quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Site G1 repercute pedido de suspensão das obras do Porto do Açu

MPF pede suspensão das obras no Porto do Açu, em São João da Barra


Pesquisa sobre salinização da água motivou ação do Ministério Público.
Empresas EBX, OSX e LLX, além do Inea e Ibama, são réus no processo.

Do G1 Norte Fluminense


Após uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), que apontou uma sanilização da água na região da construção do Porto do Açu sete vezes maior do que o permitido para o consumo humano no município de São João da Barra, o Ministério Público Federal (MPF) de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, solicitou o fim das obras de instalação do Complexo Portuário. Em caso de descumprimento, a pena pode chegar a multa diária de R$ 100 mil.


A liminar é contra as empresas EBX, OSX e LLX, do empresário Eike Batista. O Inea (Instituto Estadual do Ambiente) e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis) também são réus no processo.


Saiba mais



Segundo a ação, há indícios de que as obras para construção do Porto do Açu, no 5º distrito de São João da Barra, causaram a salinização em áreas do solo, de águas doces em canais e lagoas e de água tratada para o consumo humano.

De acordo com o processo, movido pelo procurador da República Eduardo Santos de Oliveira, a salinização causou danos ambientais na fauna e flora, assim como a diminuição da fertilidade do solo, o aumento da erosão e o início de processo de desertificação na região.

O MPF pede ainda liminarmente o adiamento do início da operação do Porto do Açu, enquanto não forem comprovadas a restauração ambiental e a ausência de ameaças ao equilíbrio ambiental da área, e que o Inea suspenda as licenças de operação emitidas ou por emitir relacionadas às obras, enquanto a recuperação do meio ambiente não for comprovada.

Na ação, o MPF pede que as empresas EBX, OSX e LLX sejam condenadas a apresentar um projeto de recuperação do solo e dos recursos hídricos afetados no prazo máximo de 60 dias, que o Inea seja condenado a realizar uma auditoria ambiental na área e que o Ibama elabora uma análise ambiental, apresentando relatório com as medidas para reparação do dano.

Procurado pela reportagem do G1, o Inea informou que todas as informações sobre o assunto serão divulgadas nesta sexta-feira (01), em uma coletiva de imprensa com o Secretário de Estado de Meio Ambiente, Carlos Minc, e a presidente do Inea, Marilene Ramos. O Ibama não foi encontrado para falar sobre a ação.

As empresas EBX, OSX e LLX foram procuradas pela reportagem, e a LLX ficou de enviar nota à redação em nome de todas as empresas. No inicio da noite, a empresa enviou a seguinte nota à redação:

"A LLX e a OSX esclarecem que o aumento temporário do índice da salinidade é pontual e estava previsto no EIA/RIMA do projeto, assim como a redução contínua deste índice, já verificada nas últimas medições realizadas e apresentadas ao Instituto Estadual do Ambiente - INEA."

"Por iniciativa das duas empresas, estão sendo realizados estudos técnicos em parceria com universidades nacionais e internacionais, como COPPE (UFRJ) e USP. Também foi criado grupo de trabalho com a UENF para troca e análise de dados técnicos sobre este assunto."

"Quanto à Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal (MPF), as empresas informam que irão recorrer e refutam com veemência alegações propostas no documento."

"Reafirmamos nosso compromisso com a transparência, a responsabilidade e a adoção das melhores práticas na construção do Superporto do Açu. Temos ciência da nossa responsabilidade e estamos à disposição para apresentar nossos projetos e prestar informações que se fizerem necessárias. Desde 2007, as empresas já participaram de mais de 50 reuniões, debates e audiências públicas sobre o Superporto do Açu."


Poco seco explica queda vertiginosa do valor das ações da OGX



A matéria abaixo da Agência Reuters que é assinada pela jornalista  Leila Coimbra explica parte do infortúnio que se abateu ontem e hoje sobre as ações da OG (X), uma das empresas da franquia "X" que mais contribuiu para a mordida de pelos menos R$ 3,5 bilhões na fortuna de Eike Batista. 

É que em vez encontrar um poço que atendesse a expectativa de 168 milhões de barris de óleo equivalente, o que se descobriu foi secura total. 

Agora resta a Eike Batista esperar que outras expectativas não sejam tão infundadas. Do contrário, o que vai secar são os cofres do Grupo EBX.



Poço seco em prospecto de Cozumel derruba ações da OGX

RIO DE JANEIRO, 31 Jan (Reuters) - Um poço de petróleo perfurado pela petrolífera OGX no prospecto de Cozumel, na bacia de Campos, não encontrou indícios de petróleo, segundo informações da empresa.

A notícia provocou uma queda relevante nas ações da companhia pelo segundo dia consecutivo.

A OGX, braço de petróleo do conglomerado de Eike Batista, tinha expectativa de que no prospecto de Cozumel houvesse um total de 168 milhões de barris de óleo equivalente, segundo relatório do Citi Research desta quinta-feira.

As ações da petrolífera brasileira fecharam o pregão em baixa de 6,18 por cento, depois de caírem mais de 10 por cento na mínima do pregão. O Ibovespa fechou em alta de 0,72 por cento.

A descoberta em Cozumel, segundo o Citi, seria necessária para viabilizar a construção da plataforma OSX 5, o que afetou também as ações da empresa de construção naval de Eike, a OSX, que encerrou o pregão desta quinta-feira em queda de 8,54 por cento.

Com o poço seco em Cozumel, a OGX remanejou sua sonda de perfuração para outro prospecto, o de Cancun, onde há a perspectiva de haver até 205 milhões de barris de óleo equivalente, disse o relatório.

DESCOBERTA EM TULUM

A companhia informou também em seu website que encontrou indícios de hidrocarbonetos no prospecto de Tulum, também na bacia de Campos.

A estimativa da OGX é de até 196 milhões de barris de óleo equivalente em Tulum.

(Reportagem de Leila Coimbra)

E a canoa continua adernando: Eike perdeu mais R$ 1 bilhão no pregão de hoje


Janeiro de 2013 não foi definitivamente um mês agradável para Eike Batista. Pelo menos é o que informe o jornalista Lauro Jardim em seu blog na Revista Veja (Aqui!). É que num segundo dia de baixa geral nas ações das empresas da franquia "X", Eike teria perdido hoje mais um bilhão de reais na bolsa de valores.

Como mostra a imagem abaixo, a coisa anda péssima para Eike. E como diriam os analistas das grandes agências de avaliação do mercado de ações... com tendência de piora!



Para completar a cena, pelo no que tange às chances de Eike Batista receber uma ajudinha amiga da Petrobras, a Agência Reuters acaba de publicar uma extensa reportagem (Aqui!) dando conta que as dificuldades de caixa da empresa estão começando a contaminar negativamente os seus parceiros. Em suma, é pouco provável que seja dai que saia o socorro financeiro que Eike anda tanto precisando para concluir a construção do Porto do Açu. 


Comissão Pastoral da Terra convida para missa de Sétimo Dia de Cícero Guedes

7º DIA DO MARTÍRIO DO SEM TERRA CÍCERO GUEDES


Em tempos difíceis onde a ditadura do mercado atropela a vida, resistir é preciso para, “não deixar cair a esperança”.

A Equipe da Comissão Pastoral da Terra de Campos dos Goytacazes, RJ vem por meio deste convidá-los para participar da celebração ecumênica do 7º dia do Martírio do camponês Cícero Guedes dos Santos, camponês e militante que lutou para denunciar o latifúndio improdutivo em Campos dos Goytacazes, interior do estado do RJ, que historicamente  sacrifica e explora a vida dos trabalhadores em favor unicamente do lucro.

Com esta celebração queremos acolher seus familiares e amigos e fazer ecoar sua história de vida e luta junto aos movimentos e organizações de luta pela Terra contra a política capitalista neoliberal depredadora, homicida e ecocída de agronegócio, de monocultura, de latifúndio que ainda impera na região norte fluminense. Por meio desta celebração queremos também reafirmar nosso compromisso libertador e solidário com todas as lutas e esperanças dos povos da Terra no Rio de Janeiro, no Brasil, em nossa América na utopia da Terra sem Males.
 CPT/RJ.

Dia: 04 de Fevereiro de 2013.
Local: Assentamento Zumbi dos Palmares – Núcleo 4.
Horário: 16:30 hs.


Opinião desinformada é pior que sal nos olhos dos outros


Eu não sei quem orienta cientificamente os atuais escribas que respondem pela coluna PONTO FINAL do Jornal Folha da Manha, mas a coluna deste 31.01.2013 (que é mostrada na imagem acima) incorreu em vários erros científicos lamentáveis ao ensejar uma defesa do Porto do Açu. Aliás, defender ou não o mega-empreendimento pode ser um ato legítimo daqueles que desejam a melhoria do processo de desenvolvimento econômico da região Norte Fluminense, e dos municípios de São João da Barra e Campos dos Goytacazes.

Mas há que se ter argumentos plausíveis e sustentáveis seja qual for o lado que se esteja tomando em qualquer, e a questão da Ação Civil Pública impetrada pelo Ministério Público Federal para suspender as obras do Porto do Açu até que as devidas salvaguardas sejam adotadas não foge à regra.

De modo direto é possível afirmar de forma irretocável que o processo de salinização em curso no V Distrito de São João da Barra não tem ABSOLUTAMENTE NADA A VER com os processos em curso na foz do Rio Paraíba do Sul. Aliás, se existe algo similar é a intrusão de água salina sobre  corpos aquáticos. A diferença é que no caso do V Distrito a água salina foi introjetada nas áreas continentais por máquinas e dutos que a própria LLX já mostrou, enquanto que os processos ocorrendo na foz do Rio Paraíba do Sul resultam de um somatório bem mais complexo de variáveis.

Além disso, já que se falou na penetração da cunha salina dentro do canal principal do Rio Paraíba do Sul há que se lembrar que há um outro processo, que não tem nada a ver com o pedido de suspensão das obras do Porto do Açu. Nestes segundo processo, o MPF pede que não haja a transposição das águas do Paraíba do Sul para a área do porto, justamente por causa da possibilidade de que isto sim poderá aumentar a intrusão de água do mar dentro da sua calha principal.

Como já há um corpo de pesquisadores capaz de separar um sal do outro, o desejável é que os responsáveis pela coluna consultam os especialistas da área, até para não ver seus argumentos pró-Porto do Açu invalidados pela falta de base científica.

Seria o Porto do Açu como a primeira ereção de Adão?


Hoje durante o programa "Entrevista Coletiva" que vai ai ar diariamente na Rádio Diário FM de Campos dos Goytacazes abordou os graves problemas sociais e ambientais que estão ocorrendo V Distrito de São João da Barra em função da construção do Porto do Açu. Os entrevistados foram os professores Aristides Soffiatti e Carlos Eduardo Rezende, dois profundos conhecedores da situação instalada naquela área.

Lá pelas tantas um dos apresentadores do programa apareceu com a seguinte pérola: o Porto do Açu seria como a primeira ereção de Adão. É que segundo o que foi dito no ar, a situação do Porto do Açu se assemelha a uma velha piada que vai nos seguintes termos:

"Em um belo dia no Paraíso, Adão vive um momento histórico: a sua primeira ereção. — Eva! Afaste-se, afaste-se! — grita ele. — Cuidado! Eu não tenho idéia de que tamanho esse negócio vai ficar!"

Pensando bem, a comparação poderia ser até considerada pertinente e engraçada, se não as consequências do que está sendo feito debaixo das barbas do INEA e do IBAMA não fosse tão sério em termos sociais e ambientais.

Entrevista no Programa Faixa Livre sobre a Ação do MPF para paralisar as obras do Porto do Açu


Abaixo segue link para acessar entrevista que eu dei no Programa Faixa Livre da BAND AM do Rio de Janeiro, que é dirigido pelo economista Paulo Passarinho, sobre a Ação Civil Pública do Ministério Público Federal para paralisar as obras do Porto do Açu.

http://www.4shared.com/mp3/jP8fHn-M/FL_2013_01_29_Entr_2_Marcos_Pe.html


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Perda bilionária: Eike ficou US$ 1,0 bilhão de dólares mais pobre hoje!


As más notícias não param de se acumular lá pelas bandas da Praia do Flamengo onde fica a sede do Grupo EBX. Como mostra nota abaixo tirada do blog do jornalista Lauro Jardim (Aqui!) hoje foi mais um dia de perdas das empresas da franquia "X". Uma bagatela para Eike: US$ 1 bilhão foram varridos de sua fortuna. As culpadas foram a OG (X), a LL (X), a MP (X) e a MM (X). 

Como disse Lauro Jardim, esta foi mais uma perda bilionária de Eike.

Shell é eleita a pior empresa do mundo por crimes ambientais

Com mais de 41 mil votos, a petroleira foi escolhida para receber o Public Eye Award 2013, conhecido como Nobel da vergonha corporativa mundial. Em 2012, o título foi dado à Vale

da Redação

Cartaz diz: Papai Noel do Polo Norte é um conto de fadas. Shell no Ártico é um pesadelo - Foto: Reprodução/Public Eye Award

A petroleira Shell recebeu, na última quinta-feira (24), o título de pior empresa do mundo. Com mais de 41 mil votos, a empresa foi eleita a campeã do Public Eye Award 2013, conhecido como o Nobel da vergonha corporativa. Em 2012, o título foi dado à mineradora Vale do Rio Doce.

O prêmio foi entregue à Shell pelo Greenpeace Suíça e pela Declaração de Berna durante o Fórum Econômico Mundial, realizado entre os dias 23 e 27 em Davos, na Suíça.

A petroleira foi eleita a pior empresa do mundo pelo voto popular devido ao seu envolvimento “em projetos de produção controversos, arriscados e quase sempre sujos de óleo”, conforme justificativa dos organizadores do prêmio.

A Shell encabeça inúmeras tentativas de exploração de petróleo e combustíveis fósseis na região do mar Ártico. Cada projeto significa novas toneladas de emissões de CO2 para a atmosfera. Segundo o Greenpeace, as reservas de petróleo na região são suficientes para apenas três anos, “mas a ganância de grandes corporações, como a Shell, insistem em tirar até a última gota do solo. Para isso, ela está colocando em risco um dos últimos paraísos naturais da Terra, colocando em perigo quatro milhões de pessoas que vivem na região, além de ameaçar a fauna”.

O Greenpeace denuncia que as medidas de segurança da Shell não são confiáveis, prova disso é a série de acidentes alarmantes ocorridos nas instalações da petroleira na região, antes mesmo do início da perfuração dos poços. “Especialistas garantem que uma catástrofe poderá ocorrer a qualquer momento e seria quase impossível controlar devido às condições delicadas do Ártico”, alerta o organização.

A Shell foi escolhida para receber o Public Eye Award pelo voto popular. O júri do prêmio, por sua vez, escolheu o banco estadunidense Goldman Sachs. Segundo os organizadores, “as duas empresas escolhidas servem como exemplos de empresas cujos crimes socioambientais mostram para a sociedade o lado negativo do progresso puramente orientado para o lucro”.

Mais informações sobre os crimes ambientais cometidos pela Shell no Artico podem ser verificadas no site do Public Eye Award (versão em inglês). Já o Sindicato dos Químicos Unificados reúne materiais de denúncia sobre os crimes socioambientais cometidos pela Shell na fábrica de Paulínia, em São Paulo: clique aqui.

LLX e OGX continuam tentando tapar o sal com a peneira



A matéria acima publicada hoje pelo jornal FOLHA da Manhã repercute a decisão do MPF de pedir a paralisação das obras do Açu.  Até ai nenhuma novidade, pois o fato já foi amplamente divulgado pela mídia nacional e internacional.

Mas um detalhe que salga a matéria, assim por dizer, é a informação que em nota à imprensa, a LLX e a OGX afirmam que fez medidas que apontaram a redução da salinidade. Ora, como foi mostrado aqui mesmo (Aqui!), os índices de salinidade realmente baixaram com a entrada da água da chuva que anda caindo nas últimas semanas.  A questão é que apesar dessa redução, o grau de salinidade continua ALTÍSSIMO e proibitivo tanto para o uso da água para irrigação, e muito menos ainda para o consumo humano e por animais de criação.

Por último, a questão fundamental é que ao contrário do que foi apontado na entrevista feita com o Prof. Carlos Rezende, os únicos dados que foram publicizados até hoje foram os produzidos pelo Laboratório de Ciências Ambientais da UENF. O resto até agora tem sido apenas propaganda voltada mais complicar do que para explicar. Simples assim!

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A morte de Cícero Guedes e a permanente necessidade de um amplo processo de reforma agrária

Marcos A. Pedlowski, artigo publicado originalmente no site da Revista Somos Assim


A perda de determinados indivíduos não fica restrita à sua família, que talvez seja quem menos perde pelo seu desaparecimento físico. Apesar de a morte ser algo que é parte constituinte do fato de se estar vivo, algumas vezes esta nos debilita tão fortemente que não pode ser tomada como etapa de um ciclo natural. Isto fica ainda mais evidente quando a morte resulta do extermínio encomendado com a finalidade de nos privar coletivamente de pessoas cuja importância extrapola a família e a comunidade mais imediata em que se inserem como seres sociais.

E é por isso que a execução de Cícero Guedes, trabalhador que vivia e produzia alimentos no Assentamento Zumbi dos Palmares, ao mesmo tempo em que cumpria um papel essencial de catalisador de iniciativas coletivas em prol do desenvolvimento econômico, social e ambiental dos assentamentos rurais criados a partir de 1998 no Norte Fluminense, ganha grande significado. Ex- cortador de cana que se libertou da escravidão a partir do seu engajamento na luta pela reforma agrária, Cícero não teve muita educação formal. À primeira vista, não seria dado como uma pessoa capaz de exercer a forte liderança que logrou realizar, mas a aparência de homem simples e de poucas palavras era apenas um aspecto de uma personalidade criativa, irrequieta e instigadora. Como tive a oportunidade de relatar a alguém que me perguntou sobre ele, o Cícero era uma pessoa que em inglês se adjetiva como sendo do “no nonsense”. Isto na prática significa que Cícero não se dava a perder tempo com pessoas que não traduziam suas ideias em atos práticos de transformação, que em seu caso alcançava até a forma com que produzia alimentos. Não é à toa que Cícero havia se transformado numa das figuras mais visíveis de um esforço que está se fazendo em prol da produção de alimentos saudáveis. Ao mesmo tempo, até por seu exemplo ativo, Cícero era um motivador nato que, cantando ou entoado gritos de guerra, era capaz de energizar quaisquer ambientes em que estivesse.

Entretanto, a maior perda que ocorrerá com a morte de Cícero será no plano da organização e da comercialização da produção do alimento que teimosamente brota da terra, graças ao esforço hercúleo de centenas de famílias que convivem com as ameaças do latifúndio e a indiferença de um governo federal que preferiu apostar no latifúndio agroexportador, em vez de realizar uma mudança estrutural na propriedade da terra no Brasil, condição essencial para que pudéssemos ter alguma chance de mudar os padrões históricos de desigualdade com que convivemos desde que os conquistadores portugueses aqui chegaram. O mais trágico é que a morte pelas mãos de assassinos de aluguel alcançou Cícero num momento em que seus esforços de articulação em prol de mecanismos coletivos de comercialização começavam a frutificar.

O maior risco que corremos agora é que o vácuo deixado pelo assassinato de Cícero contribua para o esfacelamento das iniciativas coletivas que ele, a duras penas, conseguiu articular com outras lideranças existentes nos diferentes assentamentos que existem no Norte Fluminense. A verdade é que, ao contrário dos sindicatos patronais que são custeados diretamente pelo Estado brasileiro, as organizações camponesas independentes que existem no Brasil vivem do sacrifício abnegado de lideranças voluntárias, que além de trabalharem de graça, ainda se tornam os alvos preferenciais dos inimigos da reforma agrária.

Felizmente, apesar da comoção e da tristeza que eu encontrei quando estive no velório de Cícero, a maioria dos presentes parecia entender que não lhe resta alternativa a não ser a de prosseguir a luta pela reforma agrária. Esta compreensão política é essencial, pois as tarefas que Cícero deixou por resolver continuarão carecendo do engajamento ativo de todos os que entendem a importância da reforma agrária. E aqui me parece importante notar que, apesar de todas as miragens colocadas para nos iludir, a questão da distribuição da propriedade da terra ainda ocupa um lugar chave na realidade brasileira, que continua sendo marcada por uma profunda desigualdade na distribuição da riqueza nacional.

O mais lamentável disto é que ao se retardar a implementação de mudanças estruturais, como a representada pela reforma agrária, o Brasil acaba caindo num perigoso terreno onde a certeza da impunidade contribui para o aumento da violência social. O mais preocupante disto é que, no caso da reforma agrária, há ainda o impacto que cedo ou tarde teremos na área da segurança alimentar, pois com o avanço do agronegócio há um aumento da hegemonia das monoculturas e um consequente retrocesso no cultivo de alimentos, realidade que já aparece nas estatísticas da balança comercial, aonde a importação de alimentos vem aumentando vertiginosamente.

Este entendimento conjuntural é que nos faz compreender o papel essencial que figuras como o Cícero cumprem nas nossas vidas. O interessante é que ao contemplar de forma objetiva e distanciada a relação entre o indivíduo e o coletivo é que percebo como ficamos infinitamente mais pobres com a morte de alguém que deu tanto de si para que todos nós pudéssemos simplesmente ter o que comer todos os dias.

Entrevista com o Prof. Carlos Rezende sobre novas coletas de água realizadas no Açu


Em função de toda a repercussão das pesquisas feitas pelo Laboratório de Ciências Ambientais, o blog entrou em contato com o Prof. Carlos Rezende para obter novas informações sobre a situação da pesquisa que continua ser feita para medir o nível de sais nas águas superficiais do V Distrito de São João da Barra.  Além disso, o blog procurou saber se as atuais chuvas causaram alguma alteração significativa no grau de salinização que foi detectado no período seco. Vejam abaixo as respostas do Prof. Carlos Rezende que trazem novas evidências preocupantes acerca do fenômeno que foi muito provavelmente causado pelas obras de construção do Porto do Açu do Grupo EBX do bilionário Eike Batista..


Blog do Pedlowski (BP): Prof. Carlos Rezende gostaria inicialmente de iniciar nossa conversa dizendo boa tarde e em seguida passar diretamente para o assunto da salinização da região costeira de São João da Barra.

Resposta: Boa tarde.

BP: Bom, soubemos que o Comitê de Bacia da região Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul convidou o senhor para uma reunião, onde será debatido pela câmara técnica a questão dos teores de sais nos alagados da região. Esta informação confere?

Resposta: Desde o final de 2012 o Diretor Secretário do Comitê desta região hidrográfica havia me convidado a participar de uma reunião sobre o tema, mas tivemos alguns conflitos de agenda e no início de 2013 estava na Washington and Lee University onde estava discutindo exatamente um assunto sobre estratégias para restauração do rio Paraíba do Sul. Então, somente agora foi possível realizar esta reunião e sinceramente espero que tenhamos um debate produtivo que será realizado no dia 30 de Janeiro a partir das 14:00 horas Casa Ecológica que fica localizada dentro do campus da UENF.


BP:  A equipe de pesquisadores que o senhor coordena ainda continua trabalhando sobre o assunto?

Resposta: Agora mais do que nunca estamos interessados, pois este debate tem suscitado muitos questionamentos e algumas pessoas tentam quase que diariamente desqualificar os resultados que temos apresentado à sociedade. No entanto, muitas destas pessoas não possuem balizamento técnico e ficam tratando o assunto de uma forma muito desrespeitosa e irresponsável. Nosso estudo fez comparações com várias áreas em regiões próximas e mostram de forma irrefutável que ocorreu uma transformação intensa nas proximidades do empreendimento. Inclusive, ontem recebi uma ligação de uma pessoa da região dizendo que um determinado técnico havia passado na região tentando mistificar esta questão da salinização afirmando que estes números tem que ser visto com muita cautela e que existem outros estudos que não mostram este processo na região. Contudo, eu reafirmei a esta pessoa que me telefonou que embora alguns técnicos digam isto, nunca vi nenhum outro valor em contraposição. Assim,torno a dizer que esta reunião de amanhã pode certamente retirar este caráter sombrio sobre as informações que não aparecem claramente na imprensa ou esclarecimentos técnicos. Nossos números, são divulgados claramente, gostaria de ver os valores dos demais pesquisadores e técnicos sobre esta mesma questão.


BP: E com estas chuvas o que está acontecendo com a concentração de sais nas águas que estão sendo coletadas no Açu?

Resposta: Uma resposta natural é a diluição destes sais que estão depositados nesta planície. Contudo, a água além de atuar com uma agente eficiente na diluição, também atua como um agente da dispersão destes sais. Assim, o que está acumulado em uma determinada região estará sendo transportado para outra região, e isto certamente já deveria ter sido cuidadosamente modelado. Desta forma, preocupado com este aspecto hoje parte da minha equipe foi ao campo e medimos novamente nos mesmos pontos a condutividade. Como todos percebem estamos presenciando um volume razoável de água proveniente das chuvas e muitos pontos estão alagados, assim, alguns pontos que apresentaram uma faixa de 28.000 a 41.000 µS/cm agora. Assim hoje, 29 de janeiro de 2012, apresentam 19.000 a 25.500 µS/cm; outros permaneceram muito próximos a saber em novembro e dezembro de 2012 estavam com uma condutividade variando de 3.530 a 5.770 µS/cm e hoje estão 2.870 a 5.010 µS/cm. Deste modo, eu diria que não houve diferença, mesmo com este volume de chuvas. 


BP: Ainda existe alguma coisa que o preocupa em relação a região?

Resposta: Eu, sinceramente, ainda fico muito preocupado com a água que está sendo distribuída no poço de Água Preta, pois a condutividade é de aproximadamente 700 µS/cm. Novamente, afirmo que água para irrigação deve estar abaixo de 300 µS/cm, a água de Campos não excede a 80 µS/cm, e águas minerais sem gás ficam próximas a 100 µS/cm. Enfim, este assunto também deveria ser tratado com importância equivalente pelas autoridades competentes, pois o risco à saúde das pessoas que estão consumindo essa água não pode ser desprezado.

BP: Bom o blog agradece a sua atenção e vamos aguardar o resultado da reunião que ocorrerá amanhã.

Resposta: Eu agradeço ao espaço.

Revista Exame repercute pedido de suspensão das obras do Porto do Açu


Abaixo vai matéria da influente Revista Exame que também repercute a Ação Civil Pública (ACP) impetrada pelo Ministério Público Federal de Campos dos Goytacazes pedindo a suspensão das obras do Porto do Açu.

Esta matéria da Exame traz uma informação adicional muito importante. O MPF está "a suspensão imediata das licenças de operação que tenham relação com as obras que causaram degradação, emitidas ou por emitir, em favor da EBX, da LLX e da OSX, até que os problemas constatados sejam resolvidos.". De quebra, somos informados que todos os arrolados, inclusive o INEA, são considerados como réus nesta ACP.

É como eu já escrevi antes. Pode até não dar em nada na esfera judicial, mas com mais esta repercussão já deve estar começando a doer aonde mais importa que é no mercado de ações. 

Confiram a matéria da Exame logo abaixo.

MPF-RJ move ação contra EBX por obras do Porto de Açu

Na ação, o Ministério Público pede a interrupção das obras que causaram a degradação ambiental e o adiamento do início das atividades operacionais do porto

Glauber Gonçalves, do

Divulgação
Dentro do complexo portuário que está sendo construído pela LLX em São João da Barra (RJ), a OSX está implantando um estaleiro


Rio de Janeiro - O Ministério Público Federal em Campos dos Goytacazes (RJ) moveu uma ação civil pública contra o grupo EBX, do empresário Eike Batista, e suas subsidiárias LLX e OSX, por causa de problemas ambientais causados pelas companhias nas obras do Porto do Açu.

Dentro do complexo portuário que está sendo construído pela LLX em São João da Barra (RJ), a OSX está implantando um estaleiro.

Na ação, o MPF-RJ pede a interrupção das obras que causaram a degradação ambiental e o adiamento do início das atividades operacionais do porto enquanto não for comprovada a restauração ambiental e a ausência de ameaças. A previsão da LLX é de que o Açu inicie suas operações no final deste ano. O projeto prevê investimentos de R$ 4 bilhões.

Segundo o MPF-RJ, uma pesquisa da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) apontou aumento dos índices de salinidade em áreas de solo e em recursos hídricos de águas doces de canais e lagoas e de água tratada para o consumo humano, no 5º Distrito de São João da Barra, em decorrência de obras realizadas pelas empresas.

De acordo com a instituição, o aumento da salinidade no solo e em águas doces implica destruição da vegetação nativa e de restinga, inutilização do solo para plantio, além de tornar impróprios, para o consumo humano e animal, mananciais de água.

Também são réus o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Ao Inea, o MPF-RJ pede a suspensão imediata das licenças de operação que tenham relação com as obras que causaram degradação, emitidas ou por emitir, em favor da EBX, da LLX e da OSX, até que os problemas constatados sejam resolvidos.

O pedido de liminar também requer a aplicação de uma multa diária, para cada réu , no valor de R$ 100 mil por descumprimento da decisão. A LLX deve se pronunciar ainda hoje sobre o assunto.

Traduzindo a notícia: Anglo American reconhece que pagou demais à MMX pelo mineroduto Rio Minas


A Agência Reuters traz hoje uma notícia assinada pela jornalista Brenda Goh (ver abaixo), onde a presidente-executiva da Anglo American reconhece o desapontamento da corporação norte-americana em relação ao aumento de custos que está ocorrendo em relação ao mineroduto Minas Rio que foi adquirido da MMX em 2008.

A matéria também traz já na sua manchete a informação de que a Anglo American tem baixa contábil de US$ 4 bilhões em relação ao projeto. Como não tinha certeza do que isso quer dizer fui consultar e cheguei à seguinte informação:

A baixa contábil é um tratamento contábil que reconhece o valor reduzido de um ativo prejudicado. Um exemplo é quando uma empresa compra outra e paga mais do que a rede de valor justo de seus ativos e passivos.

Em outras palavras, a Anglo American acaba de reconhecer que pagou demais pelo empreendimento, e que internalizou isto na forma de uma baixa no seu capital, e que agora seus executivos só esperam que o prejuízo não seja total. Aliás, eu desconfio que se a coisa continuar patinando na areia salgada do Açu, a Anglo American vai procurar imediatamente outro ponto do litoral para desovar o minério que está sendo extraído em Conceição do Mato Dentro e arredores. 


Anglo American tem baixa contábil de US$4 bi por projeto Minas Rio

29 Jan (Reuters) - A Anglo American fará uma baixa contábil de 4 bilhões de dólares referente à operação de minério de ferro Minas Rio, após atrasos e aumentos de custos terem obrigado a mineradora a elevar os desembolsos para o projeto no Brasil.

A companhia previu nesta terça-feira que o investimento no projeto Minas Rio crescerá para 8,8 bilhões de dólares.

"Estamos claramente desapontados pela diversidade de desafios que o projeto Minas Rio enfrentou ter contribuído para um aumento significante no investimento", afirmou a presidente-executiva da mineradora, Cynthia Carroll, que está prestes a deixar o cargo.

"Apesar das dificuldades, continuamos otimistas quanto à atratividade de médio e longo prazo e ao posicionamento estratégico de Minas Rio, e ainda estamos comprometidos com o projeto", acrescentou.

O Minas Rio, grande projeto de minério de ferro no Brasil, é o maior fracasso da Anglo nos últimos anos e foi o maior responsável pela queda de Carroll.

A Anglo comprou a primeira participação na Minas Rio em 2007 e assumiu controle em 2008, em um negócio de 5,5 bilhões de dólares com a MMX, companhia de mineração de Eike Batista.

(Por Brenda Goh)

Nem um minuto de silêncio: Brasil de Fato noticia a morte de Cícero Guedes

Movimento cobra rapidez na investigação de morte de líder sem-terra e ganha apoio do governo e da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Le­gislativa do Rio de Janeiro 


Vivian Virissimo,
de Campos dos Goytacazes (RJ)

Cícero Guedes, da coordenação estadual do MST e líder do acampanhamento
Luiz Maranhão, localizada em Campos de Goytacazes (RJ) 
- Foto: Marcos Pedlowski 


Cantorias, místicas e protestos mar­caram o enterro do militante do Movi­mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Cícero Guedes, no último dia 26. Autoridades, assentados e mili­tantes sociais e políticos participaram do ato em homenagem à liderança assas­sinada em emboscada com doze tiros, na madrugada de sexta-feira, em Cam­pos dos Goytacazes (RJ). “A cada com­panheiro tombado, nem um momento de silêncio, mas toda uma vida de luta”, bradavam os presentes sob forte emo­ção. Ele fazia parte da coordenação esta­dual do movimento e era líder do acam­pamento Luiz Maranhão, localizado no parque industrial da Usina Cambahyba, fazenda nacionalmente conhecida por ter servido para incineração de corpos de políticos mortos e torturados por agentes da ditadura civil-militar brasileira. 

“O grande responsável pelo assassina­to de Cícero é o latifúndio de Campos. O MST não vai abrir mão de fazer, todos os dias, a luta pela terra. É bom que todos saibam que o MST vai pressionar as au­toridades e a polícia até o dia de colocar esses bandidos assassinos na cadeia. Ti­raram a vida do Cícero, mas não vão nos amedrontar de organizar as famílias e ocupar os latifúndios improdutivos. Nós não vamos cruzar os braços e descansar até que não haja mais nenhum sem terra nessa cidade rica e de tantos trabalhado­res miseráveis. Como o Cícero sempre di­zia: ‘Rebeldia necessária pra fazer refor­ma agrária’”, defendeu Marina dos San­tos, da coordenação estadual do MST. 

Muito abalados pelas circunstâncias do crime, a companheira de Cícero, Ma­ria Luciene e os filhos garantiram que vão continuar tocando o Sítio Brava Gen­te que sempre foi referência em agroeco­logia. O filho Getúlio garantiu que a luta de Cícero pela reforma agrária segue firme e forte. “O sonho dele era ajudar todos vocês. Ele morreu por uma causa que ele sempre acreditou. Se ele estivesse aqui tenho certeza que ele gritaria: ‘MST, a luta é pra valer’”, falou Getúlio, muito aplaudido. Do velório ao último momen­to, as músicas preferidas de Cícero foram cantadas tornando tudo ainda mais co­movente. Para cobrar celeridade nas in­vestigações, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Maria do Rosário, designou o conselheiro fe­deral da Ordem dos Advogados do Bra­sil (OAB), Wadih Damous, para acompa­nhar o caso. “A situação da disputa fun­diária na região de Campos dos Goytaca­zes e São João da Barra tem sido agra­vada pela morosidade na tramitação de processo judiciais que envolvem imóveis considerados improdutivos e, portanto, passíveis de desapropriação para a refor­ma agrária”, criticou a ministra em no­ta. O representante da Ouvidoria Agrá­ria Nacional, Marcelo Nicolau, encami­nhou nesta segunda-feira (28) ofício ao delegado responsável pelo caso, Geraldo Assed, pedindo proteção às famílias, agi­lidade na investigação e se colocando à disposição para qualquer apoio que a Po­lícia Civil necessite. 

O dirigente do MST Marcelo Durão participou também nesta segunda-feira (28) de uma reunião com a chefe da Polí­cia Civil, delegada Marta Rocha, na qual esteve presente o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Le­gislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o de­putado estadual Marcelo Freixo (Psol). “A delegada assumiu o compromisso de cobrar agilidade na apuração e investi­gação dos fatos o mais rápido possível”, informou Durão. Também presente no ato e no enterro de Cícero, Freixo garan­tiu apoio do mandato para o movimen­to de forma absoluta. “No Brasil, convi­vemos com o latifúndio, com a escravi­dão e a barbárie. Em homenagem a Ci­cero vamos seguir lutando pela reforma agrária e pela dignidade desse povo”, disse Freixo. 

O ato político organizado pelo MST contou com a participação do presiden­te do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Carlos Gue­des de Guedes. “Cícero é uma perda ir­reparável para a luta da reforma agrária. Em nome do ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, e dos servi­dores públicos do Incra, garantimos que honraremos os compromissos que assu­mimos com o Cícero”, disse. A coordena­dora regional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Viviane Ramos, pediu que a reforma agrária entre na agenda polí­tica do governo. “Cícero teve que morrer para que Usina Cambahyba entrasse na agenda do governo. Esperamos que a reforma agrária seja tomada como política pública para garantir soberania alimen­tar, uma vez que são os camponeses que garantem 70% dos alimentos no Brasil”, denunciou. 

História

A história de vida de Cícero impressio­na. Pai de cinco filhos, o alagoano come­çou a trabalhar aos 8 anos como cortador de cana em situação análoga à escravi­dão. Para fugir das condições desumanas de sua terra natal, ele migra para o Rio de Janeiro mas, sem alternativas, vol­ta ao canavial para trabalhar novamente em situação semelhante à escravidão. Cí­cero e sua família só conseguem se liber­tar dessa situação quando o MST come­ça a se organizar na região para ocupar a primeira fazenda improdutiva em 1996. Seis anos depois de viver embaixo da lo­na preta, ele garante seu lote de terra no maior assentamento do estado, o Zumbi dos Palmares. “Cícero foi vítima do tra­balho escravo no nordeste do país e em Campos. Quando o movimento chega, ele se envolve na ocupação Zumbi dos Palmares. Mas depois ele vira um grande militante encampando a bandeira da reforma agrária para todos neste país. So­lidário, ele queria terra para todos, não queria só para ele”, disse a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Ana Costa, do Comitê Popular de Erradi­cação do Trabalho Escravo, do qual Cíce­ro também fazia parte. 

Referência em agroecologia, Cícero ex­trapolava os limites do assentamento e compartilhava seus conhecimentos da lida com os professores e estudantes da Universidade Estadual do Norte Flumi­nense (Uenf) e da UFF. Não era raro ele participar de atividades na universidade, nem mesmo estudantes passarem as tardes conhecendo o assentamento e em es­pecial a produção do seu pedaço de terra. “Se a universidade brasileira pretender ter o mínimo de papel transformador na realidade, ela tem que entender que fo­ra dos caminhos formais há possibilida­de de acumulação do conhecimento tam­bém e, muitas vezes, esse conhecimento se prova tão ou mais importante que o produzido na academia. Cícero era uma prova viva disso. Ele era uma pessoa in­teligente, capaz de evoluir e causar evolu­ção porque os estudantes que se aproxi­maram dele se beneficiaram muito e saí­ram pessoas mais conscientes do limite dos seus conhecimentos formais”, disse o professor do curso de Ciências Sociais da Uenf, Marcos Pedlowski. 

Cícero acompanhava todas as áre­as que estavam na luta pela terra na re­gião de Campos. Ele atuava nos diver­sos assentamentos e era responsável pe­lo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do governo federal. Na ocupação de Cambahyba, ele planejou todo o processo de organização das famílias. Cíce­ro também era organizador e entusiasta das Feiras da Reforma Agrária do MST que acontecem no Largo da Carioca, no centro do Rio, com a venda de verduras e frutas livres de agrotóxicos. “Realizar mais feiras é um desafio e desafio é pra ser cumprido. Tudo pra nós é desafio, es­tamos acostumados com essa situação. Esse negócio de veneno é uma babaqui­ce desses filhos da puta. O capitalismo é cruel e devasta tudo. Não tem esse negó­cio de remédio, é veneno mesmo e vene­no mata”, dizia. O assassinato de Cícero repercutiu internacionalmente. O MST do Rio de Janeiro recebeu notas de soli­dariedade de partidos, organizações, mo­vimentos e sindicatos de Moçambique, Espanha, México, Guatemala, Chile, Ar­gentina, Costa Rica, entre outros.

Jandira Feghali: Balas que atingiram Cícero queriam calar luta pela terra



De Jandira Feghali
Deputada federal (PCdoB-RJ)
Para O Globo


Para alguns, o alagoano Cícero Guedes dos Santos, vendedor de bananas no Norte Fluminense, era apenas mais um agricultor da região.

Para tantos outros, este mesmo simples vendedor era uma resistência de peso na região de Campos dos Goytacazes, mais precisamente na usina Cambahyba, pelas bandeiras do Movimento dos sem terra (MST) e tantas outras que ainda tentam, dentro da Justiça, requerer democraticamente seus direitos.

Seu assassinato - diversos tiros na cabeça e costas - desbrava uma terrível realidade no campo, entranhada de capítulos de uma luta injusta, que caminha esquecida aos olhos do poder público.

A simbologia da morte de Cícero deixa uma mensagem no ar: que proteção têm aqueles que lutam por justiça social? Líder de movimento popular, o moreno de bigode ralo, com fala insistente, cheio de sonhos, não está mais aqui para ecoar uma opinião, firmar sua bandeira e travar batalhas pela reforma agrária no Estado do Rio. E por quê?

O próprio Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já havia autorizado, no fim do ano passado, o assentamento das famílias que estavam presentes nas terras de um dos maiores latifúndios improdutivos do Brasil.

O complexo de sete fazendas, com 3,5 mil hectares ao todo, não produzia há 14 anos e, ainda assim, possuía um apelo negativo por ter sido palco de incinerações de corpos de 10 militantes políticos durante a ditadura civil-militar brasileira. A revelação veio até de ex-funcionários do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), como consta no livro "Memórias da uma guerra suja".

As terras de Cambahyba também são palco de denúncias graves de exploração de trabalho infantil, exploração de mão de obra escrava, falta de pagamento de indenizações trabalhistas, além de crimes ambientais. São aspectos nada relevantes para que a Justiça acelerasse o assentamento dessas famílias?

As balas que atingiram Cícero tinham uma estratégia clara. Calar o militante do MST é ceifar uma organizada campanha para assentar as mais de 100 famílias na "usina". O próprio Cícero não era beneficiário dessa luta, visto que ele fazia parte do assentamento Zumbi dos Palmares, ao norte de Campos.

O vendedor de frutas estava à frente de uma característica que o próprio poder público, responsável pela execução de suas tarefas, está mal acostumado: a vontade de realizar.
Nós, partidários de sua sede por guerrear através de sonhos, choramos sua perda tão violenta.

Embora sua ida tenha sido como um assassinato com ar de impunidade, a voz de um líder popular não pode deixar de ressoar. Seja através da Ordem dos Advogados do Brasil, pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, o grupo Tortura Nunca Mais ou o MST, vamos até o fim desta jornada que se inicia, na busca pelos culpados e por suas devidas punições.

O tombo do corpo de Cícero na terra de uma estradinha à beira da BR-356 não foi em vão. O próprio Rio de Janeiro - e o Brasil - precisa reconhecer isso, para que o medo de reivindicar não triunfe.


Ação Civil Pública do MPF pede a suspensão imediata das obras do Porto do Açu


Eu estava imaginando quando alguém no Ministério Público iria demandar a medida mais óbvia no tocante às obras do Porto do Açu em face das consequências ambientais desastrosas que as mesmas causaram no V Distrito de São João da Barra.

Agora, felizmente, surge a notícia de que o Ministério Público Federal acaba de propor uma Ação Civil Pública pedindo a interrupção imediata das obras do Porto do Açu para impedir o agravamento da situação que, aliás, já é muito grave.

Os mais céticos poderão dizer que esta medida é inócua frente ao poderio econômico do Grupo EBX e da força política que Eike Batista possui junto a todas as diferentes de governo. Por mais paradoxal que seja, a reação mais nefasta que deverá ocorrer em função dessa Ação Civil Pública impetrada pela MPF deverá vir  da bolsa de valores, onde a situação das empresas da franquia "X" já anda para lá de problemática.

Finalmente, o que fica demonstrado com todos esses desdobramentos é que não adianta tanto poderio e tanta violência contra os pobres se tudo for feito sem levar em conta o fato de que um mínimo de oposição que seja já é capaz de fazer afundar até os maiores egos. 


Ministério Público Federal pede adiamento da operação do porto de Eike Batista

ITALO NOGUEIRA DO RIO

O Ministério Público Federal em Campos (RJ) propôs ontem ação civil pública contra o grupo EBX, do empresário Eike Batista, pedindo a interrupção da dragagem do canal e o adiamento do início da operação do porto do Açu.

O pedido é consequência do inquérito que investigou a salinização das águas de rios que abastecem bairros agrícolas próximos ao porto. Estudo de pesquisadores da Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense) apontou como causa a deposição da areia dragada próximo ao local de plantações e pesca.

Segundo o estudo, a areia dragada carreou grande volume de água salgada, "contaminando" a água doce. Para os pesquisadores, o sistema de drenagem não funcionou de maneira adequada.

O MPF afirma que os pedidos visam impedir o agravamento do quadro na região. Agricultores e pescadores afirmam que suas produções foram afetadas.

A licença ambiental dada à empresa permitiu a retirada de 65 bilhões de litros de areia para a abertura de um canal do porto.

Até meados de dezembro, 49 bilhões de litros já haviam sido retirados, dos quais 31 bilhões depositados próximo à lagoa Iquipari, uma das atingidas pela salinização, segundo o estudo da Uenf.

A previsão do grupo EBX é que o porto comece a operar no segundo semestre deste ano, após sucessivos atrasos.

O Inea (Instituto Estadual do Ambiente), órgão ambiental fiscalizador, identificou problemas semelhantes. Mas afirma que foram feitas intervenções, o que teria interrompido a salinização da região.

A multa e as condicionantes ambientais para continuidade do empreendimento seriam divulgadas ontem pelo órgão, mas o anúncio foi adiado para sexta-feira.


OUTRO LADO

A LLX, empresa responsável pelo empreendimento, não comentou a ação até a conclusão desta edição. Sobre a salinização, tem afirmado que monitora a situação.

O MPF também recomendou ao grupo EBX que não altere o curso ou a vazão da água do rio Paraíba do Sul. A intervenção está prevista no relatório de impacto ambiental para uso no processo industrial da unidade termelétrica (UTE) do local.



Corpo de Bombeiros do RS é a nova Geni da mídia empresarial


Acabo de ver uma entrevista onde um representante do Corpo de Bombeiros de Santa Maria sofreu uma tentativa intensa de fritura por parte de dois entrevistadores da Rede Globo. Felizmente, o bombeiro soube manter a compostura e colocar os pingos nos is.  Afinal, agora que a tragédia se abateu, os bombeiros estão sendo cobrados como se fossem os únicos responsáveis por assegurar a segurança pública. 

Além de não ser, pois existe na legislação uma série de responsáveis por impor as normativas de segurança, os bombeiros possuem uma série de tarefas que vão muito além de inspecionar casas noturnas. E a verdade é que neste caso só não morreu mais gente porque os bombeiros responderam rapidamente com os parcos recursos que possuíam.

É esse desmanche dos corpos de bombeiros pelo país afora é que realmente deveria estar no centro  das discussões. Basta ver o caso do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro que vem respondendo a "n" catástrofes em meio a uma condição de trabalho indigna e com salários vergonhosos.



Rio Grande do Sul em dois momentos no traço de Carlos Latuff

Em meio a polêmicas quanto a uma charge feita pelo cartunista Chico Caruso sobre o incêndio da boate Kiss em Santa Maria, outro cartunista, Carlos Latuff, produziu duas charges que retratam bem duas dimensões de tragédias associadas ao fogo que, lamentavelmente, ganharam destaque totalmente desproporcional na mídia empresarial. Talvez porque incêndios em favelas já se tornaram um lugar comum nas principais cidades do Brasil, e tragicamente já foram internalizadas e naturalizadas.