Eu nem me incomodo com o fato de que trabalho numa universidade cuja liderança é extremamente conservadora. Essa é a realidade da imensa maioria das universidades do mundo, e esperar que a UENF fosse diferente seria uma ilusão.
Mas o que me irrita mesmo é que o conservadorismo da direção institucional da UENF resvala na mais absurda falta de capacidade de análise crítica. Disto resultam muitas coisas que colaboram para a asfixia da capacidade criativa e da produção de idéias que mereçam ser rotuladas enquanto tal.
A última demonstração de que a UENF está afundada numa condição mórbida quanto à sua capacidade pensar e criticar é o uso dos resultados do Índice Geral de Cursos (IGC) e dos resultados do ENADE enquanto valores que medem de forma absoluta a realidade das universidades brasileiras. Quando muito o IGC e o ENADE mostram condições relativas. Em outras palavras, muitas vezes os resultados mostram melhor quem piorou do que quem melhorou. Além disso, dado que existe um processo ativo de boicote ao ENADE por parte dos estudantes das universidades federais, e que não é propositalmente captado nas estatísticas, os resultados são apenas parciais.
De quebra. ao assumir de forma absoluta e, pior, fazer propaganda deles, a UENF cai no triste papel de fazer propaganda enganosa a milhares de jovens que podem vir para cá pensando que vão encontrar uma coisa bem mais rósea do que a realidade existente.
O pior é que a direção da UENF está perdendo uma oportunidade preciosa para denunciar o sucateamento do seu orçamento que em 2013 será quase 20% menor do que o de 2012, incluindo-se ai o corte nominal e o contigenciamento que certamente virá assim que o ano efetivamente começar. Além disso, a situação salarial de professores e servidores indica que, com a implementação de uma nova fase do REUNI pelo governo federal, a perda de quadros se tornará ainda mais aguda. Enquanto isto, os que ficarem vão ter que fazer mais com menos orçamento e salários ainda mais corroídos.
Eu, por exemplo, estou me preparando para dar aulas em janeiro e fevereiro em salas com condições climáticas proibitivas dado ao inclemente verão que se abate sobre a cidade de Campos dos Goytacazes. Isto em meio a salas que sequer possuem ventiladores de teto. No mínimo, anunciar que a UENF é a melhor universidade pública do Rio de Janeiro e a 6a. melhor do Brasil consiste em um devaneio acrítico. Coisa que o passar do tempo pode desmascarar de forma inclemente.
Enquanto o pano não se abre, vamos nos preparar para transpirar, enquanto a direção da UENF se debate em seus delírios de grandeza.