sábado, 17 de dezembro de 2011

MAIOR CRIME AMBIENTAL DA HISTÓRIA DO RIO PARAÍBA DO SUL CONTINUA IMPUNE


Perto de completar nove anos, o despejo de 1,4 bilhão de litros de lixívia (sobra industrial da produção de celulose) em cursos d’água, a pena mais severa aplicada à empresa responsabilizada pelo maior desastre ambiental ocorrido no Brasil ainda não foi cumprida. 

E para piorar o descalabro, existem evidências de que a empresa responsável fez um acordo com os órgãos ambientais do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, com as bençãos do judiciário, para liberar o material restante diretamente no Rio Pomba, afluente do Paraíba do Sul para onde os rejeitos foram despejados no acidente de 2003. As consequências deste fato podem ser percebidas pela população do município de Pádua onde, de quando em quando, uma espessa e mal cheirosa camada de espuma se acumula sobre as águas do Pomba. 

O mais impressionante é que já em 2007 a empresa poluidora tinha sido flagrada liberando uma quantidade de rejeitos acima do que havia sido acordado com a Agência Nacional de Águas (ANA) (ver link http://igrejadorelogio3.blogspot.com/2010/11/cataguases-torna-se-pesadelo-constante.html) Pelo jeito, nada foi feito e a sangria "controlada" continua ocorrendo, sabe-se lá sob quais circunstâncias de controle.

Mas afora as manifestações macro da contaminação "controlada" o que mais preocupa é a perpetuação da visão de que os corpos aquáticos podem ser um escoadouro aceitável para rejeitos tóxicos da produção industrial. Esta visão se justifica através da medição dos parâmetros físico-químico da água, e ignora completamente o estresse ecológico que a contaminação crônica causa em importantes espécies que compõem a cadeia ecológica que forma uma instável teia de relações biológicas. 

Essa visão que se concentra na definição de níveis teoricamente aceitáveis de contaminação poderia ter sido aceitável nos meados do Século XX quando a ciência possuía menos informação sobre os problemas causados por processos crônicos de contaminação.  Essa visão de que só é tóxica algo que extrapola o limite de tolerância de uma determinada espécie não apenas é atrasada, mas funciona com uma liberação tácita de contaminação.

No entanto, o uso dessa visão anacrônica se justifica unicamente para beneficiar os grandes poluidores que podem, inclusive, passar décadas protelando o pagamento de multas para continuar extraindo o máximo possível de lucro da poluição ambiental.

Mas vá lá, o que pode se esperar de um órgão ambiental como o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) do Rio de Janeiro cuja especialidade é fazer o licenciamento "Fast Food" que está tornando o território fluminense uma espécie de zona de sacrifício onde os gigantes poluidores podem reinar livres e impunes?