sábado, 13 de agosto de 2011

EIKE BATISTA: DELÍRIO DE GÊNIO OU SIMPLESMENTE DELÍRIO?

O texto abaixo trata de entrevista data pelo duble de empresário e mega especulador financeiro Eike Batista. À primeira vista seus pontos de vista acerca da crise econômico que varre o mundo desenvolvido podem parecer até coisa de gênio. Afinal, Eike parece estar enxergando o que nenhum outro analista consegue ver. Mas, como toda resposta há que ser colocando em perspectiva em relação a quem a oferece, eu diria que Eike Batista pode estar tendo um daqueles momentos paradoxais onde pode estar tendo um delírio genial (que por consequência poderia mesmo deixando com o queijo e a faca na mão), ou simplesmente um delírio (o que por tabela por deixá-lo apenas na ruína).

Mas a leitura da entrevista também oferece alguns elementos importantes de como a fortuna de Eike Batista está sendo construída:

1. duas de suas principais empresas (a LLX e a OGX) são pré-operacionais. Trocando em miúdos, estas empresas existem apenas no papel e suas atividades são essencialmente não-produtivas, concentrando-se na venda de papéis no mercado de ações,
2. o empresário e mega-especulador aposta na manutenção do Brasil como plataforma de exportação de commodities agrícolas e minerais, apostando na manutenção do mercado interno como um nicho para produtos industrializados nacionais.  Este raciocínio estaria ótimo se, por um lado, não fizesse a economia brasileira totalmente dependente dos humores da economia mundial, e, por outro, não ignorasse que a China produz hoje qualquer coisa que seja produzida no resto do mundo de um modo que seus preços batem qualquer competidor externo.

Agora, o principal equívoco de Eike Batista é de subestimar a gravidade da crise nos países ricos, especialmente nos EUA. Se eu fosse Eike, daria um passeio pelas cidades norte-americanas e conversaria com as pessoas comuns. Talvez dai pudesse enxergar melhor o que está acontecendo, e se livraria dos perigos que acompanham os delírios causados pelo modo de vida insular que os detentores das grandes fortunas levam. 

Ah! Mas do que eu estou falando, como Eike vive no Rio de Janeiro, bastaria que fosse dar um passeio na região da central do Brasil para sentir como a banda realmente toca.  Como prefere apenas chamar de idiotas aqueles que apontam as dificuldades atuais a que suas empresas estão submetidas, já se vê que o ex-marido de Luma de Oliveira prefere mesmo se manter em delírio e, de quebra, levar governantes prestativos pelo mesmo caminho.  Infelizmente, ao fazer isto, Eike pode estar condenando todos nós a um futuro pouco animador. A ver.




'Meus ativos são à prova de idiotas'



Com as fortes quedas no valor de suas ações, as empresas do grupo EBX acumulam perdas de cerca de R$ 32 bilhões desde o início do ano. Na última sexta-feira, elas valiam, juntas, R$ 58 bilhões, segundo dados da Economática. Como tem entre 60% e 75% das companhias, o empresário Eike Batista, que controla o grupo, viu evaporar menos R$ 19 bilhões de sua fortuna em 2011, dos quais R$ 5,2 bilhões apenas este mês. Mas Eike diz não ter perdido o sono e que está rindo da crise. Ele garante que manterá os investimentos de US$ 15 bilhões até 2012 e estima que seu império vai gerar caixa de US$ 15 bilhões até 2015. Hoje, como a maior parte das companhias é pré-operacional, a geração de caixa não chega a US$ 1 bilhão. Eike diz que seu principal trunfo é o baixo custo de produção das empresas. "Os meus ativos são à prova de idiotas", diz o empresário. Ele aposta que sua EBX, focada em petróleo, energia, minério de ferro, construção naval e logística, será a "Apple do Brasil".

O GLOBO: Só neste mês, o senhor perdeu cerca de R$ 5 bilhões com a desvalorização das ações que detém do grupo EBX. Isso não tira seu sono?
EIKE BATISTA: Não. Como minhas companhias produzem matéria-prima e (constroem) infraestrutura a baixíssimo custo, minhas margens são muito altas. Elas vão gerar maciços dividendos. Então, por que eu não vendo (as ações)? Estimamos que as empresas do grupo vão gerar US$ 1 bilhão de caixa em 2012. No ano seguinte, serão US$ 2,5 bilhões. Em 2014, vamos para US$ 7,5 bilhões e, em 2015, para US$ 15 bilhões. Tenho entre 60% e 75% das empresas, você pode fazer seu cálculo. Muita gente prefere colocar dinheiro na poupança para ter um retorno de 6%. As minhas companhias são uma espécie de poupança, mas com retorno gigante. Um negócio desse você não vende.

O GLOBO: Mas suas empresas trabalham com 'commodities', que estão sujeitas a oscilações internacionais...
EIKE: O Brasil está numa posição muito, muito especial. Eu vou produzir petróleo a US$ 18 (o barril). Pergunta se eu estou preocupado se ele está caindo de US$ 100 para US$ 90. Se cair para US$ 80, tudo bem, who cares (quem se importa, em inglês)? Meu custo de produção de minério de ferro é de US$ 29. O minério chegou a mais de US$ 170 em meio à crise, subiu de preço. Meus ativos são à prova de idiotas porque são muito ricos.

O GLOBO: Da mesma forma que a S&P rebaixou a nota de crédito dos EUA, o senhor não tem medo de ser rebaixado na lista dos mais ricos da revista "Forbes"? (Eike ocupa a oitava posição)
EIKE: Não, porque todo mundo vai baixar junto, né? Quando a maré baixa, mademoiselle, os barcos bonitos, os iates de alto luxo e as canoas baixam.

O GLOBO: O senhor trabalha com um cenário de recessão mundial?
EIKE: Claro que a economia americana não vai crescer mais 3%. Talvez cresça 0,5% ou 1%. A Europa, idem. Mas no Brasil estamos vivendo uma inflação de demanda. Não tem engenheiro, não tem marceneiro. O valor da execução dos projetos (de infraestrutura) estava subindo muito. Então, é um benefício extraordinário para o Brasil que o mundo lá fora não esteja bombando. Vai sobrar gente para eu continuar contratando. Dei um aumento de 8,5% em plena crise para os meus funcionários porque o pessoal está vindo aqui pegar gente da minha empresa.

O GLOBO: Mas os indicadores econômicos americanos estão ruins...
EIKE: Duas indústrias vitais americanas levaram um tiro no coração, o setor imobiliário e o automotivo, que empregam muita gente. Então, estruturalmente, eles vão ter que conviver com desemprego alto. Agora, se eles crescerem 0,5% ou 1%, o mundo não vai acabar. Eles vão ter que passar pelo que nós, brasileiros, passamos entre 1985 e 2000. Tivemos que fazer nosso Proer (programa que socorreu bancos no governo Fernando Henrique) e apertar o cinto. Eles vão ter que passar por isso, a Europa ainda mais.

O GLOBO: De onde virá o crescimento mundial que compensará a desaceleração americana?
EIKE: Existe um mundo que não parou de crescer. Casos de China, Brasil, nossos vizinhos, Malásia, Tailândia. Esses países que não pararam de crescer vão gerar quase 30 milhões de empregos nos próximos anos.

O GLOBO: O senhor acredita, então, que a crise global no Brasil será uma marolinha como disse em 2008 o então presidente Lula?
EIKE: A gente só exporta 10% do nosso PIB. Os preços dos alimentos vão continuar altos. O Brasil tem a sorte de ter o que o mundo necessita, e a demanda por esses produtos não vai baixar. Está todo mundo chamando esse negócio de crise aí fora. Vamos crescer 3% em vez de 4%, e daí? Para conter a inflação, o governo teve que subir os juros para 12,5%, os mais altos do mundo. Isso tem consequências, mas pode ser calibrado depois. O Brasil é um dos únicos países em que o governo teve que usar uma ferramenta tradicional para frear a economia num momento de crise, porque está tudo pegando fogo.

O GLOBO: O que o senhor pensa da nova política industrial?
EIKE: É um espetáculo, o maior patrimônio de um país é seu consumidor. São felizes as medidas que privilegiam conteúdo nacional. Vamos defender nossa indústria, mesmo que custe um pouco mais caro.

O GLOBO: O senhor vai manter os investimentos do grupo EBX mesmo com a crise?
EIKE: Estamos mantendo os investimentos de US$ 15,5 bilhões para os próximos dois anos, não estamos parando nada. Hoje temos US$ 10 bilhões em caixa. Temos dinheiro para cumprir todos os nossos programas até começarmos a gerar caixa. Eu estou rindo, né.

O GLOBO: Esta semana duas de suas empresas divulgaram prejuízos, a LLX (de logística) e a OGX (de petróleo). O desempenho delas não pode ser afetado por um agravamento da crise?
EIKE: Elas são pré-operacionais. Quando você está investindo, só tem prejuízo. A MMX (mineração), que já começou a operar, teve um lucro de R$ 90 milhões no segundo trimestre. Sabia que a Google ficou sete anos perdendo dinheiro? A Apple, até hoje as pessoas se perguntam: será que eles vão cumprir as metas de vendas de iPads? Você não cria o tamanho das coisas que nós criamos sem disciplina financeira. Estou zero alavancado, não brinco com derivativos.
O GLOBO: A EBX vai ser a Apple do Brasil?
EIKE: Ah, se prepara, for sure.