A PROPOSTA DE EXPANSÃO DA UENF PARA A REGIÃO NOROESTE: ENTRE A REALIDADE E A MIRAGEM DAS PROMESSAS INCUMPRÍVEIS
Desde a cidade de Blacksburg, localizada no meio da cadeia de montanhas dos Apalaches, pude fazer uma leitura do artigo semanal do reitor da UENF que saiu publicado na Folha da Manhã. O texto, como não poderia deixar de ser, apresenta a visão do reitor e do grupo dirigente sobre a nossa ida para a região noroeste, supostamente para disseminarmos o progresso e a riqueza regional.
Tanta ambição, infelizmente, carece de elementos prático básicos. Por um lado, não há qualquer indicação de que o governo Cabral vá mudar seu percurso e começar a investir em educação. A opção deste governo é clara: apoiar os mega-eventos esportivos como Copa do Mundo e Olímpiadas e, de quebra, torrar milhões com empreiteiras. Assim, se falta um horizonte de sustentação financeira, que dizer da mais de um centenas de docentes que teriam de ser contratados para dar vazão aos sonhos expansionistas da reitoria. Das duas uma: ou essa expansão não será de cursos comparáveis ao que temos em forma presencial ou essa centena de docentes não será formada por doutores em dedicação exclusiva. Ou pior ainda: toda esta conversa não passa de uma miragem engendrada pelo governador Sérgio Cabral para cacifar eleitoralmente seus aliados políticos que hoje ocupam prefeituras ou estão candidatos a prefeitos na região noroeste fluminense.
Mas também é importante observar que a reitoria da UENF busca, até com alguma desenvoltura, criar condições políticas para fora, mas se esqueceu aparentemente de que o mais importante seria criar condições políticas internamente dentro da própria instituição. Afinal de contas, quais são os cursos que serão expandidos e por quem? Não me parece crível que novos cursos sejam criados apenas por novos docentes, e que será necessário mover docentes de Campos para cidades como Italva e Itaperuna. Quem se candidata? E uma pergunta ainda mais básica: quais são afinal os cursos que migrariam? Até hoje, nada disso foi discutido nos colegiados. Então essa expansão é para quando, se sabemos que toda criação de curso que queira dar certo demora pelo menos um ano.
Quero aproveitar para dizer que aqui na Virginia Tech, onde obtive o meu doutorado em 1997, a direção da universidade fez coisas incríveis e criou tanta infra-estrutura nova em 15 anos que ontem eu nem consegui encontrar os atalhos que me faziam andar rápido pelo campus. Aliás, os prédios novos são tantos que é difícil imaginar que os EUA estejam na crise econômica que estão. E um detalhe muito importante, mas crucial, a Virginia Tech não se reúne com prefeitos ou com o governador da Virginia para saber vontades ou decidir os caminhos de seu desenvolvimento. Quem resolve o que fazer e por onde fazer é a própria universidade e seus colegiados dirigentes. Uma coisa que deveria parecer óbvia, mas que se torna uma diferença crucial entre uma universidade localizada numa região bastante conservadora dos EUA e o que temos visto as direções das universidades estaduais fluminenses fazendo nos últimos anos.
A verdade é que reconheço a diferença entre a UENF e a Virginia Tech. Não apenas por causa dos recursos financeiros envolvidos, mas porque uma tem 18 anos incompletos e a outra tem 132 anos. Mas, será que sou eu que acha que essa coisa de partidarizar e prefeiturizar a expansão da UENF tem toda cara de tragédia anunciada?
Observei na nota da Assessoria de Comunicação da UENF que foi emitida para falar de um encontro realizado no dia 29 de Julho, cidade de Itaperuna, para tratar da proposta de expansão da UENF que determinados prefeitos enviaram apenas "representantes" ao enconro de Itaperuna. Se conheço bem como agem os políticos fluminenses, isso significa apenas que há a possibilidade de que a proposta de articular regionalmente a expansão da UENF vai encontrar opositores e não apoiadores entre os prefeitos das cidades que têm sido citadas como possíveis polos de expansão. É a velha estória do "farinha pouca, meu pirão primeiro"