ainda que em cultos e missas domincais muitos procurem uma redenção para esse pecado capital. Entretanto, apenas um arrependimento sincero e que implique numa mudança radical de postura frente aos nossos semelhantes, poderá nos resgatar de uma situação em que o outro apenas existe como fonte de extração, e para evitar o risco de continuarmos vagando pelo deserto da solidão coletiva por mais tempo.

É certo que vivemos tempos de incerteza e de transformação. A maioria das coisas que se julgavam eternas agora caem como ídolos falsos ou estátuas de personagens impostos em nossa realidade. E aqui não falo apenas da crise econômica mundial ou das revoluções em curso no mundo árabe. Também precisamos incluir as mudanças climáticas globais e os indícios de que nossa sociedade nos encaminha para um perigoso caminho de contaminação ambiental que compromete até aquilo que colocamos na nossa mesa todos os dias. Mas nada disto deve nos colocar como expectadores de nosso próprio cadafalso visto que os desafios são tão formidáveis; ainda que as saídas não sejam fáceis, é importante manter o otimismo frente ao que podemos realizar.

Felizmente, a sociedade humana não é só feita a partir da vontade dos dominantes, e não precisamos ficar contemplando de forma passiva o desenlace de um futuro tenebroso. Desde que nossos ancestrais começaram a traçar a evolução da sociedade humana há uns poucos milhões de anos, temos enfrentado todo tipo de desafio que, em primeira vista, pareceriam intransponíveis. Entretanto, desde o conhecimento para controlar o fogo e passando pelo inicio da agricultura até percorrermos o caminho que nos levou à sociedade industrial, sempre demos um jeito de encontrar as soluções necessárias para superarmos os obstáculos: vamos à luta!

Mas uma coisa é certa: só vamos nos reencontrar como espécie coletiva se resistirmos ao canto da sereia que nos faz acreditar que a felicidade se compra e, ainda por cima, está apenas disponível para os que têm crédito na praça.