quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Povos indígenas da Amazônia estão contaminados por mercúrio


Um estudo sobre contaminação por mercúrio a partir da mineração informal de ouro na Amazônia peruana mostra que o povo indígena mais afetado é aquele que faz do peixe a principal fonte de proteína. As crianças, particularmente, são as que sofrem mais com o problema.

A nova pesquisa, feita pelo Instituto de Ciência Carnegie dos Estados Unidos, detalhou na segunda-feira (9) que encontrou níveis de mercúrio muito acima dos limites aceitáveis ​​em 76,5% das pessoas que vivem na região de Madre de Dios, sejam elas parte de populações rurais ou urbanas.

“As comunidades que mostraram maiores concentrações de mercúrio foram as indígenas”, disse Luis E. Fernandez, diretor do projeto.

Baseado em amostras de fios de cabelo, os pesquisadores constataram que as pessoas dessas comunidades tinham nível de mercúrio mais de cinco vezes maior do que o máximo aceitável, e 2,3 vezes mais do que aqueles que não fazem parte de comunidades indígenas”, disse Fernandez.,

Fernandez disse que as crianças indígenas tinham três vezes mais mercúrio no corpo quando comparado àquelas de comunidades mais urbanizadas, onde poderiam também obter proteína a partir do frango ou da carne bovina.

As crianças correm um risco muito maior de serem envenenadas por mercúrio, já que o metal é uma neurotoxina potente que pode causar danos ao cérebro e sistema nervoso central.

“As crianças são dez vezes mais sensíveis aos efeitos do mercúrio”, explicou Fernandez após a apresentação do estudo ao Ministério do Meio Ambiente do Peru.

O estudo, realizado pela instituição de Stanford, com sede na Califórnia, examinou uma região da floresta com grande biodiversidade. A pesquisa incluiu os nativos que vivem em isolamento voluntário e também o local onde o governo do Peru tem se esforçado, sem sucesso, em controlar a mineração ilegal.

Desde o ano passado, os pesquisadores colheram amostras de cabelos de 1.029 pessoas de 24 comunidades. Um quarto dos pesquisados trabalhavam em regiões em que havia mineração de ouro de aluvião, aquele encontrado no leito dos rios. Por ano, cerca de 35 mil toneladas por ano de mercúrio são usadas para a extração do ouro. O metal então é queimado e em seguida, vai para o meio ambiente.

Fernandez disse que a explicação para a maior contaminação por mercúrio entre as populações indígenas é o consumo de peixe. O grupo estudou peixes da região e descobriu que 60% das espécies estão contaminadas com níveis inaceitáveis de mercúrio.

Autoridades peruanas haviam estabelecido um prazo – até este mês – para que os cerca de 40 mil garimpeiros da região formalizassem suas reivindicações para o trabalho ou que o deixassem. O prazo, porém, foi prorrogado até agosto de 2014.

Protestos violentos barraram os esforços que o governo fez para tentar deter a mineração ilegal.