Essa semana foi marcada pela notícia divulgada pelo jornalista Esdras Pereira de que o presidente da OS(X), Carlos Bellot, havia estado na UENF para uma reunião com o Prof. Carlos Eduardo Rezende, que é quem vem liderando as pesquisas realizadas pelo Laboratório de Ciências Ambientais sobre o processo de salinização que está em curso no V Distrito de São João da Barra, procurei novamente.
De modo a dar mais informações sobre o que ocorreu nesta reunião, procurei novamente o Prof. Carlos Rezende para que ele nos desse uma panorâmica dos motivos da reunião e do que foi discutido nela.
As respostas vão abaixo, e mostram que aparentemente a direção da OS (X), com as benções de Eike Batista, resolveu passar da fase de negação do problema para uma onde ela seja efetivamente enfrentada. Vamos esperar que a mudança não fique apenas no plano das intenções.
Blog do Pedlowski (BP): Novamente estamos procurando o senhor para uma conversa sobre os avanços da questão regional e neste sentido gostaríamos de perguntar alguns detalhes sobre os problemas decorrentes da salinização. Soubemos que o senhor teve uma reunião com o Presidente (CEO - Chief Executive Officer) da OSX. Isto é verdade?
CER: Sim, tive uma reunião que considero ter sido
muito produtiva com o Dr. Carlos Eduardo Bellot. Eu conheço o Dr. Carlos há
muitos anos, quase quatro décadas, pois nós dois somos de Niterói e, de certa forma,
mantivemos vínculos pessoais e profissionais ao longo desse tempo. Primeiro
enquanto o Dr. Bellot esteve à frente da Gerência para a Bacia de Campos, e
depois na Bolívia onde gerenciou as atividades da Petrobras. A conversa
aconteceu nas dependências do Laboratório de Ciências Ambientais da
Universidade Estadual do Norte Fluminense, e ali conversamos sobre várias
dificuldades na gestão ambiental de projetos de desenvolvimento econômico. Em
um primeiro momento falamos das atividades que executamos juntos na Petrobras
no Brasil e exterior. Depois falamos da importância dos aspectos ambientais e
sociais que envolvem estes empreendimentos.
BP: O que
motivou este encontro?
CER: Certamente o que motivou este encontro foi o
problema de salinização da região do entorno do Complexo Industrial-Portuário
do Açu, e isto ficou muito claro durante nossa conversa. Na sua exposição inicial o Dr. Bellot me disse que veio conversar comigo pessoalmente, pois
gostaria de ouvir minhas considerações, sem que tivesse qualquer tipo de
interlocutor já que havia notado em vários momentos que meu nome era citado, e
como nos conhecemos há muito tempo seria importante conversarmos sobre um
assunto que interessa diretamente à OSX. Assim, o Dr. Bellot pediu que eu
fizesse uma breve exposição sobre todas as questões que eu considerasse
relevante, independente deste problema. Como já informei anteriormente a este
blog, o processo de salinização ocorreu porque houve uma dispersão das águas
associadas aos sedimentos que estavam sendo dragados e formavam o aterro
hidráulico adjacente às obras do estaleiro da OSX. Naquela ocasião tínhamos um
ambiente com baixa pluviosidade e em algumas áreas começaram a brotar poças de
águas. Estas poças, por sua vez, estavam comprometendo as culturas de pequenos
agricultores da região e quando medimos a condutividade, ou, salinidade, vimos
que os valores eram elevados, mesmo para a região.
A única explicação para a ocorrência desse processo naquele
momento seria a atividade de dragagem e a formação do aterro hidráulico. Mais
tarde, isto se confirmou por meio das nossas coletas de água. Entretanto, até o
momento não sabemos exatamente a totalidade da área que foi afetada por este
problema.
Eu inclusive informei ao Dr. Bellot que após este
período de chuvas ocorreu uma dispersão dos sais depositados nos sedimentos.
Neste ponto, eu gostaria de destacar o papel fundamental do jornalista e
blogueiro Esdras Pereira. Este profissional não se curvou às inúmeras tentativas
de calúnias sobre as pesquisas científicas que estávamos realizando, e
demonstrou um forte comprometimento com a verdade e com os cidadãos de São João
da Barra e de Campos. Eu fico impressionado como algumas pessoas da região se
curvam diante de qualquer situação e não tem o menor pudor ético. Neste sentido,
o papel do Esdras foi fundamental até para que o Grupo EBX reconhecesse que seus
dirigentes deveriam ficar atentos para os problemas que estavam acontecendo em
decorrência da construção do Complexo do Açu.
BP: Ainda sobre o tema
central desta reunião o que foi tratado?
CER: Na realidade, segundo o Dr. Bellot, a OSX tem total
interesse em tratar deste assunto, assim como pretende desenvolver estudos que
reduzam qualquer tipo de possibilidade de impacto ao meio ambiente; além de
ações sociais que possam transformar a realidade socioeconômica dos pequenos produtores
rurais que vivem no V Distrito. Ouvindo esta colocação fiquei satisfeito, pois,
considero que este posicionamento seja fundamental para iniciar um resgate das
relações, principalmente com os pequenos produtores rurais da região.
Eu disse ao Dr. Bellot que o processo de desapropriação foi
traumatizante, e criou uma série de arestas que precisam ser aparadas o mais
rápido possível. Mas em nossa conversa, nós dois reconhecemos que neste momento
será muito difícil, porém, este é um desafio que precisa ser encarado pela OSX.
BP: O senhor gostaria
de falar sobre algum outro ponto abordado na reunião?
CER: Na realidade gostaria de dizer que a reunião foi
excelente e espero, sinceramente, que a OSX tenha uma atitude pró-ativa em
relação à questão social e ambiental no V Distrito. Um ponto que deixei claro foi a fragmentação
das ações que a OSX e outras empresas do Grupo EBX têm em relação ao meio
ambiente e o forte trauma causado pela desapropriação das terras dos pequenos
agricultores, além da atitude pouco simpática da segurança da empresa.
As pessoas podem se perguntar, o que significa esta
fragmentação? Eu percebo que existem muitos interlocutores para um mesmo
assunto, e quando existem muitas pessoas falando sobre um assunto, ninguém é
realmente responsável sobre um problema que eventualmente ocorra. As ações que
têm sido adotadas na construção do Complexo do Açu são muito dispersas e, sinceramente,
não acredito que as coisas funcionem bem desta forma. Por isso, penso que as
empresas do Grupo EBX que estão atuando na construção do Complexo do Açu
precisam corrigir esta rota com urgência. Não podemos tratar as questões
ambientais da forma como estão sendo tratadas.
O resultado da atual forma gestão está aí, apresentando muitos questionamentos e impactos. Esta não é a melhor forma de iniciar um empreendimento deste porte. Estou orientando um trabalho de pesquisa na região do Farol de São Tomé, e a percepção dos pescadores artesanais marinhos em relação ao Complexo do Açu não é das melhores. O Grupo EBX precisa definitivamente trabalhar melhor a questão social, caso contrário, será visto por um viés negativo enquanto poderia estar realmente agregando mais valores sociais, econômicos e ambientais para a região Norte Fluminense.
O resultado da atual forma gestão está aí, apresentando muitos questionamentos e impactos. Esta não é a melhor forma de iniciar um empreendimento deste porte. Estou orientando um trabalho de pesquisa na região do Farol de São Tomé, e a percepção dos pescadores artesanais marinhos em relação ao Complexo do Açu não é das melhores. O Grupo EBX precisa definitivamente trabalhar melhor a questão social, caso contrário, será visto por um viés negativo enquanto poderia estar realmente agregando mais valores sociais, econômicos e ambientais para a região Norte Fluminense.
Finalmente, agradeço novamente ao espaço e coloco-me a
disposição do blog para eventuais esclarecimentos.