Dentre os muitos dramas que desabrocham entre as famílias de agricultores que foram afetados de forma direta e indireta pela construção do Porto do Açu, a questão da salinização causada pela construção do aterro hidráulico que despejou água salobra dentro de um inúmero ainda desconhecido de propriedades e um daqueles fenômenos que saltam aos olhos.
Estive hoje na propriedade do Sr. Durval Alvarenga e abaixo segue a uma entevista que fiz com ele enquanto andávamos por áreas esbranquiçadas dentro do que costumava ser a pastagem onde mantinha suas 70 cabeças de vacas leiteiras.
Blog do Pedlowski (BP): Sr. Durval, qual é tamanho dessas propriedade aqui?
Durval Alvarenga (DA): 4,5 alqueires (ou 21,6 hectares).
BP: Quando adquiriu a propriedade?
DA: Comprei em 1998.
BP: Quantas animais mantinha aqui na propriedade?
DA: Uma média de 70 cabeças de vacas leiteiras.
BP: Tinha alguma roça?
DA: Eu tinha plantado aqui em torno de 150.000 pés de abacaxi.
BP: Quando começou notar que estava acontecendo algum problema aqui na propriedade e quais foram os sintomas?
DA: Eu comecei a notar que algo estava errado no final de Novembro (de 2012). Eu comecei a sentir um cheiro de maresia.
BP: Mas o que deu certeza para o senhor que havia algo de errado?
DA: Bom, eu continuei irrigando os plantios de abacaxi e ai tudo começou a dar para trás, com as plantas ficando murchas e enferrujadas. Outra coisa que me chamou atenção foi que não teve fruto aparecendo. Mas eu fiquei mais alerta quando as vacas começaram a ficar com muita diarreia e nem queriam chegar perto da água. Ai me dei conta que realmente algo estava muito errado.
BP: Teve mais alguma coisa?
DA: Em janeiro eu perdi toda uma área de cana que eu tinha (coisa de 1,0 ha) e apareceu muito peixe morto num tanque que ficava perto da área onde as vacas ficavam.
BP: Mas nesse tempo todo apareceu alguém do INEA ou da LLX por aqui?
DA: Em março desse ano apareceu um grupo em 4 carros, e eu me lembro que um desses carros era do INEA. Ai uma pessoa que disse que era técnico do INEA fez umas medidas na água e me recomendou para eu parar de usar aquela água para irrigar as minhas coisas. Mas ele me disse que "eu nem deveria nem estar falando isso para o senhor".
BP: E depois disso apareceu alguém do INEA ou da LLX para conversar com o senhor para compensar os prejuízos que a salinização causou na sua propriedade?
DA: Não, até hoje não veio ninguém aqui para falar quem vai cobrir os meus prejuízos.
BP: O senhor tem alguma idéia de quanto o senhor perdeu por causa da salinização?
DA: Só com o abacaxi, eu calculo que a minha perda é de R$ 300 mil. Mas eu também estou tendo de comprar cana para dar de ração para o meu gado. E não estou mais conseguindo mais os 20 Kg de queijo que eu produzia todos os dias. È muito dinheiro, e até agora ninguém veio me falar quem vai pagar o que eu perdi.