Governador promete unidades de polícia para Região Metropolitana e tenta associar programa ao nome do vice. Segurança alavancou reeleição em 2010
Cecília Ritto, do Rio de Janeiro
A presidente Dilma Rousseff, o governador Sérgio Cabral, e o vice-governador Luiz Fernando Pezão: segundo Cabral, ela levou um susto com o prejuízo do Rio (Carlos Magno/Divulgação)
A principal estrela da campanha que reelegeu o governador Sérgio Cabral em 2010, com 66% dos votos em primeiro turno, foi o programa de ocupação dos morros pela Polícia Militar. As Unidades de Polícia Pacificadora, já amplamente conhecidas como UPPs, foram o carro-chefe da propaganda na TV, dividindo com outra sigla – as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) – grande parte do tempo e do espaço nos anúncios do PMDB. Com a disputa francamente antecipada da corrida ao Palácio Guanabara em 2014, as UPPs reapareceram, esta semana, com um novo viés. A promessa de Cabral, agora, é de levar a polícia também para os morros da Baixada Fluminense e de Niterói – reivindicações da população.
O objetivo do anúncio de Cabral, feito na terça-feira, é associar a imagem do vice e candidato ao governo do estado, Luiz Fernando Pezão, ao programa campeão de popularidade. É um jogo em que o candidato pode se beneficiar em duas frentes. Pezão é um nome forte no interior, foi prefeito de Piraí e tem aliados principalmente no Sul Fluminense. E, ao colar Pezão nas UPPs, implantadas até o momento apenas na cidade do Rio, o candidato se fortalece também na capital.
Na terça, em discurso na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Cabral, ao fazer um balanço da gestão, anunciou a chegada das unidades de polícia a outras cidades da Região Metropolitana. “A segurança é nossa prioridade. Vamos continuar a política de pacificação. Não há outro modelo que seja capaz de reduzir os homicídios. Vamos avançar para Niterói, São Gonçalo, Baixada e Itaboraí. Continuaremos sendo implacáveis no combate ao tráfico e também à milícia, que é outro câncer criado pela ausência do estado”, afirmou.
Na quinta-feira, em evento com o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antonio Raupp, no Rio de Janeiro, o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Gustavo Tutuca, que fez carreira política em Piraí, mostrou que o discurso montado para associar a imagem de Pezão às UPPs chegou ao secretariado. “Enfrentar a violência foi fundamental para que conseguíssemos, hoje, o desenvolvimento econômico do estado. O governador Sérgio Cabral e o vice-governador Pezão enfrentaram o problema da violência, implantaram o programa das UPPs no Rio e criaram um ambiente propício para a atração de grandes investimentos”, afirmou.
A transformação das UPPs em unidades de propaganda de Pezão, no entanto, enfrenta alguns obstáculos. Gestor direto das UPPs, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, foi bem mais comedido do que Cabral ao comentar a expansão para o interior. Ao jornal O Globo, Beltrame disse: “A gente não revela se Niterói e Baixada serão ocupados este ano. Não é bom estrategicamente. Se fosse para trabalhar com pirotecnia, estaríamos implantando UPPs em todos os locais que nos pedem. Estou lidando com o que o ser humano tem de mais caro, que é a esperança. Só faço quando a gente tem convicção de que vai produzir resultados concretos. Não será a voracidade política que vai reger o planejamento feito em 2008”.
O sonho do PMDB era de que Beltrame fosse o vice da chapa de Pezão. Seria a aliança ideal dos peemedebistas: estariam unindo, assim, um nome forte no interior com uma figura de grande aceitação na capital. Beltrame, porém, resiste à ideia de se candidatar.
Interiorizar as UPPs não é só questão de vontade do governo do estado. Na capital, o programa só é possível porque o município arca com a gratificação paga aos 8 mil policiais das unidades, de 500 reais – o prefeito Eduardo Paes prometeu aumentar para 750. A menos que o estado tenha fôlego para inchar a folha de pagamento a cada nova UPP inaugurada, são as prefeituras – a maioria delas sem folga no orçamento – que terão de arcar com os gastos a mais da corporação nessas localidades.
A estratégia para fortalecer Pezão na Região Metropolitana – que inclui a capital, a Baixada Fluminense e Niterói - também passa por um novo programa, chamado Bairro Novo, anunciado por Cabral no mesmo discurso feito na terça-feira, na Alerj. Na ocasião, afirmou que gastará 600 milhões de reais em obras de pavimentação, calçamento, drenagem e iluminação de algumas áreas da Região Metropolitana.