sábado, 9 de fevereiro de 2013

Ministro do PT abraça o discurso da TFP para justificar abandono da reforma agrária


Que o PT se afastou gradual e consistentemente dos seus compromissos declarados com a reforma agrária os que acompanham o processo já sabiam. Afinal, depois de um festival de regularizações de terras e posses que foi usado por Lula para mascarar o seu descompromisso com a mudança da vergonhosa estrutura da propriedade da terra no Brasil,  a presidente Dilma Rousseff nem tem se dado ao trabalho de disfarçar o seu amor preferencial pelo latifúndio agro-exportador. Tanto isto é verdade é que enquanto chovem benesses para Kátia Abreu e seu povo, Dilma é a presidente que menos destinou terras aos pobres desde Fernando Collor!

Mas como essa nau ainda pode afundar mais, agora apareceu o ministro Gilberto Carvalho para usar um argumento surrado da organização católica de extrema direita Tradição, Família e Propriedade (TFP) para tentar tapar o sol com a peneira. É que segundo o iluminado Gilberto Carvalho, a justificativa para a diminuição da criação de assentamentos de reforma agrária o problema é que governos anteriores criaram assentamentos que viraram verdadeiras favelas rurais (Aqui!). Esse argumento tosco foi utilizado e ainda é utilizado pela TFP que até produziu um "livro bomba" para denunciar a reforma agrária (Aqui!). 

Esta aproximação de discursos só surpreende mesmo os mais desavisados, pois quem anda de braços dados com Kátia Abreu, só pode mesmo terminar adotando o discurso da TFP. No entanto, o que há de mais pernicioso nesse tipo de capitulação programática e ideológica, é que na hora de alocar recursos e suporte técnico para fazer valer até o seu próprio programa rebaixado de assistência aos assentamentos, o governo Dilma é uma mistura de cinismo e incompetência que se soma à grotesca falta de capacidade operacional do INCRA.

Um detalhe no que foi dito por Gilberto Carvalho sobre assentamentos mal apoiados terem se transformado em pseudo-favelas rurais é que ele ocupou posições de mando durante os dois governos de Lula, e nada fez para reverter isto. De quebra, se o ministro Gilberto Carvalho se desse ao trabalho de sair do ar condicionado de seu luxuoso gabinete em Brasília e fosse até uma favela urbana e a um assentamento abandonado pelo governo em algum rincão do Brasil, poderia ter a chance que não há como comparar as situações, pois pelo menos nos assentamentos as pessoas não passam a fome que grassa nas cidades brasileiras. Como eu conheço as duas situações, e meus alunos pesquisaram de forma repetida o grau de contentamento dos assentados de reforma agrária, posso dizer sem medo de errar que o ministro Gilberto Carvalho não entende, ou finge não entender, o que está acontecendo debaixo de seu nariz, pelo menos no que se refere à reforma agrária.

Agora, o que realmente não esperava que a regressão programática e a mentalidade dos ministros de Dilma fosse tão grande que o isso os fizesse abraçar o discurso da TFP.  Se Plínio Correia de Oliveira estivesse vivo, ele certamente ou ia reclamar da apropriação de seu discurso pelo PT ou iria aproveitar a deixa ou ia ver nisto o sinal de um milagre.

Enquanto isso o Brasil importa cada vez mais alimentos e a violência contra assentados e militantes de movimentos sociais do campo não para de crescer. Aliás, nisto a conversão do PT à cartilha da TFP faz completo sentido.